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sexta-feira, 13 de maio de 2022

Bitcoin e Nasdaq lideram quedas

Desde os máximos históricos alcançados em meados do passado mês de novembro, a bitcoin (BTC) já perdeu metade do seu valor e o Nasdaq um quarto. A significativa subida das taxas de juro, imposta pela aceleração da inflação, ditou a atual tendência de baixa no mercado acionista.

Se no início do ano, os investidores apostavam num melhor desempenho das ações europeias relativamente às norte-americanas em 2022, o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro, inverteu essa perspetiva. Todavia, a intensificação da alta dos juros, mais penalizador dos setores mais sensíveis às variações das taxas de juro como o tecnológico, reverteu novamente essa tendência e as ações norte-americanas retomaram um desempenho marcadamente mais fraco, baseado nos seus índices acionistas mais de estilo ‘crescimento’ (‘growth’). Sendo assim, entende-se uma correção mais acentuada do índice tecnológico norte-americano Nasdaq.  

Quando os juros sobem, a cotação dos títulos tende a descer, e este princípio é tanto mais visível e penalizador quanto mais elevadas forem as expetativas para os lucros futuros de determinado ativo financeiro. O setor tecnológico lidera as empresas de crescimento, e estas apresentam perspetivas maiores para os seus resultados futuros e reinvestimento dos mesmos, por isso, também evidenciam cotações mais elevadas e rácios entre cotação e lucro mais altos. Por exemplo, se a taxa de juro hoje for de 1%, um lucro de 1000 euros daqui a um ano vale atualmente 990,1 euros, mas caso a taxa de juro suba para 5%, esses mesmos 1000 euros, a receber daqui a um ano, já só valem hoje cerca de 952 euros. Lucros projetados para daqui a 10 anos de 1000 euros, atualizados para o dia de hoje a um juro de 1% representam 905 euros e a um juro de 5% significam 614 euros. Em suma, a evolução da taxa de juro influência muito mais o valor de uma empresa cuja maior parte dos lucros sejam gerados e esperados num futuro mais longínquo. Por isso, o Nasdaq foi o índice acionista mais beneficiado pelos juros baixos da política monetária energicamente expansionista, encetada pela Reserva Federal dos EUA (Fed) para enfrentar a crise pandémica na primavera de 2020, e é atualmente o mais penalizado pela crescente alta dos juros. 

Também a BTC é um dos ativos financeiros mais sensível aos movimentos das taxas de juro. A principal criptomoeda global, tal como o ouro, não gera qualquer rendimento, apenas ganhos de capital, e, sendo assim, tende a apresentar melhores desempenho diante de posturas mais moderadas dos bancos centrais. Ou seja, quanto mais baixas forem as taxas de juro maior será a atratividade da BTC, bem como do metal amarelo, em relação às moedas fiduciárias. Mas ao contrário do ouro, a BTC tende a comportar-se melhor em momentos de estabilidade, em ambientes favoráveis e num contexto de baixas taxas de juro. Para descontentamento dos entusiastas desta criptomoeda, a BTC, e ao contrário do ouro, não se apresenta como um ativo de refúgio perante a incerteza, a instabilidade e a volatilidade. A principal criptomoeda global é um ativo de risco e tende a desvalorizar em momentos de ‘risk-off’ do mercado e na presença de crescentes receios de recessão.

De relembrar que a BTC desvalorizou cerca de 70% em 2018, aquando do primeiro Quantitative Tightening da Fed. Mas o encerramento do ciclo de subida dos juros pela Fed, na reunião de 20 de março de 2019, marcou um novo período de alta da BTC impulsionado pela perceção de um abrandamento económico e, consequente, aumento das perspetivas de um regresso à redução dos juros, culminando com a descida dos mesmos a 31 de julho de 2019, a primeira baixa de juros desde 16 de dezembro de 2008.

Também a crescente adoção institucional de criptomoedas aumenta a correlação destas com o mercado de ações. A guerra na Ucrânia, a crescente inflação e a política monetária restritiva da Fed penalizam as carteiras e a BTC, percecionada como um ativo de risco, é também vítima do ‘selloff’. Normalmente são os investidores mais propensos ao risco que investem em criptomoedas, ou seja, as pessoas que aplicam dinheiro em BTC são geralmente as mesmas que investem em ações, nomeadamente tecnológicas. É muito pouco provável que as pessoas que compram obrigações sejam as mesmas que adquirem BTC. E, assim sendo, para compensar as perdas nas ações ou chamadas à margem, os investidores são obrigados a alienar parte dos seus ativos em criptomoedas e vice-versa, agravando ainda mais as quedas do mercado. Neste particular, é importante conhecer o nível de alavancagem destes ativos, porque quanto maior for a alavancagem, maior será a volatilidade e desvalorização do mercado, e maior será a probabilidade de contágio à ‘economia real’. Há seis meses a capitalização de mercado das criptomoedas, em máximos históricos, era de 2,9 biliões de dólares e hoje é de 1,2 biliões. Um montante equivalente ao PIB do Canadá desapareceu.

Escasseiam os catalisadores para uma recuperação do mercado acionista, mas uma provável desaceleração da inflação nos próximos meses reduziria as expetativas de aumento dos juros e melhoraria as perspetivas dos mercados. Todavia, uma descida da inflação também poderia ser percecionada como uma crescente ameaça de recessão e validar o ‘sell in may and go away’. No auge das ‘dotcoms’, o Nasdaq valorizou mais de 300% nos 18 meses anteriores aos máximos de 2000 e perdeu esse mesmo valor nos três anos seguintes. A presente queda do Nasdaq será um ‘déjà vu’? Não parece. A atual robustez das empresas tecnológicas é maior, mas há sempre que distinguir o ‘trigo do joio’. 

PMR In VE 13 maio 2022






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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.