Perante os
dados macroeconómicos mais favoráveis nos EUA em relação aos da Zona
Euro, nomeadamente nos últimos anos, seria de esperar que esse facto
fosse espelhado na cotação do dólar. No entanto existem vários fatores
que poderão justificar a tendência de alta do euro (EUR) face ao dólar
(USD).
O USD tem sido pressionado pela agressiva emissão de
moeda através dos Quantitative Easing (QE). A moeda em circulação e a
massa monetária (M2), do USD, aumentaram cerca 15% nos últimos 2 anos.
No entanto, na Zona euro esse aumento foi de apenas 7%. Na Zona Euro
temos assistido aos Long Term Refinancing Operations (LTRO)
caracterizados pela intermediação entre os bancos centrais que têm
excesso de recursos (do Norte) e os bancos que têm défice de recursos
(do Sul). Uma mutualização da dívida, sem união política? Sim, em parte.
As operações do Banco Central Europeu (BCE) não têm sido de certa forma
esterilizadas, caso contrário a moeda em circulação não aumentava.
O défice da balança comercial dos EUA também tem penalizado o USD em
relação às outras moedas. Agravou-se desde os anos 70 do século
passado, no entanto tem sido o fiel da balança no que concerne ao escoamento
dos produtos dos maiores exportadores mundiais: Alemanha, China, Japão e
economias emergentes.
O Euro tem beneficiado do ligeiro excedente
comercial. Os países nórdicos, com os seus excedentes, compensam os
défices dos países periféricos. Mas, os ajustamentos económicos nos
países do sul têm contribuído para o reequilíbrio das suas contas
externas. Um menor rendimento disponível diminui as importações e como a
propensão para o consumo de bens nacionais diminui, as empresas têm que
procurar outras geografias para os seus produtos, aumentando as
exportações.
No início do milénio os bancos centrais detinham 20%
das reservas monetárias em euros e 70% em dólares, e o remanescente em
francos suíços, libras e ienes. Hoje em dia, as reservas monetárias em
euros dos bancos centrais representam 30%, um ganho de 10 p.p. ao USD.
Também o comércio internacional viu cair de 89% para 85% a utilização do
USD. O euro é cada vez mais uma moeda que ombreia com o USD.
De salientar, ainda, a correlação positiva entre o Euro/Dólar e os
mercados acionistas, nos últimos 14 anos. O USD é uma moeda de refúgio
por excelência, um porto seguro (safe haven currency) perante incertezas
nos mercados financeiros. Quando se assiste a um sell-off no mercado
acionista (forte venda de ações por parte dos investidores, em pânico
face a uma notícia bastante negativa) o USD tende a valorizar. Quando o
apetite pelo risco regressa, existe uma maior propensão para adquirir
títulos de risco por parte dos investidores, como ações. Assiste-se à
venda da moeda refúgio, o USD, e o euro volta aos ganhos.
O USD
tende a subir em períodos de crises económico-financeiros ou
geopolíticos. Tende a apreciar-se quando a aversão ao risco é bastante
elevada. Valorizou 5% nas duas semanas anteriores à invasão do Iraque.
Após a falência do Lehman Brothers as bolsas mundiais tiveram quedas
significativas, mas o USD ganhou cerca de 16% face ao euro desde o dia
22 de setembro ao dia 28 de outubro de 2008. Nesse período o DAX de
Frankfurt perdeu 35% e o SP500 33%. O USD ganhou face a todas as moedas
com exceção do iene japonês. O ouro, tido como ativo de refúgio, caiu
18% nesse período. As obrigações do tesouro de países com economias
robustas viram, também, o seu valor subir.
Nos últimos anos
observamos outro fenómeno. O USD, devido à sua reduzida remuneração é
uma funding currency, uma moeda demasiado barata para ser emprestada. É
mais atrativo vender USD e comprar moedas com uma remuneração mais
elevada (target currency). Uma operação denominada por carry trade, e
obter o ganho do diferencial das taxas de juro. Esta estratégia
traduz-se numa depreciação do USD em relação às outras moedas. A moeda
nipónica é provavelmente a funding currency mais popular devido à sua
baixa remuneração, por isso tende a valorizar em períodos de forte
aversão ao risco, tal como a divisa norte-americana.
A partir
de 2002, com a entrada física da moeda Euro em circulação, verifica-se
uma apreciação desta moeda face ao USD e só, a partir de 2008, com a
perceção dos investidores de que as dívidas públicas de cada país da
Zona Euro tinham riscos diferentes, surge a crise das dívidas soberanas
que trava a escalada do euro.
Em suma, enquanto se mantiver o
paradigma baseado nas constatações acima referidas e existir pânico
financeiro ou crises geopolíticas, ou se verificar uma tendência de
baixa nos mercados acionistas, quem tiver na sua posse dólares
americanos provavelmente estará protegido de perdas.
Duas situações que devem ser ponderadas pelas empresas e investidores europeus:
a) A subida do euro tende a penalizar as exportações das empresas da
Zona Euro. No entanto, a Alemanha tem conseguido manter a sua
competitividade, através da produção de bens cuja competitividade é
extra-preço, baseada em bens tecnológicos, o denominado “paradoxo de
Kaldor”.
As empresas exportadoras devem cobrir o risco cambial nas
suas transações, para não terem surpresas desagradáveis. Uma empresa da
zona euro que encomenda determinado produto a uma empresa sediada nos
EUA, para ser entregue daqui a um mês, deverá comprar USD a um mês (Taxa
forward do EUR/USD a 1 mês), fixando o valor a pagar.
b) Ao
comprarmos um ativo financeiro denominado em outras moedas, como por
exemplo o Facebook, deveremos ter em conta o risco cambial. Mas as
principais empresas mundiais estão cotadas em várias bolsas, logo esse
problema não se coloca quando adquirimos estes títulos. Podemos comprar
ações do Facebook em euros, por exemplo na bolsa de Frankfurt.In "Vida Económica", sexta-feira, dia 14 de Março.
Paulo Monteiro Rosa
http://www.scribd.com/doc/212507741/O-euro-dolar-e-a-riqueza-das-nacoes
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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