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quarta-feira, 30 de março de 2011

Sem crescimento não há cumprimento.

Pedir resgate ou não? A questão neste momento já é o incumprimento.

Espero estar enganado, mas pelo andar da carruagem, a procissão ainda vai no adro.

A situação financeira portuguesa já não passa, há muito tempo, pelo pedido ou não de resgate financeiro, já não é sequer uma evidência mas sim um facto consumado. Pedir o resgate financeiro é uma decisão política há meses. A Grécia e a Irlanda quando pediram ajuda as yields das suas obrigações do tesouro (OT) eram mais baixas que as yields das OT portuguesas praticadas hoje no mercado secundário.

O real problema neste momento é a solvência do país. Sem crescimento económico nos próximos anos a probabilidade de incumprimento existe e está reflectida nas várias revisões em baixa da Standard & Poors, neste momento em BBB-, o que não augura nada de positivo para o futuro. O nosso último e único incumprimento foi em 1891, com uma reestruturação da dívida e perdão de cerca de 40% em 1902.

A reestruturação da dívida portuguesa e irlandesa parece evidente. Este facto também pressiona a cotação das obrigações do tesouro destes países, porque o gestores já esperam tudo e perante a incerteza vendem. A banca irlandesa está a pressionar muito a dívida pública e o futuro no curto prazo não é risonho para a República da Irlanda.  

A Grécia, sem crescimento económico e face aos crescentes défices públicos, tem uma probabilidade elevada de entrar em incumprimento. A dívida pública é muito significativa e sem ganhos de produtividade será difícil manter o país por muitos mais anos sem restruturação da dívida ou mesmo deixar de pagar aos credores e entrar em default. Lembro que o credit rating que a Standard & Poors dá à Grécia neste momento é de BB-, quase a deixar a casa dos B’s  entrar nos C’s – aqui o default é muito provável, pois “CCC-“ representa incumprimento com uma pequena propensão de recuperação. A letra D é “em incumprimento”.

O fundo de resgate europeu – que tem também a mão do FMI -  com empréstimos a taxas de mercado (por exemplo as taxas alemãs) acrescidas de 2 pontos percentuais para maturidades até 3 anos ou de 3 pontos percentuais para maturidades superiores a 3 pontos percentuais garante a sustentabilidade financeira no curto prazo caso haja ausência de crescimento económico em Portugal.  Mas tudo poderá mudar, para melhor, com uma política orçamental significativa ao nível da Zona Euro. Pois só assim o euro poderá se manter coeso como uma moeda de 17 países.

Paulo Monteiro Rosa, economista, 30 Março 2011

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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.