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sexta-feira, 21 de abril de 2023

O que nos reservam os próximos meses?

 



A economia norte-americana iniciou o primeiro trimestre do ano robusta. Em janeiro a taxa de desemprego desceu para os 3,4%, o número mais baixo desde maio de 1969, tendo a economia dos EUA criado mais de 500 mil postos de trabalho. A taxa de inflação manteve a sua tendência de desaceleração, mas o ritmo de descida tem abrandado, sobretudo a inflação subjacente homóloga (excluindo energia e alimentação), tendo descido para os 5,5% em fevereiro, de 6,6% em setembro do ano passado, máximo das últimas quatro décadas. A inflação “headline” homóloga caiu do máximo de 9,1% em junho de 2022 para 6% em fevereiro.

Entretanto, a expectativa para o crescimento do PIB norte-americano, nomeadamente o GDP Now publicado no “site” da Reserva Federal de Atlanta, tem descido consideravelmente nas últimas semanas, caindo de 3,5% em meados de março para 1,7% no dia 3 de abril. A rubrica consumo privado tem sido a mais penalizada, corroborando uma deterioração crescente da propensão ao consumo dos norte-americanos, depois do colapso do Silicon Valley Bank. Ou seja, à medida que os receios de uma crise bancária diminuem, aumentam agora as probabilidades de uma recessão, evidenciadas por um eventual e gradual aperto do crédito nos próximos meses, aliado a uma provável retração do consumidor, habitual após uma crise bancária. E se nos terceiro e quarto trimestres de 2022, a procura externa e o investimento, respetivamente, alicerçaram o PIB, agora, no primeiro trimestre de 2023, tem sido o consumo a principal variável a impulsionar o PIB, mas, provavelmente, tenderá a diminuir o seu contributo nos próximos meses.

O declive negativo da curva de rendimentos do tesouro norte-americano e as expectativas de três cortes de 25 pontos base das taxas de juro da Reserva Federal dos EUA (Fed Funds Rate) no segundo semestre, de acordo com a Ferramenta CME FedWatch da bolsa de derivados de Chicago, indiciam também uma recessão económica. Entretanto, no passado dia 22 de março, o banco central dos EUA, no seu “Outlook” trimestral, reviu em baixa a sua projeção de crescimento do PIB em 2023 para 0,4%, esperando uma taxa de desemprego de 4,5% e uma taxa de inflação de 3,3% medida pelo PCE “core”, revista em alta de 3,1% em dezembro.

Os Jobless Claims corroboram um robusto mercado de trabalho, devendo permanecer abaixo dos 250 mil enquanto a atividade empresarial não se deteriorar e os empresários não sentirem necessidade de intensificar os despedimentos. Todavia, ao antecipar uma alta da taxa de desemprego dos atuais 3,6% para os 4,5% previstos para 2023, a Reserva Federal dos EUA (Fed) espera implicitamente uma deterioração dos pedidos de subsídio de desemprego. 

No último trimestre de 2022, a economia da Zona Euro cresceu 0,3%, afastando os receios de uma contração económica no início do inverno. Mas à medida que o final do inverno se aproxima e os receios de uma crise energética se dissipam, crescem agora as preocupações quanto à evolução do sentimento do consumidor, tendo a confiança descido no mês de março para -19,2, enquanto a atividade empresarial apresenta comportamentos díspares (em março, o sentimento da atividade na indústria, medida pelo PMI, continua a deteriorar-se, caindo para 47,3, em território de contração, mas a confiança dos serviços na Zona Euro aumentou para 55,6).
A economia alemã não evitou a forte desaceleração, contraindo 0,4% no último trimestre do ano passado e o PMI industrial em março caiu para o valor mais baixo desde junho de 2020. Porém, o sentimento económico germânico, medido de instituto alemão Ifo, melhora consecutivamente desde outubro do ano passado.

Quanto à inflação, os efeitos base refletem uma melhoria, tendo a variação homóloga do índice de preços no consumidor de Espanha, em março, descido para 3,1% de 6% no mês anterior, mas a inflação subjacente mantém-se ainda elevada e persistente. Na Alemanha, o índice de preços no consumidor permanece alto, nos 7,4% em março, sendo uma preocupação acrescida para o Banco central Europeu (BCE), podendo determinar mais uma alta de 25 pontos base na próxima reunião de 4 de maio.     

Entretanto, os membros da OPEP+ acordaram no dia de 2 abril um corte na produção de 1,66 milhões de barris diários, prometendo esta decisão dificultar o trabalho da Fed e do BCE na tentativa de ancorarem novamente as expectativas para a inflação junto do objetivo de estabilidade de preços de 2%. 

A economia chinesa, apesar da reabertura no início de janeiro, continua vulnerável, confirmando a projeção pouco ambiciosa do governo chinês de um crescimento económico à volta de 5% em 2023. O PMI Industrial Caixin caiu em março para 50 pontos. Mas a inflação baixa permite ao Banco Popular da China (PBoC) estimular a economia, adotando políticas monetárias expansionistas.  

PMR in VE 4 abril 2023



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.