A inflação homóloga norte-americana desacelerou para
4,9% em abril, o valor mais baixo dos últimos dois anos. No índice de preços no
consumidor (IPC), a rubrica custos com moradia, representando cerca de um terço
do peso do IPC e conhecido como shelter, ou seja, a soma das rendas
dos inquilinos e a renda equivalente dos proprietários (quanto estes pagariam
para arrendarem casa ou ganhariam se arrendassem as suas casas), tem abrandado
nos últimos meses, tendo desacelerado em abril, registando um ganho mensal de apenas
0,4%, o menor aumento desde janeiro do ano passado.
Perante a desaceleração do shelter, a Reserva
Federal dos EUA (Fed) foca-se cada vez mais na evolução da inflação dos
serviços, ou seja, a inflação supercore, que exclui alimentos, energia
e custos com moradia (shelter). A métrica de inflação de serviços supercore desacelerou em abril para 5,1% em termos homólogos. O banco central dos EUA
presta cada vez mais atenção ao comportamento da inflação no setor de serviços,
onde os aumentos de preços podem ficar “fixos” por mais tempo e não diminuírem
tão rapidamente, porque estão mais fortemente ligados ao crescimento dos
salários dos trabalhadores. No mês passado, o mercado de trabalho manteve-se
resiliente, a taxa de desemprego norte-americana desceu para os 3,4% em abril,
o valor mais baixo dos últimos 53 anos, tendo a economia dos EUA criado mais de
250 mil postos de trabalho e os salários aumentado 4,4% em termos homólogos,
acima do valor anterior de março de 4,3%.
Até à próxima reunião da Fed, no dia 14 de junho,
existem várias leituras adicionais sobre inflação no consumidor e no produtor,
habitação, produção e mercado de trabalho. No passado dia 11 de maio, os
pedidos semanais de subsídio de desemprego nos EUA (Jobless Claims) aumentaram
para 265 mil, o valor mais elevado desde janeiro de 2022, evidenciando uma
tendência de alta. Este dado é um leading indicator para a evolução do
mercado do trabalho, sobretudo para o relatório mensal do emprego, dando sinais
quanto ao crescimento dos salários. A taxa de desemprego nos EUA está no nível
mais baixo desde 1969 e as ofertas de emprego (medidas pelos JOLTS) permanecem
perto do máximo histórico, existindo cerca de 1,7 vagas de emprego por cada
desempregado, mantendo, assim, o crescimento dos salários relativamente
resiliente, uma preocupação para a Fed. A relação negativa entre a taxa de
desemprego e a taxa de ofertas de emprego é também conhecida como curva de
Beveridge (ver gráfico).
Entretanto, a pandemia pode ter forçado a curva a deslocar-se para direita, como nunca antes visto. Será permanente? Quanta realocação e incompatibilidade de mão de obra continuarão a resultar das novas tendências de trabalho em casa, redução de viagens de negócios e simplificação e diversificação das cadeias de abastecimento? Dependendo da resposta a essas e outras perguntas, a economia apresentará mudanças no tamanho e na localização dos imóveis comerciais e na produção de inputs intermédios, desde a capacidade do sistema de transporte público à escala da indústria hoteleira. Esses ajustes estruturais vão alterar o uso da mão de obra. Em termos do modelo, uma deslocação para fora da curva de Beveridge pode, portanto, representa uma menor eficiência, causada por uma variedade de fatores subjacentes. Alterações setoriais, mudanças nos requisitos de competências dos trabalhadores e dispersão geográfica podem desempenhar um papel importante na compreensão da curva.
Uma diminuição da oferta de empregos para os níveis anteriores à pandemia, ditará atualmente uma taxa de desemprego mais elevada e uma recessão.
Entretanto, ou o
rácio das ofertas de emprego diminui ou a taxa de desemprego aumenta ou o banco
central dos EUA terá de subir ainda mais as taxas de juro, receando robustos
aumentos salariais?!
PMR In VE 18/05/2023
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