Atualmente o tempo médio de detenção de uma
ação em carteira por um investidor tem diminuído significativamente. De facto,
a Reuters estima que o período médio de detenção de ações norte-americanas foi
de apenas 5 meses e meio em junho, contra 8 meses e meio há um ano. Estará a
estratégia de “buy and hold” ultrapassada?
A sucessiva e previsível política monetária expansionista da Reserva Federal
norte-americana tem contribuído para a paulatina subida dos mercados acionistas
e tem dado aos “daytraders”, nomeadamente clientes de corretoras semelhantes à
Robinhood, a oportunidade de abrirem uma posição compradora (ou vendedora) na
abertura do mercado e encerrá-la todos os dias, especialmente no fecho da
bolsa.
O anterior mínimo havia sido de 6 meses e foi atingido logo após a crise
financeira de 2008. Em 1999, por exemplo, 14 meses eram a média. Segundo a
Reuters, os dados recolhidos na Europa são semelhantes e mostram um período de
retenção de ações em carteira que diminuiu para apenas 5 meses, abaixo dos 7
meses de dezembro passado.
O “para sempre”, período de detenção favorito de Warren Buffett,
tem cada vez menos entusiastas, com o tempo médio que as ações passam num
portfólio a atingir um nível recorde este ano, enquanto os investidores navegam
nas oscilações do mercado para obter ganhos rápidos. O tempo em que os
investidores detêm ações encolhe há décadas, mas a tendência agudizou-se este
ano perante mercados voláteis.
Investimentos sem comissão e os algoritmos também contribuem para essa
tendência. No entanto, as taxas de juros de 0%, os triliões de dólares em
estímulos dos bancos centrais e dos governos e os altos níveis de incerteza
causados pela pandemia aumentaram o ímpeto dos negócios fáceis e rápidos. A
estratégia de “Buy and hold” está a ser ultrapassada
pelo simples método do “buy and sell”.
Grosso modo, o capital não tem um preço graças a todos esses estímulos
monetários. A crise da Covid-19 acelerou a tendência do curto prazo no
investimento.
Enquanto isso, há pouca clareza sobre os
ganhos futuros das empresas, as perspetivas económicas e a evolução da
pandemia. Os índices de rotatividade, a percentagem de ativos da carteira
substituídos num período de 12 meses, aumentaram para 92% no final de junho,
face aos 85% no ano anterior, para um grupo de fundos globais de múltiplos
ativos acompanhados pela Lipper, entidade da Thomson Reuters que classifica fundos
de investimentos entre outras análises financeiras. A tendência garantiu
retornos interessantes para os negociadores ágeis, mas também coloca questões
sobre a estabilidade do mercado quando o estímulo desaparecer.
Mas os investidores de “buy and hold” tiveram até agora um ano difícil, não
obtendo, em boa verdade, qualquer ganho. As ações perderam cerca de 40% e
recuperaram dessa queda no espaço de apenas três ou quatro meses. Após a crise
financeira de 2008, movimentos de tal magnitude ocorreram durante um período de
três anos.
As estratégias de baixa rotatividade enfrentam dificuldades no atual ambiente,
pois não são tão duradouras contra as rápidas rotações que ocorrem nos setores
e face a diferentes estilos de investimento. De realçar o impulso dado à
“Quarta Revolução Industrial” e o desempenho das FAAMG em tempos de Covid-19.
Todavia, o que acaba por influenciar o desempenho da cotação das ações no longo prazo são os resultados. É necessário manter bons investimentos por um longo período de tempo para estudar, avaliar e observar as empresas a executarem as suas decisões de negócios.
Paulo Rosa, In Vida Económica, 7 de agosto de 2020
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