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sexta-feira, 15 de julho de 2022

Paridade euro/dólar. E agora?



A elevada inflação norte-americana em junho consolidou a paridade do euro face ao dólar

A inflação nos EUA continua a agravar-se. O índice de preços no consumidor (IPC) norte-americano subiu 9,1% em termos homólogos em junho. O aumento mensal foi de 1,3% e os preços da gasolina responderam por 40% dessa subida. As expectativas dos investidores, de acordo com os futuros negociados na bolsa de derivados de Chicago (CME Group), são agora de um aumento da taxa de juro em 100 pontos base na próxima reunião da Reserva Federal dos EUA (Fed) em 27 de julho, cuja probabilidade é de 86%, acima dos 8% no dia anterior à divulgação do número da inflação. Há uma probabilidade de 14% de uma subida de 75 pontos base, número abaixo dos 92% antes do dado do IPC. Um aumento da taxa em 100 pontos base levaria a meta das ‘Fed Funds Rate’ para o intervalo de 2,5% a 2,75%, do seu atual nível entre 1,5% e 1,75%, e seria o maior aumento dos juros pela Fed desde agosto de 1988.

Esta semana o euro continuou a depreciar face ao dólar. Pela primeira vez em 20 anos, a cotação do principal câmbio mundial está abaixo da paridade, nos 0,9955 dólares, à medida que a crise de energia aumenta o risco de recessão, tornando mais difícil para o Banco Central Europeu (BCE) adotar uma política monetária energicamente restritiva, para travar a também elevada inflação da Zona Euro, alta dos preços que é maioritariamente do lado da oferta e sobretudo centrada nos combustíveis fósseis importados. Também o facto de o dólar ser um dos principais ativos de refúgio a nível global tem impulsionado a moeda americana, diante da crescente volatilidade e incerteza dos mercados financeiros nos últimos meses. A postura mais ‘agressiva’ adotada pela Fed na condução da sua política monetária cada vez mais restritiva, que deverá ser acelerada com o atual número da inflação de junho, eleva as expectativas das taxas de juros do dólar e incentivam a posse da moeda norte-americana em detrimento do euro, numa ótica do diferencial das taxas de juro.

O euro segue também penalizado em relação ao dólar, devido à consecutiva deterioração das contas externas europeias e diante da melhoria do défice comercial dos EUA, espelhada nos últimos números da balança comercial norte-americana em maio, cujas exportações aumentaram acima do esperado e as importações mantiveram-se controladas. No entanto, a balança comercial da Alemanha em maio registou o seu primeiro défice comercial desde 1991. A competitividade alemã é sobretudo extra-preço e um euro mais barato ajuda, mas não é a solução perante a constante deterioração dos meios de troca da economia germânica e de toda a Zona Euro, diante não só da alta dos preços dos combustíveis fósseis, petróleo e gás natural, mas também dos produtos agrícolas. 

A paridade entre as duas moedas começou a ser desenhada no início da semana, após o principal gasoduto Nord Stream 1 iniciar a sua manutenção anual em 11 de julho. Os fluxos de gás devem parar durante 10 dias, mas persistem as preocupações de que o fornecimento possa não regressar aos atuais níveis após as obras. Crescem os receios de uma crise energética na Europa à medida que o inverno se aproxima.
Enquanto isso, a Fed prepara-se para uma alta de 75 ou 100 pontos bases na próxima reunião de dia 27 de junho, após um aumento acumulado de 150 pontos base desde março. Os mercados antecipam que as taxas da Fed chegam ao final do ano no intervalo 3,75% a 4%.  Todavia, o BCE só deve aumentar as sua taxas principais em 25 pontos base no final deste mês, o primeiro aumento em mais de 11 anos.
Bancos EUA
O JPMorgan, maior banco dos EUA, divulgou uma queda de 28% no lucro trimestral, maior do que o esperado, e reservou mais dinheiro para cobrir perdas potenciais diante dos riscos crescentes de um recessão. O CEO, Jamie Dimon, enfatizou a necessidade de construir reservas de capital, mas ao mesmo tempo sinalizou uma série de preocupações, incluindo a guerra na Ucrânia, inflação alta e o aperto quantitativo "nunca antes visto" como ameaças ao crescimento económico global.
Morgan Stanley falha estimativas dos analistas, penalizado por receita da banca de investimento inferior ao esperado. Os resultados do banco foram prejudicados por um declínio acentuado de 55% na receita de banco de investimento. Os resultados confirmam o que alguns analistas temiam para o Morgan Stanley, que gere uma das maiores operações de mercado de capitais de ações em Wall Street.

Empresas Semicondutores
TSMC vê vendas de chips resilientes e a aumentarem no terceiro trimestre. A TSMC prevê um crescimento de receita que pode ser o maior dos últimos 10 trimestres, referindo que está "altamente confiante" sobre as suas perspetivas de longo prazo, impulsionada pela maior procura por chips de alta tecnologia usados ​​em data centers e veículos elétricos.
Nordic Semiconductor aumentou os lucros no segundo trimestre. A empresa norueguesa de chips de computador Nordic Semiconductor ainda é caracterizada por problemas de fornecimento, mas aumentará os lucros no segundo trimestre do ano e seguirá para metas acima de mil milhões em 2023. Ebita (lucro antes de juros, impostos e amortizações) de 51,9 milhões de dólares no segundo trimestre.

Banca escandinava
O banco DNB da Noruega no 2º trimestre superou as previsões impulsionado pelos aumentos das taxas de juro. O maior credor da Noruega, o DNB, divulgou na passada terça-feira lucros trimestrais acima das previsões, apoiados por aumentos nas taxas de juro e forte atividade comercial em toda a Noruega, que o banco disse que espera continuar. O lucro líquido subiu para 7,79 mil milhões de coroas no trimestre de abril a junho (6,43 mil milhões há um ano). A ABG Sundal Collier registou uma queda nos lucros no segundo trimestre. A estagnação na atividade dos IPOs tem efeitos cascata no potencial de lucros do banco de investimento. O resultado do segundo trimestre está a descer. Um mercado caracterizado por maior incerteza e volatilidade resultou em vendas reduzidas em 50% para a ABG Sundal Collier no segundo trimestre.

PMR in JE 14/07/2022

 



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.