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sexta-feira, 9 de junho de 2023

Quo vadis, euro/dólar?

 

A correlação negativa entre o cross cambial euro/dólar e o rendimento do tesouro norte-americano a 2 anos tem sido quase perfeita, muito perto de -1, desde 4 de maio, conforme pode ser observado no círculo C2 do gráfico, aquando da perceção de uma Reserva Federal dos EUA (Fed) ainda hawkish na reunião FOMC (Federal Open Market Committee) a 3 de maio, seguindo-se uma publicação de um mercado de trabalho robusto em abril no dia 5 de maio.

O gráfico corrobora uma relação significativamente negativa entre o euro/dólar e o rendimento a 2 anos do tesouro norte-americano, sobretudo aquando do colapso bancário regional nos EUA em março deste ano e desde 4 de maio. Em 2023, o gráfico espelha dois momentos de quase perfeita correlação inversa, o círculo C1 durante o mês de março e o círculo C2 nas últimas quatro semanas, desde 4 de maio.   

 

Para se perceber a evolução do eur/usd nas próximas semanas, há dois dados macroeconómicos norte-americanos cruciais que serão divulgados nos próximos dias, o mercado de trabalho e a inflação, bem como a reunião da Fed a 14 de junho.


Se o mercado de trabalho na próxima sexta-feira, dia 3 de junho, continuar a mostrar resiliência, ou seja, Non Farm Payrolls acima de 150 mil [postos de trabalho líquidos criados, excetuando agrícolas], e taxa de desemprego inferior a 3,6%, a Reserva Federal dos EUA deverá mesmo aumentar a taxa de juro no próximo dia 14 de junho em mais 25 pontos, para o intervalo de 5,25% a 5,50%, facto que seria reforçado se a inflação nos EUA em maio, a ser divulgada no dia 13 de junho se mantiver persistente, ou seja, acima de 4,7% ou 4,8%. Atualmente, a probabilidade desse aumento de 25 pontos base é de 66%. Todavia, dados fracos do mercado de trabalho norte-americano e inflação a desacelerar mais rápido do que esperado penalizaria muito provavelmente o desempenho do dólar nas próximas semanas.

 

Entretanto, caso os dados macroeconómicos se mantiveram relativamente robustos no próximo mês e meio, mercado de trabalho forte em junho, divulgado na primeira sexta-feira de julho e a inflação acima do estimado, o cross eur/usd poderá continuar pressionado em baixa, podendo o mercado antecipar mais uma alta de 25 pontos para o intervalo [5,50% a 5,75%] na reunião de 26 de julho, reforçando ainda mais a alta do dólar.

 

Enquanto isso, os dados da inflação de vários países da Zona Euro publicados na quarta-feira passada, dia 31  de maio, sobretudo da Alemanha (6,1%), França (5,1%) e Espanha (3,2%), mostraram uma significativa desaceleração dos preços no consumidor na Europa e são também suficientemente pertinentes para perceber uma postura eventualmente menos hawkish do BCE, podendo corroborar um pouco mais esta queda do euro face ao dólar.

 

Na terça-feira, o indicador de confiança industrial na Zona Euro caiu para -5,2 em maio de 2023, de -2,8 revisto no mês anterior, um numero mais fraco do que as previsões do mercado de -4,0.

O sentimento entre os fabricantes atingiu o nível mais baixo desde novembro de 2020, ou seja, à medida que as expectativas de produção das empresas e as avaliações do nível atual das carteiras de encomendas se deterioram, os stocks de produtos acabados são cada vez mais elevados e acima do normal, ditando um agravamento da atividade económica da Zona Euro e, consequente, abrandamento da política monetária do BCE, consolidando as probabilidades de alta do dólar. Também a recessão técnica na Alemanha, contração económica no último trimestre 2022 e o primeiro trimestre de 2023, penalizam o euro. Porém, os últimos dados da balança comercial de bens dos EUA, referentes a abril, registaram  o maior défice desde outubro de 2022, podendo reequilibrar um pouco o câmbio euro/dólar. 

PMR in VE 2 de junho 2023





Mais uma vez a iliteracia financeira…

 


O IGCP (Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública, anteriormente Instituto de Gestão de Crédito Público) é a entidade pública a quem compete gerir “… a tesouraria, o financiamento e a dívida pública…”, recorrendo para tal aos mais diversos instrumentos de dívida pública, desde as obrigações e bilhetes do tesouro aos certificados de aforro, este últimos “… instrumentos de dívida criados com o objetivo de captar a poupança das famílias.”. Todavia, o IGCP tem como objetivos a “… minimização do custo da dívida numa perspetiva intertemporal, de acordo com as estratégias de risco definidas pelo Governo.” e a “…redução dos encargos financeiros do Estado”. Ou seja, o objetivo do IGCP é então o de minimizar o custo do crédito público, salvaguardando o orçamento do Estado e os custos para os contribuintes, recorrendo aos mais diversos mecanismos de financiamento para suprir as necessidades financeiras do Estado português, minimizando objetivamente o custo desses empréstimos obtidos.  

Em boa verdade, o rendimento dos bilhetes do tesouro a três meses é atualmente de 2,79%, o das obrigações do tesouro a 2 anos é de 2,69% e a 10 anos de 2,99%. A taxa de juro de 3,50% associada aos certificados de aforro da “série E” é substancialmente superior à remuneração dos restantes instrumentos de dívida e com o prémio de permanência essa remuneração chega aos 4,50%. Adicionalmente, os certificados de aforro são instrumentos de curto prazo.  Finalmente, no último relatório mensal do IGCP, o de abril, as necessidades de financiamento do Estado português eram de € 24,8 mil milhões para 2023, mas a subscrição de certificados de aforro já havia ultrapassado os € 11 mil milhões, apenas nos primeiros quatro meses do ano, colocando em risco a diversificação dos mecanismos de financiamento, a eficiente distribuição pelas várias fontes de financiamento e a otimização do custo do crédito público.

Na qualidade de entidade que gere responsavelmente os empréstimos obtidos do Estado português, o IGCP deve evitar demasiada exposição a um determinado instrumento, procurando também minimizar os custos. Atualmente, a dependência dos certificados de aforro é já relevante e os juros associados a este instrumento de dívida de curto prazo são mais elevados do que as fontes de financiamento de longo prazo, quando deveria ser o contrário, porque o risco cresce à medida que aumenta o horizonte temporal. É certo de que o maior incentivo à subscrição de certificados de aforro é resultado do aumento significativo das taxas de juro pelo BCE, ditado pela elevada inflação. Mas imaginemos que a inflação da Zona Euro abrandava substancialmente no segundo semestre do ano ou em 2024 e associada a essa desaceleração dos preços estaria também um ambiente económico recessivo, então o BCE poderia iniciar sucessivos cortes das taxas de juro, incentivando o resgate dos certificados de aforro, colocando, desta forma, em causa o financiamento público do Estado português.     

Os certificados de aforro são, em primeiro lugar, um mecanismo de financiamento do estado e o incentivo à poupança não é da tutela do IGCP. Além disso, os portugueses que não conseguem poupar, alguns a braços com juros mais elevados no seu crédito à habitação, seriam duplamente penalizados, tendo que financiar, via impostos, juros mais elevados.

O mais importante estímulo e contributo à poupança passaria, com certeza, pelo aumento substancial da literacia financeira dos portugueses. Há falta de cultura financeira, sendo as bolsas percecionadas pelos portugueses como casinos. No entanto, os mercados de capitais têm uma vasta panóplia de instrumentos capazes de suprirem cabalmente as necessidades das poupanças dos portugueses, tendo mais vantagens numa ótica de longo prazo. Por exemplo, o índice acionista norte-americano S&P 500 têm o atual formato de 500 empresas desde 4 de março de 1957, replicando satisfatoriamente a economia dos EUA, registando um retorno anual médio nominal desde essa data de 10,13% e real de 6,26%. É um índice composto por 11 setores de atividade, corroborando, deste modo, uma diversificação aceitável da maior economia global. Devem também os investidores diversificarem os seus investimentos geograficamente, minimizando ainda mais o risco da sua carteira. E se há alguns anos o acesso a ativos financeiros internacionais era mais difícil, hoje os portugueses têm facilmente acesso a fundos transacionados em bolsa (um ETF, exchange traded funds), mesmo para pequenos investimentos, capazes de replicarem o S&P 500, o Nasdaq 100, o Stoxx 600 ou o MSCI World, podendo também diversificar o seu aforro em instrumentos de dívida pública, desde as obrigações aos bilhetes do tesouro, bem como investir em obrigações de empresas, em fundos imobiliários, em moedas, em metais preciosos e nas mais diversas mercadorias (desde o petróleo e o gás natural aos metais industriais e aos produtos agrícolas). A oferta é atualmente muita vasta, sendo o recurso a profissionais habilitados uma das decisões mais acertada.

PMR In VE 9 junho 2023



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Naturalidade Angolana
Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.