Nasdaq 100 em máximo dos últimos 10 meses e DAX alemão muito
perto da alta histórica de 16290 pontos no dia 18 de novembro de 2021
O dólar tem-se mantido resiliente nas últimas semanas,
impulsionado em parte pela subida dos juros soberanos dos EUA. O rendimento do
tesouro norte-americano a dois anos subiu de 3,65% no dia 4 de maio para os
atuais 4,23%, sustentando a alta do dólar, tendo o “Dollar Index” valorizado
quase 3% desde essa altura. No entanto, e ao contrário das obrigações que têm
sido penalizadas nas últimas semanas, os mercados acionistas têm conseguido
registar gradualmente um crescimento relativamente sustentável, sobretudo as
big tech, mas não só. Também os setores mais cíclicos têm recuperado nos
últimos dias, inclusive o índice da banca regional norte-americana, o KBW,
obtendo na passada quarta-feira o maior ganho diário desde 6 de janeiro,
corroborando uma crescente melhoria do comportamento em bolsa dos títulos do
setor bancário e um recuo dos receios, após o colapso em março.
Depois de mais de um ano de correlação positiva entre ações
e obrigações, tendo ambas as classes de ativos sido substancialmente
penalizadas pela subida da inflação e, consequentemente, pela alta dos juros,
há atualmente uma descorrelação entre a evolução das obrigações e das ações,
estando os investidores cada vez mais focados no crescimento económico e menos
na inflação. Então, uma alta dos juros tem sido, atualmente, interpretada como
um sinal de crescimento económico resiliente, beneficiando as ações, na
esperança de melhores resultados, mas penaliza os títulos soberanos. É certo
que esta subida se deve maioritariamente à excelsa evolução das FAAMG (Meta,
Amazon, Apple, Microsoft e Alphabet) desde o início do ano, tendo sido
impulsionadas em boa parte pela visível e gradual maior democratização da
inteligência artificial (IA) no final do ano passado, um impulso mais tangível
para o crescimento económico suportado por este considerável avanço tecnológico
na melhoria das relações laborais, não sendo uma ameaça ao emprego como um
todo. O mais provável é que não seja a IA a afastar o ser humano do mercado do
trabalho, mas os seres humanos que utilizam IA possivelmente a terem mais
sucesso no mercado de trabalho do que aqueles que a não utilizam.
Entretanto, o GDP Now publicado no site da Reserva Federal
de Atlanta antecipa, atualmente, uma subida de 2,9% do PIB norte-americano no
presente segundo trimestre, sendo impulsionado em grande medida pelo mercado de
trabalho e pela melhoria do setor da construção residencial norte-americana.
Ainda esta semana, os pedidos de subsídio de desemprego nos EUA, os Jobless
Claims, caíram cerca de 22 mil solicitações em relação à semana anterior,
ditando novamente um mercado de trabalho ainda relativamente resiliente e capaz
de suportar a economia e os resultados das empresas.
E sendo os índices acionistas nominais e tendo o PIB nominal
nos EUA crescido substancialmente no ano passado, mais precisamente 9,2%,
seguindo essa tendência este ano, a trajetória é de melhoria dos resultados das
empresas mesmo que as margens operacionais se mantenham (um aumento da receita
e dos custos operacionais em 10%, implica uma alta dos lucros operacionais em
10%, apesar de a margem se manter). Também em virtude da elevada liquidez das
empresas, conseguida na última década e ditada pela política monetária enérgica
expansionista da Fed, tendo ainda muitas empresas não sido sujeitos à renovação
da sua dívida vencida por novas emissões aos atuais juros, os encargos
financeiros de financiamento das empresas ainda não sofreram aumentos
substanciais. E mesmo aquelas empresas que renovaram a dívida têm conseguido
absorver esse aumento dos custos pelo aumento nominal do PIB devido à inflação.
Todavia, os resultados das empresas vão também depender da
resiliência do consumidor ao aumento dos juros e à gradual deterioração do seu
rendimento disponível. A quase perfeita correlação entre ações e obrigações
ocorreu durante mais de um ano, mas o primeiro flight to quality (refúgio nas
obrigações e venda de ações) apareceu em março, num momento de stress
financeiro, representando o início da descorrelação. Agora, diante de alguma
acalmia, o dinheiro regressa às ações, sobretudo às tecnológicas, apesar da
alta dos juros. Um contexto de inflação e crescimento económico é mais
favorável para as ações, sendo estas uma melhor aposta do que as obrigações.
PMR In JE 18/05/2023
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