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segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Atual inflação é conjuntural

Cada moeda tem uma taxa de juro subjacente que evolui de acordo com o comportamento da economia e do andamento da política monetária do banco central. São inúmeras as taxas de juro, desde as de curto prazo às de longo prazo. Juros nominais ‘versus’ reais. As taxas de juro do crédito ao consumo e as do crédito à habitação.  

Tal como existem várias taxas de juro, temos também diferentes medidas de inflação, como por exemplo: os preços no produtor, os preços no consumidor e os preços do imobiliário. Numa ótica ‘upstream & downstream’, a montante da cadeia de valor, os preços no produtor medidos pelo IPP são voláteis e refletem os preços das matérias-primas, desde metais industriais aos produtos agrícolas e à energia. Atualmente, os preços no produtor têm subido significativamente a nível global. Na Alemanha, o IPP aumentou 18,4% em outubro, a maior subida desde novembro de 1951, e sem energia cresceu 9,2%. Em Espanha, o IPP acelerou 31,9% em outubro, o mais elevado desde janeiro de 1976, mas sem energia o acréscimo foi de 9,7%. Nos EUA, a subida do IPP em outubro foi de 8,6%, a mais alta desde 2010, e excluindo alimentação e energia subiu 6,2%. Na China o aumento em outubro foi de 13,5%, o mais elevado dos últimos 26 anos.

A jusante na cadeia de valor, a subida do IPC está aquém do IPP. Na Alemanha, o IPC aumentou 4,5% em outubro, o mais elevado desde agosto de 1993. Em Espanha, subiu 5,4%, o valor mais alto dos últimos 29 anos, penalizado pelos preços da eletricidade e dos combustíveis. Na China, o IPC aumentou 1,5% em outubro. Nos EUA, o IPC subiu 6,2% em outubro, a maior subida desde novembro de 1990, agravada pelas dificuldades nas cadeias de abastecimento, como congestionamento portuário, escassez de ‘inputs’ e mão de obra, subidas dos custos de energia e aumentos salariais. O IPC sem energia e alimentação acelerou 4,6%, o mais elevado desde agosto de 1991. O indicador da inflação no consumidor medido pelo PCE ‘core’, bitola pela qual se rege a Reserva Federal dos EUA (Fed) na prossecução da sua política monetária, aumentou 4,1% em outubro, o maior desde janeiro de 1991.  

Em 2010, o preço do cobre atingiu um máximo histórico de 4,5 dólares por libra (453 gramas), desceu gradualmente até 2 dólares no final de 2015 e, atualmente, é novamente de 4,5 dólares. Em 2008, e de 2011 a 2014, o Brent cotou acima dos 100 dólares por barril, desceu até 35 dólares em 2016 e hoje cota nos 70 dólares.
O IPP é mais volátil que o IPC porque reflete melhor os ciclos económicos. A estabilidade dos salários nas últimas décadas afasta boa parte da volatilidade do IPC e confere-lhe um valor consideravelmente mais baixo relativamente ao IPP. 

O preço do imobiliário nos EUA, medido pelo índice Shiller, aumentou 19,5% de setembro de 2020 a setembro de 2021. Um ritmo que abrandou, mas é mais elevado do que em qualquer altura de forte subida dos preços das casas no período de 2003 a 2006, antes da crise imobiliária nos EUA. A teoria quantitativa da moeda representa o equilíbrio entre dinheiro e produção. A política acomodatícia da Fed, nos últimos 20 meses, impulsionou a inflação imobiliária e a subida das ações, mas penalizou a poupança real e os detentores de liquidez, corroborando o efeito Cantillon. Boa parte do dinheiro só chega às empresas e às famílias se o analista de crédito dos bancos comerciais aprovar os financiamentos, logo o impacto do aumento da quantidade de dinheiro no IPC é baixo. Além disso, a velocidade na circulação de moeda está em mínimos históricos.

De realçar que, atualmente, os EUA conseguem produzir mais do que em 2019 e com menos 5 milhões de trabalhadores, sinal de aumento de produtividade e capacidade de mitigar as subidas salariais no IPC.

A subida dos preços da energia e as interrupções nas cadeias de abastecimento configuram uma inflação conjuntural. Os preços aumentam numa economia cuja procura excede a oferta, mas se existir um aparelho produtivo estruturado e refletido num excesso de capacidade instalada, mais cedo ou mais tarde os preços tendem a regressar à normalidade.

Todavia, há uma potencial inflação estrutural no horizonte, ou seja, no longo prazo a China será menos deflacionista do que no passado, a descarbonização tem custos, os ‘baby boomers’ chegam gradualmente à reforma, e há sinais de um maior protecionismo para diminuir a dependência do exterior e mitigar as dificuldades nas cadeias de abastecimento causadas pela pandemia.

 
Paulo Monteiro Rosa



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.