A
Dinamarca encerrou as escolas, os restaurantes e bares, os cabeleireiros e
proibiu os grandes eventos. Por outro lado, a Suécia permitiu que bares e
restaurantes permanecessem abertos, bem como parte das escolas, e apenas
proibiu os grandes eventos, ficando bastante aquém das políticas de
distanciamento social adotadas pelo país vizinho.
No cômputo da pandemia, até ao dia 17 de agosto haviam falecido de covid-19 na
Suécia um total de 5787 pessoas. Cerca de 75% das mortes foram registadas nos
meses de abril e maio, mais precisamente 45% em abril e 30% em maio. Ponderado
pela população de cada país, a Suécia tem até ao momento quase três vezes mais
casos e cinco vezes mais mortes por covid-19. No entanto, há uma crescente
sensibilização da população sueca para o distanciamento social. Segundo Anders
Tegnell, médico sueco especializado em doenças infeciosas e atual
epidemiologista chefe da Suécia, em média, os suecos têm apenas cerca de 30%
das interações sociais que tinham antes da pandemia, e a Agência de Contingências
Civis da Suécia sugere que 87% da população continua a seguir as recomendações
de distanciamento social na mesma medida que fazia uma ou duas semanas antes,
contra 82% no anterior mês de junho.
A epidemiologista clínica sueca e pesquisadora em saúde global, Helena
Nordenstedt, salienta que os suecos tiveram mais tempo para ajustar a sua forma
de agir em público do que os países que confinaram, e poderá ser uma vantagem para
mitigar uma potencial segunda vaga.
As autoridades suecas justificaram que mantendo a sociedade mais aberta, e
protegendo as pessoas de risco e idosos, os suecos teriam maior probabilidade
de desenvolver resistência à covid-19. Cinco meses após o início da pandemia na
Europa, apenas 6% da população local possui anticorpos.
A Suécia argumentou também que manter a sociedade mais aberta poderia limitar a perda de empregos, nomeadamente no setor do consumo discricionário, e mitigar o impacto económico. Porém, a taxa de desemprego na Suécia aumentou 2.7 pontos percentuais de 7.1% no final de março para 9.8% no final de junho. Na Dinamarca, a taxa de desemprego no segundo trimestre aumentou 1.4 pontos percentuais de 4.1% para 5.5%.
Provavelmente estamos perante uma tríade impossível. Medidas flexíveis para enfrentar a pandemia num país aberto, caso os restantes países decidam confinar, mitigam apenas, e parcialmente, o consumo interno. Tal como, analogamente, numa economia aberta, não se pode ter simultaneamente câmbios fixos e o controlo da política monetária.A SUÉCIA E A TRÍADE IMPOSSÍVEL
Vida Económica | 21-08-2020 | PAG 29
PAULO ROSA
Economista Sénior do Banco Carregosa
Sem comentários:
Enviar um comentário