No passado mês de outubro, depois de três trimestres de
quedas, os mercados acionistas regressaram às subidas, mas, durante esse mês, a
luta entre investidores otimistas que apostam numa tendência de alta do mercado
(touros) e investidores que acreditam numa tendência de baixa do mercado (ursos)
foi intensa. Entretanto, os mercados acionistas subiram cerca de 20% nos
últimos seis meses, nomeadamente o Nasdaq 100, o Stoxx 600 e o Dax alemão,
destacando-se o CAC 40 com uma ganho de quase 30%, tendo o S&P 500 ficado aquém
com alta de 18%.
O mercado antecipa mais uma subida de 25 pontos base
pela Reserva Federal dos EUA (Fed) no dia 3 de maio, refletida por uma
probabilidade de 87,5% de acordo com os futuros negociados na bolsa de
derivados de Chicago, para o intervalo de [5% a 5,25%]. No entanto, talvez o
banco central dos EUA devesse fazer uma pausa neste momento e avaliar a
tendência da economia e da inflação, bem como a estabilidade do sistema
bancário. Tendo em consideração de que o banco central dos EUA tende em não
dececionar o mercado, a alta de 25 pontos é quase uma realidade, mas seria provável
que a Fed não aumentasse os juros se a atual reunião de política monetária se
realizasse mais tarde, daqui a algumas semanas, tendo em conta as fragilidades
novamente evidenciadas no início da semana pelo sistema bancário
norte-americano, sobretudo o regional, nomeadamente o First Republic. Este
banco regional acabou por ser comprado pelo JPMorgan, numa tentativa de
resolução e estabilização do setor bancário. Em boa verdade, aumenta cada vez
mais o risco de a Fed errar por excesso de zelo na sua luta contra a inflação,
intensificando, assim, os receios de instabilidade no sistema bancário e no
setor imobiliário, sobretudo comercial, aumentando também as dificuldades das
empresas, deterioração do rendimento das famílias, acentuando a ameaça de uma
recessão e aparecimento de eventuais “cisnes negros”. É certo de que existe
um desfasamento entre a subida das taxas de juro e a transmissão dessa alta à
economia, dependendo do vencimento dos créditos obtidos, depois de mais de uma
década de crédito fácil e barato, podendo os prazos estarem mais dilatados do
que o normal. Entretanto, os rendimentos do tesouro norte-americano a 2 anos
desceram cerca de 20 pontos base na terça-feira, refletindo as dificuldades do
sistema bancário regional dos EUA e os receios dos investidores quanto à sua
evolução e às repercussões indesejáveis na economia dos EUA, tendo, no
seguimento deste desenvolvimento, aumentado as expetativas de descida das taxas
de juro nas três últimas reuniões da Fed em 2023, no dia 20 de setembro, 1 de
novembro e 13 de dezembro, esperando-se agora um corte de um quarto de ponto em
cada uma, terminando o ano no intervalo [4,25% a 4,50%]. Ou seja, não faz muito
sentido a Fed estar a aumentar atualmente as Fed Funds Rate em mais 25 pontos
base para iniciar um ciclo de descidas de juros daqui a três ou quatro meses.
Em 2024, nas 8 reuniões ordinárias habituais num ano, o mercado antecipa 6
cortes consecutivos de 25 pontos em cada uma das seis primeiras reuniões,
finalizando o ano de 2024 no intervalo [2,25% a 3%].
Se a crise bancária e uma eventual recessão, bem como
as elevadas taxas de juro, diminuindo ou mesmo anulando o “equity premium
risk”, são os principais pontos a favor de um mercado acionista de baixa,
suportando a postura dos investidores “bear” (designa-se de urso, porque
este animal ataca de cima para baixo), já o aumento substancial do PIB nominal
nos últimos trimestres, tendo nos EUA subido 9,2% em 2022, apesar de o PIB real
ter crescido apenas 0,9%, e a perspetiva de reversão do ciclo da alta dos juros
no segundo semestre, são pontos favoráveis a um mercado de alta, alicerçando as
expetativas dos investidores “bull” ( designa-se de touro, porque este
animal ataca de baixo para cima).
Os índices acionistas são nominais e tendem a acentuar
as valorizações quanto mais elevados forem os lucros e menores forem as taxas
de juro (geopolítica estável e ausência de incertezas). Como o PIB nominal nos
EUA subiu quase 10% em 2022, as receitas das empresas também tenderam a crescer
em média 10% e os seus lucros, desde que as margens se tenham mantido estáveis,
também subiram 10%, possibilitando uma valorização em bolsa de 10% (tendo em conta
um juro estável). Uma empresa com uma margem de 10% em 2021, sendo as receitas
de 1100 unidades monetárias (u.m.) e os custos de 1000 u.m., se manteve a mesma
margem em 2022, as receitas aumentaram para 1210 u.m. e os custos para 1100
u.m., subindo o lucro em 10% de 100 para 110 u.m. Uma recessão diminui as
receitas das empresas, mas alivia os seus encargos financeiros de financiamento,
podendo ou não compensar a quebra de receita, dependendo, em parte, se se trata
de uma empresa mais “growth” ou mais “value”. Os ursos podem
vencer os touros se no futuro a queda da inflação e do juro ou um discurso
menos “hawkish” ou mesmo “dovish” da Fed for percecionado como
negativo pelo mercado, dando o investidor maior relevância à recessão económica
e menor importância à queda do juro para estimular a economia. Texto escrito a
3 maio 2023, antes da reunião da Fed
PMR in VE 3 de maio de 2023
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