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segunda-feira, 28 de abril de 2014

O EURO/DÓLAR E A RIQUEZA DAS NAÇÕES

Perante os dados macroeconómicos mais favoráveis nos EUA em relação aos da Zona Euro, nomeadamente nos últimos anos, seria de esperar que esse facto fosse espelhado na cotação do dólar. No entanto existem vários fatores que poderão justificar a tendência de alta do euro (EUR) face ao dólar (USD).

O USD tem sido pressionado pela agressiva emissão de moeda através dos Quantitative Easing (QE). A moeda em circulação e a massa monetária (M2), do USD, aumentaram cerca 15% nos últimos 2 anos. No entanto, na Zona euro esse aumento foi de apenas 7%. Na Zona Euro temos assistido aos Long Term Refinancing Operations (LTRO) caracterizados pela intermediação entre os bancos centrais que têm excesso de recursos (do Norte) e os bancos que têm défice de recursos (do Sul). Uma mutualização da dívida, sem união política? Sim, em parte. As operações do Banco Central Europeu (BCE) não têm sido de certa forma esterilizadas, caso contrário a moeda em circulação não aumentava.

O défice da balança comercial dos EUA também tem penalizado o USD em relação às outras moedas. Agravou-se desde os anos 70 do século passado, no entanto tem sido o fiel da balança no que concerne ao escoamento dos produtos dos maiores exportadores mundiais: Alemanha, China, Japão e economias emergentes.
O Euro tem beneficiado do ligeiro excedente comercial. Os países nórdicos, com os seus excedentes, compensam os défices dos países periféricos. Mas, os ajustamentos económicos nos países do sul têm contribuído para o reequilíbrio das suas contas externas. Um menor rendimento disponível diminui as importações e como a propensão para o consumo de bens nacionais diminui, as empresas têm que procurar outras geografias para os seus produtos, aumentando as exportações.
No início do milénio os bancos centrais detinham 20% das reservas monetárias em euros e 70% em dólares, e o remanescente em francos suíços, libras e ienes. Hoje em dia, as reservas monetárias em euros dos bancos centrais representam 30%, um ganho de 10 p.p. ao USD. Também o comércio internacional viu cair de 89% para 85% a utilização do USD. O euro é cada vez mais uma moeda que ombreia com o USD.

De salientar, ainda, a correlação positiva entre o Euro/Dólar e os mercados acionistas, nos últimos 14 anos. O USD é uma moeda de refúgio por excelência, um porto seguro (safe haven currency) perante incertezas nos mercados financeiros. Quando se assiste a um sell-off no mercado acionista (forte venda de ações por parte dos investidores, em pânico face a uma notícia bastante negativa) o USD tende a valorizar. Quando o apetite pelo risco regressa, existe uma maior propensão para adquirir títulos de risco por parte dos investidores, como ações. Assiste-se à venda da moeda refúgio, o USD, e o euro volta aos ganhos.
O USD tende a subir em períodos de crises económico-financeiros ou geopolíticos. Tende a apreciar-se quando a aversão ao risco é bastante elevada. Valorizou 5% nas duas semanas anteriores à invasão do Iraque. Após a falência do Lehman Brothers as bolsas mundiais tiveram quedas significativas, mas o USD ganhou cerca de 16% face ao euro desde o dia 22 de setembro ao dia 28 de outubro de 2008. Nesse período o DAX de Frankfurt perdeu 35% e o SP500 33%. O USD ganhou face a todas as moedas com exceção do iene japonês. O ouro, tido como ativo de refúgio, caiu 18% nesse período. As obrigações do tesouro de países com economias robustas viram, também, o seu valor subir.

Nos últimos anos observamos outro fenómeno. O USD, devido à sua reduzida remuneração é uma funding currency, uma moeda demasiado barata para ser emprestada. É mais atrativo vender USD e comprar moedas com uma remuneração mais elevada (target currency). Uma operação denominada por carry trade, e obter o ganho do diferencial das taxas de juro. Esta estratégia traduz-se numa depreciação do USD em relação às outras moedas. A moeda nipónica é provavelmente a funding currency mais popular devido à sua baixa remuneração, por isso tende a valorizar em períodos de forte aversão ao risco, tal como a divisa norte-americana.

A partir de 2002, com a entrada física da moeda Euro em circulação, verifica-se uma apreciação desta moeda face ao USD e só, a partir de 2008, com a perceção dos investidores de que as dívidas públicas de cada país da Zona Euro tinham riscos diferentes, surge a crise das dívidas soberanas que trava a escalada do euro.

Em suma, enquanto se mantiver o paradigma baseado nas constatações acima referidas e existir pânico financeiro ou crises geopolíticas, ou se verificar uma tendência de baixa nos mercados acionistas, quem tiver na sua posse dólares americanos provavelmente estará protegido de perdas.

Duas situações que devem ser ponderadas pelas empresas e investidores europeus:
a) A subida do euro tende a penalizar as exportações das empresas da Zona Euro. No entanto, a Alemanha tem conseguido manter a sua competitividade, através da produção de bens cuja competitividade é extra-preço, baseada em bens tecnológicos, o denominado “paradoxo de Kaldor”.
As empresas exportadoras devem cobrir o risco cambial nas suas transações, para não terem surpresas desagradáveis. Uma empresa da zona euro que encomenda determinado produto a uma empresa sediada nos EUA, para ser entregue daqui a um mês, deverá comprar USD a um mês (Taxa forward do EUR/USD a 1 mês), fixando o valor a pagar.

b) Ao comprarmos um ativo financeiro denominado em outras moedas, como por exemplo o Facebook, deveremos ter em conta o risco cambial. Mas as principais empresas mundiais estão cotadas em várias bolsas, logo esse problema não se coloca quando adquirimos estes títulos. Podemos comprar ações do Facebook em euros, por exemplo na bolsa de Frankfurt.
In "Vida Económica", sexta-feira, dia 14 de Março.

Paulo Monteiro Rosa

http://www.scribd.com/doc/212507741/O-euro-dolar-e-a-riqueza-das-nacoes


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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.