No primeiro semestre do ano a bolsa nacional foi bastante penalizada
pelo fraco comportamento da cotação do BCP que registou uma queda de
63%. Vários receios justificam este desempenho do maior banco privado
português: desde um possível aumento de capital, à queda do setor
bancário nos países do Sul da Europa, passando, principalmente, pelo
crédito malparado do banco.
Segundo um research de junho do
banco norte-americano Goldman Sachs, o BCP tem o terceiro pior "Texas
Ratio" do velho continente, de 249%. Este rácio, que mede a relação
entre o crédito malparado e os capitais próprios, foi desenvolvido por
Gerald Cassidy e outros analistas do RDC Capital Markets. Serve para
medir os problemas de crédito de determinados bancos ou regiões. O
"Texas Ratio" é a relação entre o montante de ativos e de empréstimos
que estão no balanço já em incumprimento, acrescido dos empréstimos com
um atraso de pagamento superior a 90 dias, e o valor tangível dos
capitais próprios do banco mais as suas reservas para perdas com
empréstimos ([ativos e empréstimos em incumprimento + empréstimos com
atraso de pagamento superior a 90 dias] / [Valor tangível dos capitais
próprios + reservas para perdas]). Para obter o valor tangível dos
capitais próprios subtraem-se todos os ativos intangíveis do balanço e
as ações preferenciais. Um valor acima dos 100% é considerado um alerta
sobre problemas financeiros. O BPI tem este ratio nos 75%. O "Texas
Ratio" do Deutsche Bank é de 23%, o do HSBC é de 15% e o do Santander é
de 36%, para citar os três maiores bancos europeus. No entanto, não
devemos utilizá-lo isoladamente para comprar um título. O Deutsche Bank
tem um "Texas Ratio" confortável, mas uma significativa exposição em
derivados, 14 vezes o PIB germânico.
A Pharol, com uma perda de
52%, teve o segundo pior desempenho do PSI20. A sua tendência
descendente permanece intacta desde setembro de 2010 e agravou-se depois
da operadora brasileira OI ter pedido proteção contra os credores para
evitar uma falência desordenada. A Pharol é a maior acionista da OI, com
27.5%, e detém ainda um crédito sobre a Rio Forte. Caso conseguisse
recuperar cerca de 10% desse empréstimo, à volta de 89 milhões de euros,
igualaria a sua atual capitalização bolsista. Em julho de 2010 a
Portugal Telecom, antiga Pharol, saiu da brasileira Vivo por 7.5 mil
milhões de euros e entrou na OI por 3.75 mil milhões de euros.
Pela positiva, a Galp subiu com a recuperação da cotação do barril de
petróleo e a Jerónimo Martins, após vários anos de queda da atividade na
Polónia, este a beneficiar agora da melhoria do negócio neste país de
leste. Em suma, a nível mundial, as bolsas foram penalizadas pelo setor
bancário e beneficiadas pelos setores energético e de matérias-primas.
Este facto justifica o ganho de 4% da bolsa de Londres que tem muitas
cotadas ligadas à mineração de metais preciosos e petrolíferas. A
ResNillo subiu 143%, a Anglo American 140%, a RandGold 108%, a Glencore
68%, a Shell 34% e a BP 23%. O Barclays caiu 37% e o RBS 43%. Porém, o
seu valor em libras tem desvalorizado. Nas bolsas espanhola e italiana a
banca perdeu, em média, 40% no 1º semestre.
Vários fatores
contribuíram para este desempenho das bolsas: o "mini-crash" nas bolsas
chinesas no início do ano, estancado pela enérgica intervenção das
autoridades monetárias através da injeção de liquidez e compra de ações;
o fraco relatório do mercado de trabalho nos EUA no mês passado e o
Brexit na última semana. Os resultados do 1º trimestre, em geral, foram
em linha com as estimativas dos analistas, mais condescendentes que nos
anos anteriores. Pela positiva o bom desempenho dos preços das
"commodities": para além da recuperação do petróleo, desde fevereiro, o
ouro e a prata acentuaram o bom desempenho na última semana devido ao
resultado do referendo no Reino Unido.
Paulo Rosa, In Semanário "Vida Económica", 8 de julho de 2016
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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