A um mês da data oficial para o Reino Unido deixar a União Europeia, os bancos
centrais projetam vários cenários, nomeadamente o menos desejável: um Brexit
sem qualquer acordo com a UE. O adiamento da saída poderá ser a probabilidade
mais plausível. Mas dada a recente e esmagadora rejeição do acordo "Brexit
de Theresa May", e sem existir qualquer esperança de renegociação no curto
prazo, parece que o tipo de Brexit no horizonte está perto do pior pesadelo de
um banqueiro central: desequilíbrios significativos do sistema monetário, dos
bancos comerciais, com toda a incerteza económica que acarreta, em vez do lento
período de transição politicamente gerido e que Theresa May e outros esperavam.
Os bancos centrais têm de estar preparados para este cenário.
À medida que a perspetiva, há uns meses pouco provável, de um Brexit sem acordo
é plausível, os bancos centrais começaram a expor os seus planos para
protegerem as suas economias da turbulência que muitos analistas preveem.
Muitos desses planos de contingência estão centrados na ferramenta política
mais importante e mais perigosa do arsenal do banco central: sua capacidade de
aumentar, inflacionar, a oferta monetária e manter as taxas de juros baixas.
O Banco da Inglaterra (BoE) acha que um Brexit sem negociação poderia levar a
uma reversão da atual normalização gradual das taxas de juros pelo Banco. Caso
haja um Brexit sem acordo, o mais provável é que a política monetária
apropriada seja uma expansão monetária.
A Reserva Federal norte-americana (FED) tem uma política idêntica.
Após a recuperação relativamente forte da economia dos EUA nos últimos dois
anos, o Banco central dos EUA conseguiu aumentar as taxas de juros muito mais
rapidamente do que os bancos centrais na maioria dos outros países. Depois de
três aumentos de taxa em 2017 e outros quatro em 2018, a taxa de fundos da FED
agora está em 2,5%, bastante acima da taxa dos 0,25% mantida entre 2008-2015.
Mas uma série de fatores, incluindo o Brexit e a desaceleração económica
chinesa, retiraram confiança à FED. Jerome Powell, no passado dia 26 de
fevereiro, proferiu a sua mais forte declaração contra a continuação do
processo de normalização das taxas de juros, argumentando que "o aumento das
taxas enfraqueceu", e revelou que o Comité Federal de Mercado Aberto
(FOMC) concordou em adotar uma abordagem "paciente" para futuro
aumentos de taxa. O mercado de futuros reagiu ao discurso de Powell ao prever
que não haveria novas restrições e até mesmo uma pequena probabilidade de queda
nas taxas de juros no próximo ano.
O Banco Central Europeu (BCE) reagiu a um não-acordo Brexit apelando ao aumento
da integração dos mercados de capitais da UE e um maior
"aprofundamento" da União Económica e Monetária e do Mercado Único
"para além da sua dimensão financeira". Pediu também mais ferramentas
macroprudenciais para abordar os riscos potenciais de um "Brexit sem
acordo", maiores poderes para criar dinheiro novo e injetá-lo no sistema
financeiro. Os mercados reduziram as suas apostas no aumento das taxas do BCE,
e até há que pense que o BCE poderia reiniciar um novo programa de incentivos
monetários.
O Japão também sinalizou recentemente que pode começar a injetar mais
estímulos, enquanto a Austrália e a Suécia indicaram que poderiam repensar os
seus planos anteriores de aumentar.
Depois de uma década de taxas de juros artificialmente baixas, não é surpresa
que essas mesmas políticas devam ser usadas em resposta à perspetiva de um
"Hard Brexit", e que não é contestada no mercado, sendo a corrente
económica dominante. Mas a inflação artificial de oferta de moeda não apenas
diminui o poder de compra da moeda ao longo do tempo, mas também resulta numa
redistribuição do poder de compra dos cidadãos para aqueles próximos do sistema
financeiro e do Estado. Segundo a escola austríaca, a insistência dos bancos
centrais em manter as taxas de juros baixas é a principal causa das crises
económicas cíclicas.
Paulo Rosa, Semanário "Vida Económica", 8 de março
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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- Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
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