Since December 25th, 2010

Translate

sexta-feira, 19 de maio de 2023

Índices acionistas perto de máximos


Nasdaq 100 em máximo dos últimos 10 meses e DAX alemão muito perto da alta histórica de 16290 pontos no dia 18 de novembro de 2021

O dólar tem-se mantido resiliente nas últimas semanas, impulsionado em parte pela subida dos juros soberanos dos EUA. O rendimento do tesouro norte-americano a dois anos subiu de 3,65% no dia 4 de maio para os atuais 4,23%, sustentando a alta do dólar, tendo o “Dollar Index” valorizado quase 3% desde essa altura. No entanto, e ao contrário das obrigações que têm sido penalizadas nas últimas semanas, os mercados acionistas têm conseguido registar gradualmente um crescimento relativamente sustentável, sobretudo as big tech, mas não só. Também os setores mais cíclicos têm recuperado nos últimos dias, inclusive o índice da banca regional norte-americana, o KBW, obtendo na passada quarta-feira o maior ganho diário desde 6 de janeiro, corroborando uma crescente melhoria do comportamento em bolsa dos títulos do setor bancário e um recuo dos receios, após o colapso em março.

Depois de mais de um ano de correlação positiva entre ações e obrigações, tendo ambas as classes de ativos sido substancialmente penalizadas pela subida da inflação e, consequentemente, pela alta dos juros, há atualmente uma descorrelação entre a evolução das obrigações e das ações, estando os investidores cada vez mais focados no crescimento económico e menos na inflação. Então, uma alta dos juros tem sido, atualmente, interpretada como um sinal de crescimento económico resiliente, beneficiando as ações, na esperança de melhores resultados, mas penaliza os títulos soberanos. É certo que esta subida se deve maioritariamente à excelsa evolução das FAAMG (Meta, Amazon, Apple, Microsoft e Alphabet) desde o início do ano, tendo sido impulsionadas em boa parte pela visível e gradual maior democratização da inteligência artificial (IA) no final do ano passado, um impulso mais tangível para o crescimento económico suportado por este considerável avanço tecnológico na melhoria das relações laborais, não sendo uma ameaça ao emprego como um todo. O mais provável é que não seja a IA a afastar o ser humano do mercado do trabalho, mas os seres humanos que utilizam IA possivelmente a terem mais sucesso no mercado de trabalho do que aqueles que a não utilizam.

Entretanto, o GDP Now publicado no site da Reserva Federal de Atlanta antecipa, atualmente, uma subida de 2,9% do PIB norte-americano no presente segundo trimestre, sendo impulsionado em grande medida pelo mercado de trabalho e pela melhoria do setor da construção residencial norte-americana. Ainda esta semana, os pedidos de subsídio de desemprego nos EUA, os Jobless Claims, caíram cerca de 22 mil solicitações em relação à semana anterior, ditando novamente um mercado de trabalho ainda relativamente resiliente e capaz de suportar a economia e os resultados das empresas.

E sendo os índices acionistas nominais e tendo o PIB nominal nos EUA crescido substancialmente no ano passado, mais precisamente 9,2%, seguindo essa tendência este ano, a trajetória é de melhoria dos resultados das empresas mesmo que as margens operacionais se mantenham (um aumento da receita e dos custos operacionais em 10%, implica uma alta dos lucros operacionais em 10%, apesar de a margem se manter). Também em virtude da elevada liquidez das empresas, conseguida na última década e ditada pela política monetária enérgica expansionista da Fed, tendo ainda muitas empresas não sido sujeitos à renovação da sua dívida vencida por novas emissões aos atuais juros, os encargos financeiros de financiamento das empresas ainda não sofreram aumentos substanciais. E mesmo aquelas empresas que renovaram a dívida têm conseguido absorver esse aumento dos custos pelo aumento nominal do PIB devido à inflação.

Todavia, os resultados das empresas vão também depender da resiliência do consumidor ao aumento dos juros e à gradual deterioração do seu rendimento disponível. A quase perfeita correlação entre ações e obrigações ocorreu durante mais de um ano, mas o primeiro flight to quality (refúgio nas obrigações e venda de ações) apareceu em março, num momento de stress financeiro, representando o início da descorrelação. Agora, diante de alguma acalmia, o dinheiro regressa às ações, sobretudo às tecnológicas, apesar da alta dos juros. Um contexto de inflação e crescimento económico é mais favorável para as ações, sendo estas uma melhor aposta do que as obrigações.

 
PMR In JE 18/05/2023



Sem comentários:

Enviar um comentário

Arquivo do blogue

Seguidores

Economista

A minha foto
Naturalidade Angolana
Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.