Os populares fundos do mercado monetário nos EUA são
uma alternativa de aforro interessante para os investidores que pretendam
diversificar as suas disponibilidades de
tesouraria, mantendo uma elevada liquidez no curto prazo.
São vários os instrumentos elegíveis para investimento ao
dispor dos fundos do mercado monetário, desde os certificados de depósito ao
papel comercial, tendo as regras apertado desde a crise financeira de 2008,
privilegiando-se a liquidez e a qualidade dos títulos investidos. Desde o final
de 2013, a Reserva Federal dos EUA introduziu o mecanismo de recompra reversa
(“reverse repo”), testando uma nova postura e novas formas de controlar
as taxas de juro de curto prazo, alargando, deste modo, a base de investidores
no mercado monetário, agora mais uma alternativa de investimento disponível para
os fundos do mercado
monetário.
Em vez de emprestarem aos bancos, os fundos do mercado
monetário tiveram a partir de 2013 mais uma alternativa de investimento e uma
oportunidade de fomentarem as suas relações com o banco central dos EUA. O balanço
da Fed havia quadruplicado desde 2008 a 2013, em grande parte impulsionado pelo
“Quantitative Easing”, detendo o banco central dos EUA cerca de 3,5
biliões de dólares em títulos da dívida pública e títulos garantidos por
hipotecas em setembro de 2013, e os fundos do mercado monetário eram mais uma
alternativa futura, aquando da regularização do balanço, para a compra desses
títulos.
Entretanto, no atual
mês de março, marcado pela crise bancária, alguns investidores têm
resgatado os seus depósitos dos bancos aparentemente mais vulneráveis, mas nem
todo o dinheiro levantado é canalizado para os bancos mais robustos. Alguns
agentes económicos, desde empresas e famílias, aproveitam os acordos de
recompra reversa dos fundos do mercado monetário para guardarem o seu dinheiro
no banco central dos EUA, um excelso porto seguro que paga atualmente um juro à
volta de 4,80%, muito acima da remuneração dos depósitos bancários. Apesar de
os fundos do mercado monetário não terem uma conta na Fed, uma “prerrogativa”
reservada aos bancos e ao governo, eles emprestam dinheiro ao banco central dos
EUA, através do “reverse repo” (RRP), utilizando uma conta bancária, ou
seja, os depósitos dos bancos diminuem e os RRP no passivo do balanço da Fed
aumentam.
A fidúcia é o principal bem a ser preservado por um
banco, pelo sistema bancário. Por vezes o mínimo dano na reputação de um banco,
ou do sistema bancário, mina a sua confiança. Uma crise bancária
autoalimenta-se e um rumor de um problema de liquidez num banco pode em poucos
dias redundar numa insolvência, ainda mais na atual era digital com a
facilidade de transferência rápida de dinheiro. Um rácio de transformação de
50% (depósitos num banco são o dobro dos créditos concedidos) pode em poucos
dias ser de 200% ou 300%, caso haja um significativo levantamento de depósitos
e estes passem a ser metade ou um terço do montante de crédito concedido.
No intuito de mitigar a atual crise bancária, a Fed
aumentou as reservas bancárias nas últimas semanas em cerca de 400 mil milhões
de dólares, mas, entretanto, mais de metade desse dinheiro já regressou
novamente ao banco central dos EUA através dos RRP (esterilizando parte desses
montantes, se receios de inflação existissem). Além disso, um banco central
pode criar e colocar junto dos bancos montantes avultados de dinheiro, mas se
essas instituições de crédito não emprestaram essas novas reservas bancárias ao
público (famílias e empresas), nenhum desse dinheiro chegará à economia, não
impulsionando por esta via a inflação. Em suma, a Fed imprime dinheiro e
empresta-o aos bancos, os clientes levantam e colocam-no junto do banco central
dos EUA a render 4,80% (esta postura aumenta os encargos da Fed, diminuindo os
lucros, reduzindo esta fonte de receita do governo dos EUA).
Entre março de 2020 e março do ano passado, os
depósitos bancários nos EUA aumentaram de 13,5 biliões para 18,1 biliões de
dólares, mas desde então já caíram mais de meio bilião de dólares, penalizados
pela política restritiva da Fed. A atual conjuntura bancária tem acelerado essa
diminuição. Entretanto a rubrica RRP no passivo do balanço da Fed aumentou de
200 mil milhões de dólares em março de
2021 para o valor histórico de quase 2,7 biliões na semana passada. A 1 de
abril de 2020, no cálculo do rácio de alavancagem suplementar de um banco
(Capital Tier 1/Exposição total à alavancagem), a Fed permitiu a exclusão no
denominador desse rácio, por um ano, dos títulos do Tesouro dos EUA e das
reservas bancárias, possibilitando que os bancos, sem diminuir o rácio abaixo
de 3%, fornecessem toda a liquidez necessária ao mercado de obrigações dos EUA,
penalizado pela fragilidades financeiras ditadas pela pandemia. A partir de 1
de abril de 2021, os bancos viram-se inundados em reservas bancárias
indesejadas, devolvendo-as gradualmente à Fed, aumentando os depósitos no banco
central na forma de RRP.
PMR In VE 29 de março 2023
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