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quarta-feira, 27 de junho de 2018

A DEMOCRACIA E OS SEUS FREIOS E CONTRAPESOS

Muitas vezes pensamos que a vitória numas eleições por maioria absoluta ou com 60%, 70% ou 90% dos votos nos confere um mandato, além de reforçado, com poderes ilimitados.

Os eleitores se me deram uma maioria e o poder para eu governar durante quatro anos, ninguém me pode retirar esta prerrogativa. Mas será assim? Obviamente que não. Se um governo começa a destruir um país, por absurdo com venda de todo o património ou com aumentos estapafúrdios de impostos para a seguir começar a doar ou distribuir todo esse dinheiro por esse mundo fora, quais helicópteros lançando notas (!), alguém tem que travar essa loucura. 

O mundo não é estático e muda em poucas semanas. Uma votação de 89% num partido, numa lista para uma organização pode, em poucos meses, transformar-se em 28%. Os eleitores podem mudar radicalmente o seu sentido de voto em pouco tempo caso haja acontecimentos inesperados e que lesem gravemente as instituições. E os executivos ou direções devem acatar a vontade dos eleitores ou dos sócios, e caso não o façam estaremos perante uma conduta anti-democrática. Em democracia devemos respeitar os sinais do eleitorado.

Os eleitores é que mandam… os executivos governam e gerem. Há quem fiscalize como os Conselhos Fiscais, e as Assembleias existem para darem voz aos eleitores.
Existem freios e contrapesos como Assembleias (da república ou de instituições), tribunais de contas, Presidente da República (ao nível governamental de um país), tribunais comuns para travarem as loucuras dos executivos. Não estamos na Venezuela!

Quem não sabe conviver com estas regras não merece a democracia. Quem continuar a apoiar loucos é igualmente demente, doido varrido e alienado. Perante estes acólitos de psicopatas quase apetece dizer: dêem-me outros eleitores e dar-lhes-ei o poder de voto, a democracia, porque estes não estão preparados, não merecem ter voz.

Teremos, a bem dizer, uma ditadura durante quatro anos se os executivos forem honestos, sem despotismos, e trabalharem no progresso das sociedades, das suas instituições.

Paulo Monteiro Rosa, 27 de junho de 2018

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Os cenários para a OPA à EDP

A empresa chinesa China Three Gorges lançou uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre a EDP oferecendo 3.26 €/ação, a 11 de maio, quando o título cotava nos 3.11 €. A oferta está condicionada à obtenção de 50% dos votos acrescidos de mais um direito de voto. Esta empresa já detém cerca de 23% da EDP e conjuntamente com a República Popular da China que tem 5%, acaba por controlar 28% da elétrica portuguesa. Atualmente a EDP é uma empresa multinacional com interesses em vários países em quase todos os continentes, com uma exposição significativa nos EUA e no Brasil.

Esta OPA enfrenta vários obstáculos resultantes legislações e reguladores nacionais e internacionais.

Como a EDP Renováveis é uma empresa detida em grande parte pela EDP, a CTG lançou uma OPA também à subsidiária de 7.33 € ação, bastante aquém dos 7.80 € que cotava antes da OPA e dos atuais 8.15 €/ ação.

Podemos adiantar vários cenários sobre o desfecho desta OPA, desde o puro insucesso ao sucesso mais vantajoso para os acionistas. Existem várias variáveis que devemos a ter em conta: o preço de 3.11 € por ação no dia anterior à OPA, a média dos últimos 6 meses que é de 2.94 €, o mínimo do ano nos 2.63 € no início de fevereiro, o preço da OPA nos 3.26 € e a cotação atual nos 3.41 €/ação.

Um primeiro cenário passa pelo insucesso da OPA e, neste caso, o desempenho do título em bolsa será limitado e andará muito provavelmente à volta da média dos preços-alvo apontados pelas várias casas financeiras que seguem a EDP, que atualmente se encontra nos 3.35 €/ação. Esta probabilidade é baixa.

Um segundo cenário, também com uma probabilidade relativamente baixa de acontecer, é o do sucesso da OPA a 3.26 €/ação, e a penalização dos investidores que compraram entre os 3.35 e os 3.50 €/ação no intuito de ganharem dinheiro com uma revisão em alta do preço da oferta.

Um terceiro cenário, e o mais desejado pelos investidores, passa pelo surgimento de um novo oferente com um prémio de controlo que poderá andar pelos 20% acima do preço da OPA, ou seja uma OPA concorrente no valor de 3.90 €/ação. A probabilidade deste cenário ronda os 50%.

Também com uma probabilidade próxima dos 50%, há um quarto cenário em que a CTG sobe o preço da oferta em 5%, para 3.42 €/ação, muito perto do que o título tem feito em média desde o lançamento da OPA. Neste cenário falta-nos saber se existiria força para uma OPA concorrente…

A EDP tem ativos m
uito apetecíveis, desde os créditos de carbono que poderão atrair empresas de energia do norte da Europa aos ativos nos EUA. Em termos de rácios financeiros não anda longe dos seus pares quanto ao PER ("Price Earning Ratio") de 9 e ao "Dividend Yield" de 5%. Tem, porém, uma enorme dívida, vivendo com uma considerável alavancagem.

Paulo Rosa, In "Vida Económica", 15 de junho 2018



segunda-feira, 4 de junho de 2018

O SUL DA EUROPA, OUTRA VEZ


Depois de Itália, agora é a Espanha a adensar os problemas políticos na Zona Euro. O partido "Ciudadanos" pede eleições antecipadas e o PSOE apresenta uma moção de censura contra o governo do PP liderado por Mariano Rajoy.

Só nos primeiros dois dias desta semana, a taxa das obrigações do tesouro a 10 anos de Espanha subiu 38 pontos base, de 1,36% para 1,74%. O spread face à divída alemã aumentou significativamente, em 66,5 pontos base, sendo que a taxa da dívida germânica a 10 anos caiu mais de 60%, 28,5 pontos base, de 0,475% para 0,19%. É o habitual refúgio dos investidores que se abrigam da incerteza em obrigações de um país líder e motor da economia da Zona Euro. As obrigações soberanas francesas também servem de refúgio, com a taxa a 10 anos a descer 12%. Já a dívida pública portuguesa a 10 anos luta para sacudir a imagem de mau aluno, impressionando a Comissão Europeia, mas a taxa já subiu 33% para os 2,53%.
O mercado acionista espanhol perdeu 5% e o italiano desceu 6,5%, enquanto as praças de Frankfurt e Paris perdiam pouco mais de 1%. O Deutsche Bank parou as quedas que o deixaram próximo do mínimo histórico e a banca mediterrânica cedeu consideravelmente: o Santander caiu 12%, o BCP 14% e o UniCredit 12% (tendo perdido 23 % desde 14 de maio).

Apesar de o Banco Central Europeu (BCE) continuar com os incentivos, as taxas de juro de longo prazo entre o Norte da Europa e os países periféricos voltaram a divergir. Podemos ler este sinal como uma antecipação do que vai suceder assim que o BCE iniciar uma política monetária contracionista, tal como já acontece nos EUA por parte da FED há mais de três anos. Os investidores voltarão a distinguir as contas públicas dos países da Europa setentrional e da Europa mediterrânica, tal como aconteceu a seguir à crise do "subprime" em 2008. Esta perceção do mercado é bastante negativa para o futuro da Zona Euro e da União Europeia.

As famigeradas eurobonds, obrigações emitidas por um "tesouro europeu", supranacional, existiram implicitamente entre 2000 e 2008, quando as taxas da dívida grega e da alemã eram muito semelhantes. Desde 2015, a política do BCE criou uma convergência artificial das rentabilidades. A verdade é que, sem o BCE, o Sul da Europa não consegue convergir com o Norte da Europa. O Banco Central da Zona Euro é o cimento agregador da frágil integração europeia. O BCE tem conseguido fazer pela Europa aquilo que os governos dos Estados-Membros se recusam a realizar. Os vários executivos da União Europeia, agrilhoados às agendas eleitorais, tentam desviarse dos ajustamentos orçamentais e das dívidas públicas, apesar de o BCE lhes estar a comprar tempo para colocarem as contas públicas em ordem. As dívidas públicas mais elevadas são da Europa Meridional.

Em 2017, face ao PIB, a dívida pública foi de 125% em Portugal, 132% em Itália, 100% em Espanha e 178% na Grécia. Na Alemanha, foi de 64%. A média dos 27 países da UE é de 81%.

É paradoxal que sejam os Bancos Centrais (BC), que muitas vezes estão na génese das crises financeiras, a salvarem Zonas Económicas. Os mercados, e a sua função primordial na determinação das taxas de juro segundo o equilíbrio entre quem poupa e adia o consumo e quem antecipa o investimento ou o consumo e pede emprestado, deveriam sobrepor-se à definição das taxas de juro pelo Banco Central. Que arma utilizará o BCE na próxima crise?

Paulo Rosa, In "Vida Económica", 1 de junho 2018






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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.