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sexta-feira, 3 de novembro de 2017

UM GRÁFICO QUE METE MEDO

Na semana passada, o BCE anunciou uma redução em 30 mil milhões de euros, metade dos atuais 60 mil milhões de euros, no montante mensal de compras de dívida de Estados e de empresas). Esta tinha sido uma das medidas do plano "Quantitative Easing" (QE) que o BCE pôs em marcha para ajudar a injetar liquidez nas economias e a descer os juros dos países como Portugal, no auge da crise.

Em reação a este anúncio do BCE – redução dos estímulos "artificiais" –, mercado acionista subiu, e o euro, como é seu hábito quando o mercado sobe, depreciou-se face ao dólar dos EUA.
Nem uma reação nem outra seriam normais caso estivéssemos perante uma redução efetiva da ajuda do BCE. As cotações das obrigações soberanas também reagiram em alta, e, obviamente, assistimos a uma redução das "yields", como seria expectável com a manutenção das políticas monetárias. A verdade é que o BCE continua a sustentar os mercados acionistas e obrigacionistas.

O euro depreciou-se como reflexo de uma moeda que vai continuar alicerçada num balanço do Banco Central Europeu, quatro vezes superior aos valores de há nove anos!
A partir de janeiro de 2018, teremos essa redução no valor mensal de ajudas, porém o montante de estímulos permanece aparentemente idêntico.

Apenas foi diluído, e diferido no tempo. Em boa verdade, não parece existir uma redução em termos de montantes do programa, logo não estamos na presença de um "tapering".
Segundo o discurso de Mario Draghi, presidente do BCE, apesar da melhoria económica na Zona Euro, nomeadamente na Alemanha, a inflação ainda se encontra aquém dos 2%, objetivo para que está mandatado o BCE. As subidas das taxas de juro de referência do Banco Central da Zona Euro permanecem adiadas para daqui a alguns anos. Atualmente Draghi está apenas focado na melhoria da estratégia do "Quantitative Easing".

O Banco de Inglaterra começa gradualmente a estabilizar a sua taxa de juro de referência pela primeira vez nos últimos 10 anos, encetando uma política monetária contracionista.
A reunião da Reserva Federal a 12 e 13 de dezembro deverá confirmar a subida de taxa em 0.25 pontos percentuais para o intervalo [1.25%-1.5%]. Os futuros da "current target Rate 13 December" que cotam no CME, bolsa de derivados de Chicago, indiciam uma probabilidade de 97% para esse cenário ser uma realidade. Ainda no que respeita à autoridade monetária, aguarda-se o nome da pessoa que irá substituir Yellen no cargo de presidente da FED.

Em suma, existe uma manutenção das políticas monetárias expansionistas na Zona Euro e no Japão, e políticas monetárias contracionistas no Reino Unido e mais enérgicas nos EUA. Duas forças contrárias. Conseguirão as políticas da Zona Euro segurar os mercados, quando do lado de lá do Atlântico temos uma força antagónica que começa a pressionar as bolsas? Os otimistas no mercado, a maioria, têm ainda esperança que a política orçamental expansionista da Administração de Donald Trump, se se vier a confirmar, mantenha a chama dos mercados, levando-os a registar máximos históricos, nomeadamente nos EUA e na Alemanha. Ao passo que, na Europa, assistimos a uma gradual e lenta "japonização", espelhada na inversão da pirâmide demográfica, e que arrasta uma deflação pelo excesso de capacidade de produção instalada, e o sistemático adiamento e manutenção das medidas, não existindo reformas por parte dos governos, que se mantêm escudados pelas políticas monetárias expansionistas "não convencionais" do BCE…

Os balanços quadruplicaram em nove anos, desde 2008. Algo inimaginável e nunca visto.

No entanto, se observarmos em termos relativos, como percentagem do PIB, o Balanço do BCE está bastante mais exposto que o da FED, e representa 42% do PIB da Zona Euro, contra apenas 24% relativamente aos EUA.



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.