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quarta-feira, 26 de abril de 2023

IPP tem abrandado, sendo um indicador “leading” para o IPC

 


O índice de preços no produtor (IPP) tem desacelerado substancialmente nas economias avançadas, sobretudo nos principais blocos económicos globais, EUA e Zona Euro, sendo um indicador avançado leading indicator fidedigno para a evolução futura do índice de preços no consumidor (IPC).

O IPP nos EUA iniciou a sua subida ainda no final de 2020, impulsionado pelas dificuldades nas cadeias de abastecimento (bottlenecks) ditadas pelo confinamento global imposto pela pandemia, e acelerou a sua alta ao longo de 2021, tendo em março de 2022 atingido o seu ponto mais elevado e começado, deste então, a desacelerar. O IPC norte-americano iniciou o seu abrandamento três meses mais tarde, em junho de 2022, evidenciando um desfasamento de três meses. Tendo em conta os últimos 12 anos, o IPP e o IPC nos EUA têm tido valores muito similares e uma trajetória muito semelhante, mas, no entanto, o IPP mostra um comportamento líder, tendo iniciado a subida em janeiro de 2021, meses antes do IPC (inflação no consumidor), este último iniciou o seu agravamento em março ou abril de 2021, corroborando um desfasamento de dois ou três meses. Entretanto, a atual e gradual desaceleração do IPP, tendo-se fixado em 2,7% em março de 2023, promete indiciar uma tendência de abrandamento mais acentuada do IPC nos EUA nos próximos meses, ainda de 5% em março (a inflação homóloga). Essa desaceleração será tanto mais visível quanto maior for a probabilidade de agravamento da atividade e eventual recessão económica. Entretanto, o IPC core, que exclui energia e alimentação, tem um desfasamento ainda maior, tendo sido o último indicador de inflação a iniciar a sua subida, um ou dois meses depois do IPC e três ou quatro meses depois do IPP, atingindo o seu ponto mais elevado nos 6,6% em setembro do ano passado e, desde então, tem desacelerado muito ligeiramente, mantendo-se muito resiliente. De salientar que a categoria shelter tem um peso substancial no IPC core norte-americano, pesando aproximadamente 42%, enquanto que no IPC responde por cerca de um terço do índice. Ou seja, a subida do preço do shelter (rendas de casas que os inquilinos pagam e o valor a que os proprietários de casas estariam dispostos a arrendá-las) tem-se mantido resiliente, impulsionado pela subida do preço do imobiliário e, consequente, dinâmica de alta das rendas nos 12 a 18 meses seguintes, estando atualmente muito provavelmente perto da sua inversão, podendo descer substancialmente nos próximos meses se a economia dos EUA entrar em recessão (o shelter tem habitualmente uma variação nula em recessão), trazendo o IPC core para junto da sua tendência normal nas últimas décadas em torno dos 2%, objetivo de estabilidade de preços dos bancos centrais das economias avançadas.

Na Alemanha, a principal economia da Zona Euro e um barómetro para a evolução da política monetária do BCE, a inflação mantém-se ainda resiliente, tendo o IPC desacelerado pouco e o IPC core fixou um novo máximo histórico de 5,9% em março, impulsionado pela generalização da inflação a toda a economia, sobretudo aos serviços nos últimos meses, depois de ter acelerado há um ano pelos efeitos nefastos da guerra na Ucrânia. No entanto, o substancial abrandamento da inflação no produtor (IPP) na Alemanha para 7,5% em março, após ter atingido 45,8% em agosto do ano passado, promete inverter a tendência de alta da inflação germânica e trazê-la de volta aos 2%.

Os cheques pandémicos de ajuda do governo dos EUA deram força a que uma inflação, inicialmente apenas do lado da oferta devido aos bottlenecks, passasse a ser também do lado da procura. Na Zona Euro a inflação sempre foi quase exclusivamente do lado da oferta e impulsionada pela guerra na Ucrânia. Entretanto, o BCE faz o seu trabalho de alta dos juros, mas arrisca-se visível e gradualmente a condenar a economia da Zona Euro a uma recessão nos próximos trimestres e a um crescimento anémico nos próximos anos. E os decisores políticos da Zona não parecem muito preocupados com uma recessão, aparentando também alguma tranquilidade quanto à inflação, não tendo sido visível e evidente o esforço e o empenho dos governos e restantes autoridades no combate aos carteis e açambarcamentos. Decididamente, não se enfrenta uma inflação, sobretudo do lado da oferta, apenas com a alta dos juros, tendo também as restantes autoridades um papel muito importante para travar a alta dos preços. Ou seja, a elevada inflação parece ter agradado a todos os governos europeus. A maior propensão à poupança das populações do norte da Europa tem beneficiado com taxas de juro mais elevadas e os rácios da dívida pública dos endividados governos dos países do sul da Europa têm sido favorecidos com a elevada inflação. 

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Naturalidade Angolana
Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.