O valor de uma moeda depende dos fundamentais
macroeconómicos e da política monetária do banco central. Crescentes excedentes
comerciais, termos de troca mais favoráveis, contas públicas equilibradas,
liberdade económica, estabilidade de preços e crescimento económico robusto
impulsionam o valor de uma moeda, mas no curto prazo a política monetária do
banco central influencia a procura de moeda e dita a competitividade externa
via preço.
Os termos de troca são importantes para perceber a evolução
das contas externas e da taxa de câmbio nominal. Os termos de troca melhoram
quando os preços das exportações de um país aumentam a um ritmo superior ao dos
preços das suas importações, dados pelo rácio entre o valor das exportações e o
das importações. Se esse rácio for superior a um, então está a entrar mais
dinheiro no país do que a sair e a moeda tende a valorizar. Por exemplo, a
significativa subida dos preços dos combustíveis fósseis nos últimos meses,
cuja dependência portuguesa é atualmente de 70%, deteriorou os termos de troca
de Portugal e agravou o índice de preços nacional penalizado pela inflação
importada. Uma melhoria nos termos de troca indica que um país consegue com
menos exportações comprar mais importações e, assim, aumentar a competitividade
da sua economia, impulsionar o crescimento económico e melhorar o nível de vida
das suas populações.
A crescente intensificação das sanções económicas do
ocidente à Rússia, após a invasão da Ucrânia, tem redesenhado os níveis de
exportações e de importações entre estas duas geografias e, por conseguinte,
redefinido os termos de trocas. A Rússia é uma economia emergente alicerçada
nas exportações de ‘commodities’ (recursos minerais, energéticos e agrícolas),
sobretudo de petróleo e gás natural, mas também de ferro, aço, alumínio,
fertilizantes, madeiras e cereais, e importadora de produtos manufaturados,
tais como máquinas industriais, máquinas elétricas, produtos tecnológicos,
carros e camiões e peças para os mesmos, produtos farmacêuticos e aviões. A
dependência europeia dos combustíveis fósseis russos, a par do crescente
interesse por bons acordos com fornecedores russos por parte de países de todo
o mundo, tem suportado as exportações russas. Todavia, as sanções económicas
ocidentais, além de terem diminuído consideravelmente as vendas do ocidente à
Rússia (as exportações alemãs caíram 58,7% em março), dificultam a logística e
o pagamento das importações russas, desincentivando a venda de bens a Moscovo
de muitos países fora do perímetro das sanções. Assim sendo, as exportações
russas não foram penalizadas como o ocidente pretendia, sustentadas também pela
subida das cotações do petróleo e do gás natural, mas as importações diminuíram
significativamente, conduzindo a economia russa a um excedente comercial
histórico de 106,5 mil milhões de dólares nos primeiros quatro meses do ano (em
abril o superávite foi de 40,2 mil milhões de dólares), alterando
substancialmente os termos de troca a favor da Rússia, realidade que tem
impulsionado o rublo, a moeda com melhor desempenho global em 2022. Mas há um
custo para a economia russa que necessita constantemente de máquinas e bens
tecnológicos para manter a sua atividade económica em funcionamento, além de
criar potenciais tensões sociais devido às crescentes dificuldades ao acesso a
bens globais pela população russa. A atual proeza histórica do excedente
comercial russo tem facilitado a ação do Banco Central da Rússia (RCB) e
permitiu a este descer a taxa de juro por duas vezes no mês de abril para 14%,
depois da subida de 9,5% para 20%, no dia 28 de fevereiro, para travar a queda
do rublo. Poucos dias depois da invasão, o sistema financeiro russo parecia à
beira do colapso. Uma série de sanções financeiras, principalmente sobre as
reservas cambiais do RCB, penalizaram o rublo e originaram uma corrida aos
levantamentos de dinheiro pelos cidadãos russos. Então o RCB elevou os juros,
impôs controles de capital e injetou liquidez no sistema bancário. Embora uma
parte das reservas cambiais da Rússia permaneça congelada, o país ainda gera
diariamente cerca de mil milhões de dólares com as exportações de energia.
Apesar da considerável subida da taxa de câmbio nominal do rublo, a taxa de
câmbio real não melhorou assim tanto, pois na verdade a inflação na Rússia
duplicou desde a invasão e fixou-se em 17,8% em abril. Também as perspetivas
são de uma contração significativa do PIB em 2022.
PMR In VE 19
maio 2022
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