A política monetária do Banco Central Europeu (BCE),
influenciada pelas expectativas quanto à evolução futura da inflação, determina
geralmente as taxas de juro nos diferentes prazos e é a principal razão para as
divergências que existem entre as várias taxas Euribor, nomeadamente as dos
prazos a 3, 6 e 12 meses, as mais utilizadas como indexantes no crédito à
habitação.
Habitualmente, a taxa de juro de um determinado prazo
reflete a taxa de juro de um prazo inferior, acrescida das expectativas para a
evolução da taxa de juro nesse mesmo período. Por exemplo, no dia 30 de
setembro a taxa de juro diária da Zona Euro, a taxa “overnight” denominada de
€STR, determinada pelo BCE de acordo com os relatórios estatísticos do mercado
monetário do Eurosistema, fixou-se nos 0,642% e a Euribor a 3 meses nos 1,176%.
O diferencial entre estas duas taxas representa as expectativas quanto à
evolução das taxas de juro nos próximos 3 meses, de acordo com as perspetivas
para a evolução da inflação nesse mesmo período. Quanto mais elevadas forem as
expetativas para a inflação, mais elevadas serão também as probabilidades de os
bancos centrais aumentarem as suas taxas de juro num horizonte temporal muito
próximo.
Na maioria das vezes, as taxas Euribor tendem a subir à
medida que os prazos aumentam, nomeadamente quando se espera uma subida da
inflação. Atualmente a diferença entre os prazos mais curtos e os mais longos
tende a ser ainda mais visível e acentuada, refletindo as elevadas expetativas
para a inflação na Zona Euro. A Euribor a 6 meses cotou no dia 30 de setembro a
1,809% e a Euribor a 12 meses bastante mais acima nos 2,556%, porque as
expetativas para a inflação são elevadas, bem como se espera que o BCE acelere
a sua política monetária contracionista de alta dos juros nos próximos meses
para travar essa mesma inflação indesejável.
A diferença das Euribor para outros indexantes de outras
geografias fora da Zona Euro reflete, além das diferentes perspetivas para a
inflação e evolução dos juros pelos diferentes bancos centrais, o risco
subjacente a cada região.
Nos diferentes prazos da Euribor, a 3, a 6 e a 12 meses,
qual seria a escolha mais acertada num crédito à habitação? Em boa verdade,
tudo depende da evolução da inflação nos próximos meses, nos trimestres que se
avizinham. Por exemplo, uma Euribor a 3 meses tem um juro subjacente bastante
mais barato do que a 12 meses, mas esse mesmo juro, associado a um crédito à
habitação, será renovado trimestralmente e as condições poderão ser muito
diferentes diante da elevada incerteza, sobretudo nos próximos meses. Quando se
realizar o novo acerto para Euribor a 12 meses, já a Euribor a 3 meses teve
quatro revisões. Se a inflação tiver um pico de alta no próximo inverno e se
ajustar gradualmente em baixa a seguir à primavera de 2023, a Euribor a 12
meses poderia ser mais vantajosa. Todavia, se a inflação se mantiver bem
ancorada em alta, se se mantiver persistente, os juros tenderão a subir ainda
mais e a penalizar provavelmente mais a Euribor a 12 meses. É uma questão de
perspetivas para a inflação e consequentes respostas do BCE.
Em suma, quem tem por exemplo um crédito à habitação indexado
a uma Euribor a 3 meses está a fixar o seu custo a 3 meses. Quem tem Euribor a
12 meses, fixa o seu custo a 12 meses.
As perspetivas quanto à evolução da Euribor dependem não só
das expectativas para a inflação, mas também da postura do BCE e da evolução do
dólar, cuja alta tem aumentado a inflação importada na Zona Euro, pressionando
o banco central da área do euro a uma postura cada vez mais agressiva,
refletida na expectativa de aumentos significativos dos juros para manter a
atratividade da moeda única europeia diante da subida do dólar americano.
A evolução da guerra na Ucrânia, uma potencial
intensificação da crise energética na Europa no próximo inverno e uma cada vez
mais provável recessão na Zona Euro ditarão a evolução das Euribor nos próximos
meses. A postura gradualmente mais agressiva do BCE, refletida na alta
acentuada dos juros, acelera ainda mais as perspetivas de recessão já de si
penalizadas pela agudização da crise energética. Caso a economia da Zona Euro
entre numa recessão mais acentuada do que a esperada, a inflação tenderá a
abrandar e o BCE poderá mesmo reverter a sua política de alta dos juros,
possibilidade que aliviaria, ou inverteria mesmo, a atual tendência de revisão
em alta das prestações relativas aos créditos à habitação de muitos
portugueses.
Todavia, a incerteza é a única certeza que temos quanto ao
futuro das Euribor nos próximos trimestres.
PMR In VE 4 outubro 2022
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