Since December 25th, 2010

Translate

sexta-feira, 8 de julho de 2016

O SEMESTRE EM QUE SE FALOU DO TEXAS (Ratio) NA BOLSA DE LISBOA

No primeiro semestre do ano a bolsa nacional foi bastante penalizada pelo fraco comportamento da cotação do BCP que registou uma queda de 63%. Vários receios justificam este desempenho do maior banco privado português: desde um possível aumento de capital, à queda do setor bancário nos países do Sul da Europa, passando, principalmente, pelo crédito malparado do banco.

Segundo um research de junho do banco norte-americano Goldman Sachs, o BCP tem o terceiro pior "Texas Ratio" do velho continente, de 249%. Este rácio, que mede a relação entre o crédito malparado e os capitais próprios, foi desenvolvido por Gerald Cassidy e outros analistas do RDC Capital Markets. Serve para medir os problemas de crédito de determinados bancos ou regiões. O "Texas Ratio" é a relação entre o montante de ativos e de empréstimos que estão no balanço já em incumprimento, acrescido dos empréstimos com um atraso de pagamento superior a 90 dias, e o valor tangível dos capitais próprios do banco mais as suas reservas para perdas com empréstimos ([ativos e empréstimos em incumprimento + empréstimos com atraso de pagamento superior a 90 dias] / [Valor tangível dos capitais próprios + reservas para perdas]). Para obter o valor tangível dos capitais próprios subtraem-se todos os ativos intangíveis do balanço e as ações preferenciais. Um valor acima dos 100% é considerado um alerta sobre problemas financeiros. O BPI tem este ratio nos 75%. O "Texas Ratio" do Deutsche Bank é de 23%, o do HSBC é de 15% e o do Santander é de 36%, para citar os três maiores bancos europeus. No entanto, não devemos utilizá-lo isoladamente para comprar um título. O Deutsche Bank tem um "Texas Ratio" confortável, mas uma significativa exposição em derivados, 14 vezes o PIB germânico.

A Pharol, com uma perda de 52%, teve o segundo pior desempenho do PSI20. A sua tendência descendente permanece intacta desde setembro de 2010 e agravou-se depois da operadora brasileira OI ter pedido proteção contra os credores para evitar uma falência desordenada. A Pharol é a maior acionista da OI, com 27.5%, e detém ainda um crédito sobre a Rio Forte. Caso conseguisse recuperar cerca de 10% desse empréstimo, à volta de 89 milhões de euros, igualaria a sua atual capitalização bolsista. Em julho de 2010 a Portugal Telecom, antiga Pharol, saiu da brasileira Vivo por 7.5 mil milhões de euros e entrou na OI por 3.75 mil milhões de euros.

Pela positiva, a Galp subiu com a recuperação da cotação do barril de petróleo e a Jerónimo Martins, após vários anos de queda da atividade na Polónia, este a beneficiar agora da melhoria do negócio neste país de leste. Em suma, a nível mundial, as bolsas foram penalizadas pelo setor bancário e beneficiadas pelos setores energético e de matérias-primas. Este facto justifica o ganho de 4% da bolsa de Londres que tem muitas cotadas ligadas à mineração de metais preciosos e petrolíferas. A ResNillo subiu 143%, a Anglo American 140%, a RandGold 108%, a Glencore 68%, a Shell 34% e a BP 23%. O Barclays caiu 37% e o RBS 43%. Porém, o seu valor em libras tem desvalorizado. Nas bolsas espanhola e italiana a banca perdeu, em média, 40% no 1º semestre.

Vários fatores contribuíram para este desempenho das bolsas: o "mini-crash" nas bolsas chinesas no início do ano, estancado pela enérgica intervenção das autoridades monetárias através da injeção de liquidez e compra de ações; o fraco relatório do mercado de trabalho nos EUA no mês passado e o Brexit na última semana. Os resultados do 1º trimestre, em geral, foram em linha com as estimativas dos analistas, mais condescendentes que nos anos anteriores. Pela positiva o bom desempenho dos preços das "commodities": para além da recuperação do petróleo, desde fevereiro, o ouro e a prata acentuaram o bom desempenho na última semana devido ao resultado do referendo no Reino Unido.

Paulo Rosa, In Semanário "Vida Económica", 8 de julho de 2016



Sem comentários:

Enviar um comentário

Arquivo do blogue

Seguidores

Economista

A minha foto
Naturalidade Angolana
Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.