Para entender como poderá ser
a forma de recuperação económica pós-Covid19, parece pertinente examinar a
história das pandemias.
Não existe uma vacina para nenhum dos seis tipos de coronavírus que afetam o ser humano, tal como não há, até ao momento, para o novo coronavírus, e as pandemias são geralmente caracterizadas por uma segunda vaga antes da existência de um tratamento.
Estamos perante a "economia 90%", com os setores do turismo, hotelaria, restauração e aviação a funcionarem, ainda, significativamente abaixo das suas potencialidades, e sem se saber por quanto tempo. Neste particular, a China é um importante "Leading Indicator", porque estava a desconfinar quando o resto do mundo começou a encerrar as suas fronteiras. Em meados de maio, o congestionamento nas 100 maiores cidades chinesas havia regressado à normalidade, todavia o nível de passageiros do metro nas nove maiores cidades chinesas estava 30% abaixo de 2019, e as viagens de longa distância (rodoviário, ferroviário e aéreo) estavam a menos de 50% dos números do ano passado. O distanciamento social dita as regras e, parece, que veio para ficar por um tempo indeterminado...
No entanto, o mercado continua a cristalizar a enérgica política monetária expansionista dos bancos centrais.
Na China, a maioria dos setores regista níveis dececionantes de retorno à normalidade e, se excluirmos setores como o cimento, que são impulsionados por investimentos governamentais e de empresas estatais, a recuperação está longe de um V É mais um U ou um W!
Os investigadores de um estudo publicado no "The Journal of Infectious Diseases" examinaram os sete coronavírus conhecidos por infetarem os seres humanos, concentrando-se nos quatro mais comuns: OC43, 229E, HKU1 e NL63, concluindo que apareceram mais no inverno e no início da primavera, e comportam-se de maneira altamente sazonal e previsível. São endémicos em todo o mundo e responsáveis por cerca de 10% a 30% das infeções do trato respiratório, e resfriados comuns.
O MERS-CoV (MERS, Middle East Respiratory Syndrome) parece gozar de alguma sazonalidade bianual, mas não comprovada cientificamente, relacionada com o maior tráfego de camelos. Somente o tempo dirá se o SARS- CoV-2, o novo coronavírus que causa a doença da Covid-19, se tomará uma presença contínua no cenário sazonal de um coronavírus humano, ou terá uma circulação limitada como o MERS na Península Arábica, ou desaparecerá do ambiente humano, como parece ter acontecido com o SARS-CoV (SARS, Severe Acute Respiratory Syndrome).
Segundo cientistas, aparentemente o SARS-CoV-2 promove imunidade como outros coronavírus. Isso significa que o corpo humano, provavelmente, reterá a memória do vírus pelo menos durante alguns anos, e deverá ficar protegido contra reinfeções pelo menos a curto prazo. Mas temem que o SARS- CoV-2 possa ser um vírus que se mostre resistente à vacinação. O FDA nunca aprovou uma vacina para seres humanos que seja eficaz contra qualquer membro da família dos coronavírus humanos, que inclui o SARS e o MERS. Existe sempre o risco de nunca podermos obter uma boa vacina contra o coronavírus.
Porém, o SARS-CoV-2 é o único coronavírus humano responsável por uma pandemia e, obviamente, há um significativo investimento e um esforço hercúleo em investigação para se obter uma vacina e um tratamento que jamais existiu com qualquer outro coronavírus. O choque para os consumidores foi significativo e a maioria pode decidir não voltar aos níveis anteriores de gastos ou ao mesmo padrão de consumo. A JP Morgan estima que os lucros em 2021, provavelmente, estejam 20% abaixo do nível de 2019, contrariando a recuperação das ações. Jerome Powell também sinalizou que a retoma nos EUA não começará antes do final de 2021, e as estimativas da Fed tendem a ser diplomáticas e geralmente otimistas.
O Deutsche Bank mencionou que leva cerca de 22 dias para encerrar uma economia e cerca de quatro a 10 vezes esse tempo para regressar à normalidade. Considerando que 75% das perdas de empregos são provenientes do setor de serviços (viagens e lazer, educação, saúde), uma recuperação em W, ditada pelo distanciamento, é mais plausível do que em V.
Paulo Monteiro Rosa, In Vida Económica, 29 de maio 2020
Não existe uma vacina para nenhum dos seis tipos de coronavírus que afetam o ser humano, tal como não há, até ao momento, para o novo coronavírus, e as pandemias são geralmente caracterizadas por uma segunda vaga antes da existência de um tratamento.
Estamos perante a "economia 90%", com os setores do turismo, hotelaria, restauração e aviação a funcionarem, ainda, significativamente abaixo das suas potencialidades, e sem se saber por quanto tempo. Neste particular, a China é um importante "Leading Indicator", porque estava a desconfinar quando o resto do mundo começou a encerrar as suas fronteiras. Em meados de maio, o congestionamento nas 100 maiores cidades chinesas havia regressado à normalidade, todavia o nível de passageiros do metro nas nove maiores cidades chinesas estava 30% abaixo de 2019, e as viagens de longa distância (rodoviário, ferroviário e aéreo) estavam a menos de 50% dos números do ano passado. O distanciamento social dita as regras e, parece, que veio para ficar por um tempo indeterminado...
No entanto, o mercado continua a cristalizar a enérgica política monetária expansionista dos bancos centrais.
Na China, a maioria dos setores regista níveis dececionantes de retorno à normalidade e, se excluirmos setores como o cimento, que são impulsionados por investimentos governamentais e de empresas estatais, a recuperação está longe de um V É mais um U ou um W!
Os investigadores de um estudo publicado no "The Journal of Infectious Diseases" examinaram os sete coronavírus conhecidos por infetarem os seres humanos, concentrando-se nos quatro mais comuns: OC43, 229E, HKU1 e NL63, concluindo que apareceram mais no inverno e no início da primavera, e comportam-se de maneira altamente sazonal e previsível. São endémicos em todo o mundo e responsáveis por cerca de 10% a 30% das infeções do trato respiratório, e resfriados comuns.
O MERS-CoV (MERS, Middle East Respiratory Syndrome) parece gozar de alguma sazonalidade bianual, mas não comprovada cientificamente, relacionada com o maior tráfego de camelos. Somente o tempo dirá se o SARS- CoV-2, o novo coronavírus que causa a doença da Covid-19, se tomará uma presença contínua no cenário sazonal de um coronavírus humano, ou terá uma circulação limitada como o MERS na Península Arábica, ou desaparecerá do ambiente humano, como parece ter acontecido com o SARS-CoV (SARS, Severe Acute Respiratory Syndrome).
Segundo cientistas, aparentemente o SARS-CoV-2 promove imunidade como outros coronavírus. Isso significa que o corpo humano, provavelmente, reterá a memória do vírus pelo menos durante alguns anos, e deverá ficar protegido contra reinfeções pelo menos a curto prazo. Mas temem que o SARS- CoV-2 possa ser um vírus que se mostre resistente à vacinação. O FDA nunca aprovou uma vacina para seres humanos que seja eficaz contra qualquer membro da família dos coronavírus humanos, que inclui o SARS e o MERS. Existe sempre o risco de nunca podermos obter uma boa vacina contra o coronavírus.
Porém, o SARS-CoV-2 é o único coronavírus humano responsável por uma pandemia e, obviamente, há um significativo investimento e um esforço hercúleo em investigação para se obter uma vacina e um tratamento que jamais existiu com qualquer outro coronavírus. O choque para os consumidores foi significativo e a maioria pode decidir não voltar aos níveis anteriores de gastos ou ao mesmo padrão de consumo. A JP Morgan estima que os lucros em 2021, provavelmente, estejam 20% abaixo do nível de 2019, contrariando a recuperação das ações. Jerome Powell também sinalizou que a retoma nos EUA não começará antes do final de 2021, e as estimativas da Fed tendem a ser diplomáticas e geralmente otimistas.
O Deutsche Bank mencionou que leva cerca de 22 dias para encerrar uma economia e cerca de quatro a 10 vezes esse tempo para regressar à normalidade. Considerando que 75% das perdas de empregos são provenientes do setor de serviços (viagens e lazer, educação, saúde), uma recuperação em W, ditada pelo distanciamento, é mais plausível do que em V.
Paulo Monteiro Rosa, In Vida Económica, 29 de maio 2020