A economia norte-americana
iniciou o primeiro trimestre do ano robusta. Em janeiro a taxa de desemprego
desceu para os 3,4%, o número mais baixo desde maio de 1969, tendo a economia
dos EUA criado mais de 500 mil postos de trabalho. A taxa de inflação manteve a
sua tendência de desaceleração, mas o ritmo de descida tem abrandado, sobretudo
a inflação subjacente homóloga (excluindo energia e alimentação), tendo descido
para os 5,5% em fevereiro, de 6,6% em setembro do ano passado, máximo das
últimas quatro décadas. A inflação “headline”
homóloga caiu do máximo de 9,1% em junho de 2022 para 6% em fevereiro.
Entretanto, a expectativa para o crescimento do PIB
norte-americano, nomeadamente o GDP Now publicado no “site” da Reserva Federal de Atlanta, tem descido consideravelmente
nas últimas semanas, caindo de 3,5% em meados de março para 1,7% no dia 3 de
abril. A rubrica consumo privado tem sido a mais penalizada, corroborando uma
deterioração crescente da propensão ao consumo dos norte-americanos, depois do
colapso do Silicon Valley Bank. Ou seja, à medida que os receios de uma crise
bancária diminuem, aumentam agora as probabilidades de uma recessão, evidenciadas por um eventual e gradual
aperto do crédito nos próximos meses, aliado a uma provável retração do
consumidor, habitual após uma crise bancária. E se nos terceiro e quarto trimestres de 2022, a
procura externa e o investimento, respetivamente, alicerçaram o PIB, agora, no primeiro
trimestre de 2023, tem sido o consumo a principal variável a impulsionar o PIB,
mas, provavelmente, tenderá a diminuir o seu contributo nos próximos meses.
O declive negativo da curva de rendimentos do tesouro
norte-americano e as expectativas de três cortes de 25 pontos base das taxas de
juro da Reserva Federal dos EUA (Fed Funds Rate) no segundo semestre, de acordo
com a Ferramenta CME FedWatch da bolsa de derivados de Chicago, indiciam também
uma recessão económica. Entretanto, no passado dia 22 de março, o banco central
dos EUA, no seu “Outlook” trimestral,
reviu em baixa a sua projeção de crescimento do PIB em 2023 para 0,4%,
esperando uma taxa de desemprego de 4,5% e uma taxa de inflação de 3,3% medida
pelo PCE “core”, revista em alta de
3,1% em dezembro.
Os Jobless Claims corroboram um robusto mercado de
trabalho, devendo permanecer abaixo dos 250 mil enquanto a atividade
empresarial não se deteriorar e os empresários não sentirem necessidade de
intensificar os despedimentos. Todavia, ao antecipar uma alta da taxa de
desemprego dos atuais 3,6% para os 4,5% previstos para 2023, a Reserva Federal
dos EUA (Fed) espera implicitamente uma deterioração dos pedidos de subsídio de
desemprego.
No último trimestre de 2022, a economia da Zona Euro
cresceu 0,3%, afastando os receios de uma contração económica no início do
inverno. Mas à medida que o final do inverno se aproxima e os receios de uma
crise energética se dissipam, crescem agora as preocupações quanto à evolução
do sentimento do consumidor, tendo a confiança descido no mês de março para
-19,2, enquanto a atividade empresarial apresenta comportamentos díspares (em
março, o sentimento da atividade na indústria, medida pelo PMI, continua a
deteriorar-se, caindo para 47,3, em território de contração, mas a confiança
dos serviços na Zona Euro aumentou para 55,6).
A economia alemã não evitou a forte desaceleração, contraindo 0,4% no último
trimestre do ano passado e o PMI industrial em março caiu para o valor mais
baixo desde junho de 2020. Porém, o sentimento económico germânico, medido de
instituto alemão Ifo, melhora consecutivamente desde outubro do ano passado.
Quanto à inflação, os efeitos base refletem uma
melhoria, tendo a variação homóloga do índice de preços no consumidor de
Espanha, em março, descido para 3,1% de 6% no mês anterior, mas a inflação
subjacente mantém-se ainda elevada e persistente. Na Alemanha, o índice de
preços no consumidor permanece alto, nos 7,4% em março, sendo uma preocupação
acrescida para o Banco central Europeu (BCE), podendo determinar mais uma alta
de 25 pontos base na próxima reunião de 4 de maio.
Entretanto, os membros da OPEP+ acordaram no dia de 2
abril um corte na produção de 1,66 milhões de barris diários, prometendo esta
decisão dificultar o trabalho da Fed e do BCE na tentativa de ancorarem
novamente as expectativas para a inflação junto do objetivo de estabilidade de
preços de 2%.
A economia chinesa, apesar da reabertura no início de
janeiro, continua vulnerável, confirmando a projeção pouco ambiciosa do governo
chinês de um crescimento económico à volta de 5% em 2023. O PMI Industrial
Caixin caiu em março para 50 pontos. Mas a inflação baixa permite ao Banco
Popular da China (PBoC) estimular a economia, adotando políticas monetárias
expansionistas.
PMR in VE 4 abril 2023
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