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sexta-feira, 13 de outubro de 2017

OS MERCADOS CAROS COLPASAM SEMPRE SOBRE O PRÓPRIO PESO

Apesar dos problemas entre a Coreia do Norte e a comunidade internacional, apesar da descida do rating de crédito para a dívida pública da China e do Reino Unido, apesar de estarmos num impasse quanto à independência da Catalunha, o mercado acionista continua alheado a isso tudo. Noutras alturas, estaria a perder quase 5%.

Ainda esta semana, o recém premiado com o Nobel da Economia, Richard Thaler, se confessava nervoso com os sucessivos máximos históricos em Wall Street, que considerou não estarem acompanhados por informação económica que os sustente. "É um mistério para mim. Isso, e a inacreditável baixa volatilidade, numa altura de tão grande incerteza global, parece-me misterioso," afirmou Richard Thaler em entrevista à Reuters. O professor da Universidade de Chicago não é o único a desconfiar destas subidas, mas é dos poucos que não se deixa levar pelo entusiasmo.

Atualmente, estamos com extrema dificuldade em encontrar empresas sólidas com avaliações sóbrias. Lemos a imprensa, notas de research, blogues, pesquisas, escutamos os investidores profissionais mais respeitados do mercado, conversamos com a nossa rede profissionais, participamos em conferências e acabamos com frustração, a olhar para uma gigantesca panóplia de empresas que não nos transmitem uma margem de segurança. Para termos algum conforto na compra, a média do preço dos títulos deveria estar cerca de 40% abaixo. O mercado acionista, num contexto histórico, está bastante sobrevalorizado.

Em 1929, tal como em 2000, os otimistas (“bulls”) argumentavam que as ações podiam estar sobrevalorizadas, mas ainda se vivia num mercado altista.
Muitos investidores, eufóricos, afiançavam que os ciclos económicos tinham acabado, que estávamos na era da economia digital, com a economia a crescer há oito anos seguidos desde a recessão de 1992 e já não haveria lugar a recessões. O tempo encarregou-se de lhes lançar um balde de água fria.
Segundo Friedrich Hayek, prémio nobel da economia em 1974, os ciclos económicos serão tanto mais acentuados quanto mais enérgicas forem as políticas monetárias dos bancos centrais que, por arrasto, impulsionarão o crédito bancário. A inflação dos preços (o Índice de Preços no Consumidor – IPC) é um fenómeno exclusivamente monetário e a quantidade de dinheiro influencia a variação de produção e a evolução do IPC. Quando se diminui a taxa de juro em demasia por demasiado tempo, criam-se bolhas especulativas.

Em 2000 o que provocou a queda das ações foi a avaliação realista das empresas com base na geração de resultados realistas e deixando de lado os múltiplos com outras ações do mesmo setor que vinham sendo utilizados. À medida que o mercado começou a cair, as empresas não conseguiam financiar as suas perdas com novas emissões de ações. Voltam a cair e a provocar a recessão económica…

Podemos argumentar que as ações, mesmo com avaliações significativamente elevadas, não estão caras porque estamos num contexto de juros incrivelmente, e artificialmente, baixos. Mas os juros podem permanecer nestes níveis durante décadas como no Japão, e esse fenómeno não protegeu as avaliações realistas das empresas e o PER (“Price Earnings Ratio”, relação entre a cotação e o lucro por ação) das empresas japonesas baixaram à terra. Também em qualquer país, e os EUA não são exceção, as leis da gravidade económica funcionam de maneira eficaz.

Então porquê investir num mercado de ações que está caro? Investir, é isso mesmo - comprar na esperança de que no futuro venham a estar ainda mais caras, mais não é do especulação e não investimento. Mas seguir a tendência, quando o mercado está a subir, exige toda a precaução.
Os mercados caros colapsam sobre o seu próprio peso, e o “trigger” será sempre um fator exógeno. Atualmente, o que causará uma correção no mercado? Qual será o gatilho?

Paulo Rosa, in jornal "Vida Económica" 13 de outubro 2017


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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.