Há um ano o otimismo, impulsionado pelas vacinas, reinava entre os investidores,
mas poucos previam a robustez das valorizações que empurraram as ações
europeias e norte-americanas para máximos históricos consecutivos ao longo de
2021. Poucos antecipavam as sucessivas valorizações das criptomoedas,
impulsionadas nomeadamente pelo Ethereum e os NFTs (Non Tangible Token) que
surgiram à sua volta. Marcaram também 2021, a desaceleração chinesa e a crise
de liquidez que tem afetado os seus promotores imobiliários, bem como a
multiplicação histórica de SPACs (Special Purpose Acquisition Company) e a
valorização das fabricantes de veículos elétricos.
A evolução da pandemia, e tudo o que a rodeia, tem sido o principal motor do
mercado há quase dois anos, causando um ‘selloff’ histórico em março de
2020 e, em seguida, uma recuperação sustentada pelos programas de vacinação que
permitiram a gradual reabertura da economia. Atualmente, as preocupações
pandémicas regressaram sob a capa da nova variante ómicron. É provável que o
novo coronavírus SARS-CoV-2, responsável pela doença Covid-19, se torne
secundário no próximo ano, à medida que o aparecimento de comprimidos
antivirais orais da Pfizer e da Merck aumentem a capacidade para superar a
infeção. Talvez o vírus se torne um incómodo endémico, mas controlável. Ainda
assim, se há algo que a pandemia nos ensinou é que estratégia no mercado
acionista é uma coisa e a epidemiologia é outra. Mesmo que o vírus
desaparecesse por completo, continuaria provavelmente a definir o rumo dos
mercados acionistas, pela simples razão que deixaria de existir racional para
continuarem os estímulos orçamentais e monetários, dois dos principais motores
da exuberância deste ano, espelhada na valorização dos mercados acionistas e dos
criptoativos, e aumento de SPACs.
A elevada inflação este ano tem sido gerível porque os crescentes lucros
provaram que as empresas conseguem repassar os custos mais elevados (desde matérias-primas
à mão de obra) para um consumidor que continua disposto a gastar. Se as
pressões inflacionistas forem gradualmente diminuindo nos próximos meses,
nomeadamente depois da primavera, talvez o mercado acionista não reaja em forte
alta, porque muito provavelmente as ações já descontam esse potencial fenómeno
de alívio de inflação. Mais ou menos acelerado, o ‘tapering’ da Reserva
Federal dos EUA e as três subidas de taxas de juro da Fed previstas pelos
futuros da bolsa de Chicago, poderão abrandar a inflação. Todavia, se as
pressões sobre os preços persistirem, ou mesmo se intensificarem, o cenário
passa de gerível e benéfico a tortuoso e indesejável no que concerne às ações. Estas
são apenas uma boa proteção contra a inflação temporária, refletida em desequilíbrios
pontuais entre a oferta e a procura. Um intervalo de inflação transitória entre
3% a 5% é administrável. Mas uma inflação prolongada penalizaria os lucros das
empresas e resultaria numa estagflação, espelhada numa inflação estrutural em
que a produção não conseguiria responder à procura. A inflação elevada também
pressionaria os bancos centrais a apertar consideravelmente a sua política
monetária, aumentando assim os custos dos empréstimos para países muitos
endividados, como Itália. O impacto da redução de compras do BCE de dívida
periférica europeia está talvez entre os maiores riscos observáveis no próximo
ano, mas outros cisnes negros podem sempre aparecer.
A transição energética poderá tornar a inflação estruturalmente mais alta, mas
a descarbonização cria também oportunidades de investimento, e os carros
elétricos são o exemplo mais conhecido. O partido alemão ‘os verdes’ suporta a
atual coligação de governo germânico e poderá impulsionar ainda mais os
investimentos ‘verdes’. Entre as restrições chinesas e as políticas de Xi
Jinping também, com certeza, existirão oportunidades de investimento, como seja
o renovável.
O ‘rebranding’ do Facebook chamou a atenção para um espaço crescente de
atividade económica fora do mundo físico. Os ‘metaversos’, os mundos digitais
são realidades crescentes onde as pessoas podem socializar e fazer negócios.
Todavia, os potenciais cisnes negros no próximo ano podem ir das tensões em
Taiwan a uma assinalável crise económica da Turquia após a queda da lira, ou do
voto presidencial francês às eleições de meio de mandato nos EUA.
Paulo Monteiro Rosa, In Vida Económica, 10 de dezembro 2021
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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sexta-feira, 10 de dezembro de 2021
2022: mais uma odisseia à volta do sol
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