O novo coronavírus retirou um terço ao PIB dos EUA no
2º trimestre. O confinamento e o distanciamento social ditam o pior registo
desde 1947. O consumo pessoal foi a variável que mais penalizou e contraiu
34.6%, era esperada uma queda de 34.5%. No 1º trimestre o declínio tinha sido
de 6.8%.
É o pior registo de sempre com base em dados do Bureau of Economic Analysis que
são compilados desde 1947. O anterior pior registo do PIB foi no primeiro
trimestre de 1958, aquando da pior fase da gripe asiática, altura em que o PIB
caiu 10%.
Um colapso nos gastos das famílias, que já era fraco no primeiro trimestre,
levou à queda significativa do PIB, refletida nos números históricos de perdas
de empregos. As paralisações e a fraca procura também pesaram no investimento
comercial e residencial.
Os gastos do governo aumentaram 2.7%, com um aumento de 39.7% nas despesas não
relacionadas com a defesa, abrangendo parte do estímulo orçamental da “Lei de
Ajuda, Alívio e Segurança Económica (CARES) ao Coronavírus”.
Os mercados acionistas foram também penalizados pela notícia veiculada pela
Reuters sobre a intenção de Donald Trump de adiar as eleições presidenciais de
novembro, embora a Constituição norte-americana reserve esse poder ao
Congresso, não ao presidente.
O impasse nas negociações de estímulos económicos adicionais nos EUA e anúncios
de resultados de empresas na Europa que não entusiasmaram, têm igualmente
penalizado o sentimento dos mercados acionistas a nível global, com os
investidores a preferirem ativos de refúgio, como títulos do governo e ouro. O
partido republicano dos EUA anunciou na segunda-feira um pacote de ajuda de um
trilião de dólares, mas os democratas consideraram-no muito limitado em
comparação com a sua proposta de 3 triliões que foi aprovada na Câmara dos
Deputados em maio. Este impasse nas negociações e dados que revelaram uma menor
confiança dos consumidores, fruto do número de novos casos em vários estados do
país ainda ser muito significativo têm penalizado as bolsas.
Perante as quedas dos mercados acionistas, o dólar americano subiu, após várias
sessões em queda, e recuperou o seu estatuto de principal unidade de conta
mundial, moeda de refúgio e procura de liquidez em momentos de maior
turbulência nos mercados.
A Jerónimo Martins registou uma queda de 36.2%
no lucro líquido do primeiro semestre, penalizada pela pandemia do novo
coronavírus. O CEO prevê que os próximos tempos serão mais difíceis. As vendas
consolidadas da retalhista subiram 4.6% no primeiro semestre de 2020, lideradas
pela robustez da polaca Biedronka, mas no segundo trimestre caíram 1.3%. A
margem EBITDA consolidada desceu para 6.8% no primeiro trimestre de 2020 contra
7.5% no mesmo período do ano passado, enquanto a da Biedronka caiu para 9%
contra 9.2% nos primeiros seis meses de 2019. A Jerónimo Martins disse que
"a incerteza sobre o desenvolvimento da pandemia continua muito elevada,
sendo ainda cedo para estimar o impacto real que, no conjunto do ano, terá na
economia mundial e em cada um dos países em que operamos".
Empresas internacionais
Pfizer eleva previsão de lucro para 2020 com recuperação projetada na venda de
medicamentos. No trimestre, a empresa teve um impacto negativo de cerca de 500
milhões de dólares em vendas devido a uma queda nas consultas médicas. Esse
impacto, no entanto, foi atenuado pela procura pelo diluente de sangue Eliquis,
que tem sido usado por alguns médicos para ajudar no tratamento da Covid-19 e
do medicamento para o cancro, Ibrance.
A McDonald's divulgou uma queda maior do que o esperado nas vendas globais e
não conseguiu bater as expectativas dos analistas, justificando estas contas
com o facto dos seus restaurantes terem fechado devido à pandemia, sendo que as
vendas em drive-thru e entregas não foram suficientes para atenuar estes
impactos.
Empresas nacionais
O maior banco privado português, o Millennium BCP, anunciou uma queda de 55.3%
no lucro líquido do primeiro semestre, para 76 milhões de euros, com uma forte
subida das provisões para se precaver contra o aumento do malparado devido à
recessão provocada pela pandemia do novo coronavírus.
Galp com prejuízo de 22 milhões no primeiro semestre. A empresa anuncia que
este ano não vai pagar o dividendo interino, referente ao segundo semestre. No
acumulado do 1º trimestre, a Galp regista um prejuízo ajustado de 22 milhões de
euros, que compara com os 303 milhões de euros positivos do período homólogo.
Ouro em máximos
Próximo dos 2000 dólares por onça, o ouro continua na senda dos ganhos como
forma dos investidores se protegerem contra a depreciação das moedas
fiduciárias. As principais moedas mundiais estão agora mais vulneráveis ao ouro
e são preteridas pelos investidores. Estes preferem o metal amarelo à medida
que as taxas de juro subjacentes às moedas fiduciárias se aproximam de zero,
para combater a crise económica e estimular o investimento, não tendo neste
particular qualquer diferenciação em relação ao ouro que não gera rendimento,
apenas ganhos de capital.
O ouro é uma excelente proteção contra a considerável criação de dinheiro pelos
bancos centrais e não é utilizado pela população em geral devido ao baixo
rendimento disponível, ao aumento do desemprego, e por vezes à falta de
literacia financeira.
Paulo Rosa, Jornal Económico, 31 de julho 2020
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