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sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Atual pandemia penaliza bastante mais o PIB que gripe asiática de 1958

O novo coronavírus retirou um terço ao PIB dos EUA no 2º trimestre. O confinamento e o distanciamento social ditam o pior registo desde 1947. O consumo pessoal foi a variável que mais penalizou e contraiu 34.6%, era esperada uma queda de 34.5%. No 1º trimestre o declínio tinha sido de 6.8%.

É o pior registo de sempre com base em dados do Bureau of Economic Analysis que são compilados desde 1947. O anterior pior registo do PIB foi no primeiro trimestre de 1958, aquando da pior fase da gripe asiática, altura em que o PIB caiu 10%.
Um colapso nos gastos das famílias, que já era fraco no primeiro trimestre, levou à queda significativa do PIB, refletida nos números históricos de perdas de empregos. As paralisações e a fraca procura também pesaram no investimento comercial e residencial.
Os gastos do governo aumentaram 2.7%, com um aumento de 39.7% nas despesas não relacionadas com a defesa, abrangendo parte do estímulo orçamental da “Lei de Ajuda, Alívio e Segurança Económica (CARES) ao Coronavírus”.

Os mercados acionistas foram também penalizados pela notícia veiculada pela Reuters sobre a intenção de Donald Trump de adiar as eleições presidenciais de novembro, embora a Constituição norte-americana reserve esse poder ao Congresso, não ao presidente.

O impasse nas negociações de estímulos económicos adicionais nos EUA e anúncios de resultados de empresas na Europa que não entusiasmaram, têm igualmente penalizado o sentimento dos mercados acionistas a nível global, com os investidores a preferirem ativos de refúgio, como títulos do governo e ouro. O partido republicano dos EUA anunciou na segunda-feira um pacote de ajuda de um trilião de dólares, mas os democratas consideraram-no muito limitado em comparação com a sua proposta de 3 triliões que foi aprovada na Câmara dos Deputados em maio. Este impasse nas negociações e dados que revelaram uma menor confiança dos consumidores, fruto do número de novos casos em vários estados do país ainda ser muito significativo têm penalizado as bolsas.

Perante as quedas dos mercados acionistas, o dólar americano subiu, após várias sessões em queda, e recuperou o seu estatuto de principal unidade de conta mundial, moeda de refúgio e procura de liquidez em momentos de maior turbulência nos mercados.

A Jerónimo Martins registou uma queda de 36.2% no lucro líquido do primeiro semestre, penalizada pela pandemia do novo coronavírus. O CEO prevê que os próximos tempos serão mais difíceis. As vendas consolidadas da retalhista subiram 4.6% no primeiro semestre de 2020, lideradas pela robustez da polaca Biedronka, mas no segundo trimestre caíram 1.3%. A margem EBITDA consolidada desceu para 6.8% no primeiro trimestre de 2020 contra 7.5% no mesmo período do ano passado, enquanto a da Biedronka caiu para 9% contra 9.2% nos primeiros seis meses de 2019. A Jerónimo Martins disse que "a incerteza sobre o desenvolvimento da pandemia continua muito elevada, sendo ainda cedo para estimar o impacto real que, no conjunto do ano, terá na economia mundial e em cada um dos países em que operamos".

Empresas internacionais

Pfizer eleva previsão de lucro para 2020 com recuperação projetada na venda de medicamentos. No trimestre, a empresa teve um impacto negativo de cerca de 500 milhões de dólares em vendas devido a uma queda nas consultas médicas. Esse impacto, no entanto, foi atenuado pela procura pelo diluente de sangue Eliquis, que tem sido usado por alguns médicos para ajudar no tratamento da Covid-19 e do medicamento para o cancro, Ibrance.
A McDonald's divulgou uma queda maior do que o esperado nas vendas globais e não conseguiu bater as expectativas dos analistas, justificando estas contas com o facto dos seus restaurantes terem fechado devido à pandemia, sendo que as vendas em drive-thru e entregas não foram suficientes para atenuar estes impactos.

Empresas nacionais
O maior banco privado português, o Millennium BCP, anunciou uma queda de 55.3% no lucro líquido do primeiro semestre, para 76 milhões de euros, com uma forte subida das provisões para se precaver contra o aumento do malparado devido à recessão provocada pela pandemia do novo coronavírus.
Galp com prejuízo de 22 milhões no primeiro semestre. A empresa anuncia que este ano não vai pagar o dividendo interino, referente ao segundo semestre. No acumulado do 1º trimestre, a Galp regista um prejuízo ajustado de 22 milhões de euros, que compara com os 303 milhões de euros positivos do período homólogo.

Ouro em máximos
Próximo dos 2000 dólares por onça, o ouro continua na senda dos ganhos como forma dos investidores se protegerem contra a depreciação das moedas fiduciárias. As principais moedas mundiais estão agora mais vulneráveis ao ouro e são preteridas pelos investidores. Estes preferem o metal amarelo à medida que as taxas de juro subjacentes às moedas fiduciárias se aproximam de zero, para combater a crise económica e estimular o investimento, não tendo neste particular qualquer diferenciação em relação ao ouro que não gera rendimento, apenas ganhos de capital.
O ouro é uma excelente proteção contra a considerável criação de dinheiro pelos bancos centrais e não é utilizado pela população em geral devido ao baixo rendimento disponível, ao aumento do desemprego, e por vezes à falta de literacia financeira.

Paulo Rosa, Jornal Económico, 31 de julho 2020


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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.