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sexta-feira, 21 de agosto de 2020

A Suécia e a tríade impossível

 A economia sueca contraiu 8.6% no 2º trimestre e havia crescido 0.1% de janeiro a março, enquanto que o PIB dinamarquês se retraiu 7.4% de abril a junho, e havia descido 2% no 1º trimestre. A Suécia foi penalizada pelo encerramento das suas principais empresas, tais como a Volvo e a Scania. A Dinamarca foi em parte beneficiada pelo aumento significativo de venda de medicamentos durante a pandemia, nomeadamente aos EUA. Apesar do Reino Sueco ter optado por um bloqueio parcial, a maior parte dos restantes países do mundo estavam confinados, o que é contraproducente para uma economia extremamente aberta.
No gráfico, o desempenho do principal índice da bolsa de Copenhaga é semelhante à evolução do Nasdaq100 e o índice acionista de Estocolmo é análogo ao comportamento do DAX alemão.

A Dinamarca encerrou as escolas, os restaurantes e bares, os cabeleireiros e proibiu os grandes eventos. Por outro lado, a Suécia permitiu que bares e restaurantes permanecessem abertos, bem como parte das escolas, e apenas proibiu os grandes eventos, ficando bastante aquém das políticas de distanciamento social adotadas pelo país vizinho.
No cômputo da pandemia, até ao dia 17 de agosto haviam falecido de covid-19 na Suécia um total de 5787 pessoas. Cerca de 75% das mortes foram registadas nos meses de abril e maio, mais precisamente 45% em abril e 30% em maio. Ponderado pela população de cada país, a Suécia tem até ao momento quase três vezes mais casos e cinco vezes mais mortes por covid-19. No entanto, há uma crescente sensibilização da população sueca para o distanciamento social. Segundo Anders Tegnell, médico sueco especializado em doenças infeciosas e atual epidemiologista chefe da Suécia, em média, os suecos têm apenas cerca de 30% das interações sociais que tinham antes da pandemia, e a Agência de Contingências Civis da Suécia sugere que 87% da população continua a seguir as recomendações de distanciamento social na mesma medida que fazia uma ou duas semanas antes, contra 82% no anterior mês de junho.

A epidemiologista clínica sueca e pesquisadora em saúde global, Helena Nordenstedt, salienta que os suecos tiveram mais tempo para ajustar a sua forma de agir em público do que os países que confinaram, e poderá ser uma vantagem para mitigar uma potencial segunda vaga.

As autoridades suecas justificaram que mantendo a sociedade mais aberta, e protegendo as pessoas de risco e idosos, os suecos teriam maior probabilidade de desenvolver resistência à covid-19. Cinco meses após o início da pandemia na Europa, apenas 6% da população local possui anticorpos.

A Suécia argumentou também que manter a sociedade mais aberta poderia limitar a perda de empregos, nomeadamente no setor do consumo discricionário, e mitigar o impacto económico. Porém, a taxa de desemprego na Suécia aumentou 2.7 pontos percentuais de 7.1% no final de março para 9.8% no final de junho. Na Dinamarca, a taxa de desemprego no segundo trimestre aumentou 1.4 pontos percentuais de 4.1% para 5.5%.

Provavelmente estamos perante uma tríade impossível. Medidas flexíveis para enfrentar a pandemia num país aberto, caso os restantes países decidam confinar, mitigam apenas, e parcialmente, o consumo interno. Tal como, analogamente, numa economia aberta, não se pode ter simultaneamente câmbios fixos e o controlo da política monetária.




A SUÉCIA E A TRÍADE IMPOSSÍVEL
Vida Económica | 21-08-2020 | PAG 29
PAULO ROSA
Economista Sénior do Banco Carregosa




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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.