O ‘efeito janeiro’ é percebido como um movimento de alta nos preços das ações
durante o mês de janeiro. Um dos principiais motivos para essa subida, no
primeiro mês do ano, poderia ser uma reação dos investidores às previsões dos
analistas, geralmente positivas decorrente da tendência de alta do PIB no longo
prazo. Apesar desse comportamento do mercado ter sido identificado no passado,
o ‘efeito janeiro’ parece ter perdido importância nos últimos anos, à medida
que a sua presença se torna gradualmente conhecida e os investidores se ajustam
mais rapidamente a esse potencial evento, nomeadamente quando as previsões
macroeconómicas para o ano são positivas. Os investidores antecipam esse efeito
de subida e realizam compras em novembro e dezembro.
Nos EUA, a subida em janeiro tem sido muitas vezes justificada pelo regresso
dos investidores aos mercados no início do ano, depois das vendas em dezembro
por motivos de eficiência fiscal, alienando os títulos com prejuízos para
realizar menos-valias e compensar as mais-valias noutros títulos. Mas também
nos EUA o ‘efeito janeiro’ tem sido paulatinamente menos importante. A partir
de 2021, mais pessoas têm planos poupança reforma protegidos por impostos e,
portanto, não têm motivos para vender no final do ano por motivos fiscais.
As perspetivas para 2022 de contração monetária por parte de muitos bancos
centrais, nomeadamente a subida de taxas de juro pela Reserva Federal dos EUA
(Fed), têm penalizado os mercados em janeiro e o S&P 500 desvaloriza cerca
de 8,6% desde o início do ano, sendo necessário recuar a 2009 para se encontrar
uma queda idêntica. Esta semana, o FMI reviu em baixa o crescimento económico
mundial para 2022 de 4,9% para 4,4%, designadamente dos EUA, da China e da
Alemanha, e manteve perspetivas pouco animadoras para a inflação que estima de 5,4%
nos EUA, 4,4% na Zona Euro e 2,2% na China.
Sendo assim, as quedas dos mercados em janeiro estão ajustadas às perspetivas
de subida de taxas de juro e à visão menos otimista do FMI, bem como ao
agravamento das tensões geopolíticas no leste europeu entre a Rússia e a
Ucrânia. Por conseguinte, há uma outra teoria conhecida como ‘barómetro janeiro’,
que sugere que os retornos do mercado de ações durante o primeiro mês do ano
preveem os do resto do ano. Se o mercado de ações subir em janeiro, mais ganhos
podem estar reservados para os restantes 11 meses, e vice-versa. Desde 1950, o
chamado ‘barómetro janeiro’ acertou 84,5% das vezes, segundo o Stock Trader's
Almanac. O ‘barómetro janeiro’ é predominantemente um fenómeno dos EUA
associado ao índice S&P 500.
Nos últimos dois anos, os meses de janeiro foram negativos, mas o S&P 500
valorizou 16,4% e 28,3% em 2020 e 2021, respetivamente. É certo que foram anos
atípicos, mas todos os anos têm mais ou menos incertezas. Em 2009, janeiro
desvalorizou 8,6% e o ano foi positivo em 35%, ou seja, nem o ‘efeito janeiro’,
nem a teoria do ‘barómetro janeiro’ prevaleceram. O mesmo aconteceu em 1992 (após
recessão económica) em 2003 (recuperação dos mercados do ‘bearmarket’) bem como
em 2005, em 2009 e 2010 (após a grande recessão) e em 2014, 2015 e 2016. Uma
desaceleração da inflação nos EUA em 2022 e consequente abrandamento da
política monetária contracionista da Fed, poderia mitigar as recentes perdas em
bolsa no mês de janeiro, e 2022 seria mais um ano em que não se materializaria
nem ‘efeito janeiro’, nem ‘barómetro janeiro’, tal como em 40% dos anos desde
2009.
PMR 27 janeiro 2022 VE
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