Os preços do algodão, de acordo com as cotações dos contratos futuros no ICE, registam
mínimos desde finais de setembro do ano passado, nos 98 cêntimos de dólar por
cada libra (peso), e aceleraram as perdas nas últimas duas semanas, depois dos
máximos à volta de 1,55 dólares alcançados no início de maio, pressionados
pelas perspetivas de consumo mais fraco devido às crescentes preocupações sobre
uma possível recessão. As perspetivas na China, principal consumidora,
permanecem desanimadoras devido aos contínuos confinamentos. As projeções da
procura do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) foram reduzidas no
relatório de junho, devido ao menor consumo dos maiores produtores globais de
vestuário. Um dos primeiros impactos, perante uma recessão, é a redução do
consumo de algodão. Quando os tempos são mais difíceis, as roupas tornam-se
bens discricionários.
Nas últimas semanas têm aumentado as probabilidades de uma recessão. Os receios
e as atenções dos investidores afastam-se gradualmente da inflação e concentram-se
cada vez mais num cenário de contração económica. A dinâmica de uma recessão
económica explica este racional e justifica a contínua diminuição dos receios de
uma inflação persistentemente elevada, porque os índices de preços no
consumidor tendem a abrandar à medida que a procura privada diminui, as
exportações descem, a produção industrial baixa e a recessão se instala. A queda
dos mercados financeiros nos últimos meses, nomeadamente dos preços das
obrigações e das ações, a desvalorização das criptomoedas e a desaceleração do
mercado imobiliário são deflacionistas, confirmando uma desaceleração da
inflação. No entanto, a cotação do barril de petróleo à volta dos 70 ou 80
dólares seria a principal variável deflacionista, associada a uma postura
construtiva da OPEP de aumento da produção. O risco tende a ser cada vez mais
de crédito, à medida que a perceção de uma recessão aumenta, e menos de taxa de
juro, devido à potencial postura monetária menos restritiva dos bancos centrais.
Um cenário de estagflação, ou seja, elevada inflação associada a estagnação
prolongada é uma ameaça cada vez mais presente. Devido ao forte aumento da
inflação, o rendimento disponível das famílias é cada vez menor, o que penaliza
a procura e a agrava as perspetivas económicas. O sentimento do consumidor na
Zona Euro está em mínimos desde 2013, o dos EUA medido pela Universidade de
Michigan em níveis de 2008 e do Conference Board norte-americano em mínimos desde
fevereiro de 2021. O sentimento do consumidor alemão, medido pelo GfK, regista
mínimos históricos. Os indicadores de atividade económica avaliados pelo PMI
desceram para perto dos 50 pontos. O GDP Now da Fed de Atlanta projeta um
crescimento de 0,3% no 2º trimestre, após contração no primeiro. A economia
germânica cresceu apenas 0,2% no 1º trimestre.
A evolução da economia influencia o comportamento dos mercados financeiros e
vice-versa. Os índices acionistas cotam atualmente no limiar do ‘bull’ e do ‘bear
market’ e uma clarificação da sua tendência dependerá do rumo dos dados
macroeconómicos. Um aumento da probabilidade de recessão diminui as perspetivas
de alta dos juros, mas implica mais ‘profit warnings’ (revisões em baixa das
perspetivas de lucros das empresas) nos próximos meses.
As cotações das ações das empresas têm sido penalizadas, nos últimos seis meses,
pelas crescentes perspetivas de alta dos juros que diminuem a avaliação das
empresas baseada na atualização dos lucros futuros. Um abrandamento da inflação
implica taxas de juro menos elevadas e, assim sendo, um regresso de avaliações
mais altas das empresas, mas uma possível recessão diminui os lucros e penaliza
novamente as avaliações das empresas.
Por último, a relação entre o cobre e o ouro é talvez um dos principais
barómetros para monitorizar as etapas do ciclo de negócios. Este rácio começa a
apresentar os primeiros sinais de desaceleração do crescimento económico como
resultado das pressões inflacionistas persistentes. O cobre é um metal cíclico
com diversas aplicações industriais, que tende a valorizar durante o ‘boom’
económico, mas desvalorizou quase 20% nas últimas quatro semanas. Em contraste,
o ouro é visto como um ativo clássico de refúgio durante períodos de fraco
crescimento, ou recessão, e inflação crescente. O rácio entre o cobre e o ouro
está correlacionado com a confiança empresarial, nomeadamente o índice ISM, um
indicador da atividade económica no setor manufatureiro importante para avaliar
a saúde da economia em geral.
PMR In VE 1 julho 2022
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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sexta-feira, 1 de julho de 2022
O algodão não engana… da inflação à recessão?
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