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sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Melhorias no sentimento!?

Existem, nos últimos dois meses, melhorias no sentimento do mercado baseado nas taxas de juro. Está mais confiante. Mas nem tudo são boas notícias. A japonização continua a alastrar…

A TED Spread define-se pela diferença entre as taxas de juro de curto prazo do mercado monetário interbancário norte-americano, nomeadamente a LIBOR do USD a três meses, e as rentabilidades dos bilhetes do Tesouro nos EUA (T-Bills). Representa a perceção do risco de crédito de uma economia, designadamente dos empréstimos dos bancos comerciais, e mostra a maior ou menor facilidade destes em conseguirem financiar é a diferença percentual entre o custo que os bancos têm para se financiar em dólares relativamente ao Governo dos EUA no mesmo prazo de três meses. No longo prazo, a média da TED Spread é de cerca de 40 pontos base. Durante a crise financeira de 2008, este diferencial chegou aos três pontos percentuais. Atualmente, é de 40 pontos base.

Na Zona Euro o spread entre a Libor do Euro a três meses ou a Euribor no mesmo prazo ronda os -0,40% e a rentabilidade dos bilhetes do Tesouro germânico a três meses anda à volta dos -0,73%, um spread de 0,33 pontos percentuais. Relativamente à "yield" dos bilhetes do Tesouro português, de -0,49%, o diferencial é de nove pontos base. É o Estado alemão que consegue financiar-se com mais facilidade que o Estado português e não a banca nacional, que está de melhor saúde que a germânica, apesar da alavancagem elevadíssima do Deutsche Bank, que apenas será um problema quando aumentar a volatilidade ou surgirem as imparidades, com diferenças substanciais entre a cotação dos ativos aos quais o banco alemão está exposto e o real valor desses ativos.

Estas taxas mostram que o mercado monetário e o setor bancário se mantêm estáveis e calmos, em boa parte devido à atuação dos respetivos bancos centrais, com o reinício do Quantitative Easing (QE) pelo Banco Central Europeu (BCE), e as descidas das taxas de juro e aumento do balanço pela Reserva Federal norte-americana.

A rentabilidade das obrigações do Tesouro americano (T-Bond) a dez anos ronda os 1,78% e a "yield" dos bilhetes do Tesouro (T-Bill) a 3 meses é de cerca de 1,56%, resultando num "spread" positivo de 22 pontos percentuais, espelhando uma menor probabilidade de recessão que há meses, nomeadamente no verão. Na última atualização de 4 de novembro, embora a probabilidade de recessão tenha diminuído desde que o Reserva Federal adotou uma política monetária expansionista, designadamente com 3 descidas consecutivas da "Fed Funds Rate" num total 75 pontos base, ainda permanece no nível mais alto desde a crise financeira de 2008/2009, percecionando uma probabilidade de recessão em outubro de 2020 de 29%, quando no verão era de quase 40%. E, muito provavelmente, a probabilidade relativamente a novembro, que será divulgada brevemente, deverá ter descido para a casa dos 25%.

Na Zona Euro, a "yield" da Bund alemã a dez anos é de -0,29%, significativamente mais baixa que a rentabilidade dos bilhetes do Tesouro germânico a três meses, de -0,73%, um spread positivo de 44 pontos base.

A japonização da economia já não se confina apenas à Zona Euro, mas é neste momento mundial.

Essa japonização caracteriza-se pela inversão da pirâmide demográfica e pela enérgica política monetária e orçamental expansionista, com a forte impressão de moeda por parte dos bancos centrais, e governos despesistas com sucessivos aumentos de impostos.

Apenas o Japão e a Europa preenchem os dois requisitos, por isso também têm as taxas de juro mais baixas, e mesmo negativas. As restantes economias, apesar de terem em boa parte crescimento populacional, têm os bancos centrais a imprimirem cada vez mais moeda a um ritmo muito mais elevado que o crescimento populacional e os governos a gastarem cada vez mais. No Brasil, a Selic está a 5% e espera-se que desça para 4,5%. O Banco Central da Rússia desceu a sua taxa de juro diretora de 7% para 6,5% e sinaliza futuros cortes… 


O mercado monetário interbancário espelha relutância no que concerne aos empréstimos que os bancos efetuam entre si, refletido na significativa procura de segunda-feira passada na operação de recompra (REPO) a 42 dias da Reserva Federal de Nova Iorque, com uma procura superior à oferta em 75%. Os investidores cautelosos no que respeita às pressões de financiamento no final do ano, aproveitaram o dinheiro oferecido pela FED para colocá-lo já em 2020…

PAULO MONTEIRO ROSA, Vida Económica, 6 de dezembro de 2019

https://www.newyorkfed.org/research/capital_markets/ycfaq.html#/interactive


https://www.marketwatch.com/story/dont-be-too-quick-to-give-the-economy-the-all-clear-signal-2019-12-04



https://www.cmegroup.com/trading/interest-rates/countdown-to-fomc.html



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.