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sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Balanço económico global do terceiro trimestre

 

A economia global continua a enfrentar consideráveis desafios, materializados sobretudo nos efeitos persistentes de três importantes forças: a invasão da Ucrânia pela Rússia, a crise do custo de vida determinada pelas crescentes e generalizadas pressões inflacionistas e a desaceleração da economia chinesa.

Os principais indicadores de atividade europeus, nomeadamente os germânicos Ifo e Zew, refletem uma economia em forte desaceleração e perspetivam uma recessão à medida que o inverno se aproxima e a crise energética se intensifica. A inflação ainda não deu sinais de abrandamento na Europa e atingiu os dois dígitos em algumas geografias, sendo esse fenómeno mais visível nas economias mais dependentes do gás natural russo. Em setembro a inflação homóloga alemã alcançou os 10%. Todavia, a elevada inflação tem permitido consolidar as contas públicas de algumas economias europeias, criando “almofadas” capazes de responderem a um eventual agravamento da crise económica nos próximos trimestres. As contas externas continuam a deteriorar-se, fortemente atingidas pela dependência externa europeia dos combustíveis fósseis. No entanto, o mercado de trabalho mantém-se relativamente resiliente. A taxa de desemprego na Alemanha subiu apenas 0,1 pontos percentuais no terceiro trimestre para os 5,5% em setembro. Mas os indicadores de atividade medidos pelos PMI e o sentimento do consumidor continuam a degradar-se na Europa, corroborando um cenário de recessão ainda este ano ou em 2023. A par da crise energética na Europa, a intensificação da postura agressiva do Banco Central Europeu (BCE) tem aumentado também o risco de uma recessão.

Nos EUA, apesar de um ligeiro abrandamento da inflação, em resultado da diminuição dos preços dos combustíveis fósseis, os números do Índice de Preços no Consumidor, excluindo alimentação e energia, persistem elevados e junto aos máximos dos últimos 40 anos. Mas o mercado de trabalho mantém-se resiliente e a taxa de desemprego baixou para os 3,5% em setembro. As ofertas de emprego permanecem elevadas e superam 1,7 vezes o número de desempregados norte-americanos, sustentando a alta dos salários e reforçando o comportamento contracionista da política monetária da Reserva Federal dos EUA (Fed), concorrendo para uma desaceleração económica que poderá culminar numa recessão. No entanto, o crescimento da massa salarial desacelerou para 5% em termos homólogos em setembro.
O défice da balança dos EUA tem melhorado e as contas externas deverão contribuir para uma recuperação do produto no terceiro trimestre, após uma contração da economia no primeiro semestre. O GDP Now da Fed de Atlanta antecipa um crescimento do PIB dos EUA de 2,9% no terceiro trimestre.
Os futuros associados à evolução das taxas de juro da Fed, negociados na bolsa de derivados de Chicago, anteveem uma alta de 75 pontos base na próxima reunião no dia 2 de novembro, cuja probabilidade é de 80%, e uma subida de pelo menos mais 50 pontos base, cuja probabilidade é de 91%, na última reunião no dia 14 de dezembro, encerrando o ano no intervalo de 4,25% a 4,50%.

Na China, os sucessivos confinamentos localizados, ditados pela política “zero covid”, têm penalizado a segunda maior economia do mundo, especialmente no segundo trimestre de 2022. Além disso, o setor imobiliário, representando cerca de um quinto da atividade económica chinesa, tem abrandado significativamente. Assim sendo, e dada a significativa dimensão da economia chinesa, cerca de 18% do PIB mundial em 2021, e sua importância para as cadeias de abastecimento globais, o comércio internacional tem sido penalizado e o ritmo de globalização tende a desacelerar, realidade crescente desde o primeiro confinamento pandémico na primavera de 2020, acelerada pela guerra na Ucrânia. Em boa verdade, a pandemia e a guerra na Ucrânia têm moldado substancialmente o mundo e a economia.    

O FMI estima que mais de um terço da economia global entre em recessão este ano ou no próximo, enquanto as três maiores economias, EUA, União Europeia e China, continuarão a desacelerar. O FMI refere no seu relatório de outubro que “o pior ainda está por vir, e para muitos pessoas 2023 parecerá uma recessão.”

PMR In VE 14 outubro 2022



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.