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sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Um novo QE versão 4.0 nos EUA?

O principal objetivo do mercado monetário é manter a estabilidade dos preços (índice de Preços no Consumidor - IPC), facilitando o acesso a liquidez das instituições financeiras deficitárias em dinheiro, mas com títulos em carteira nomeadamente do tesouro, através de empréstimos providos pelas instituições financeiras com excesso de liquidez, limitando ao máximo o recurso aos Bancos Centrais e a injeção desnecessária de liquidez no mercado, quando o banco ao nosso lado tem esse dinheiro.

O mercado monetário, caracterizado por maturidades inferiores a um ano, tenta corrigir os desequilíbrios entre quem detém liquidez em excesso e quem tem escassez, a uma determinada taxa de juro em torno da taxa de referência do Banco Central, tentando evitar uma indesejada subida da inflação bastante acima dos objetivos das autoridades monetárias, atualmente nos 2%.

Desde o final de 2007, início de 2008, os bancos com excesso de dinheiro, à medida que se agudizavam os receios de uma insolvência, foram paulatinamente reduzindo a cedência de liquidez às instituições que dela precisavam, mesmo apesar de os empréstimos terem como garantia títulos do tesouro americano, culminando na falência do Lehman Brothers a 14 de setembro de 2008.

A partir dessa data, a FED passou a ter um papel ativo no mercado monetário, passando a ceder liquidez sempre que necessário através da recompra de títulos da dívida pública e títulos de hipotecas, dando início ao Quantitative Easing (QE). O objetivo de satisfazer os mercados de dinheiro foi cumprido, aliviando a liquidez dos mercados monetários e reduzindo drasticamente os encargos financeiros de financiamento, das empresas e das famílias, devido à descida da taxa de juro da Reserva Federal norteamericana para perto de 0%. E os mercados acionistas estão com um dos melhores desempenhos de sempre.

O QE1 teve início a 1 janeiro de 2009 e terminou a 31 março de 2010, o QE2 foi de 3 novembro de 2010 a 30 junho de 2011, e o QE3 de 1 de outubro de 2012 a 29 de outubro de 2014. Durante este período o balanço da FED quadruplicou as taxas de juro de referência da FED (Fed Funds Rate) para um nível histórico de 0% a 0,25%.

O grupo dos "big four", acrónimo utilizado para identificar os quatro maiores bancos de cada país, nos EUA detém atualmente mais de metade dos depósitos, e é formado pelo JP Morgan, Bank of America, Wells Fargo e Citigroup. No passado dia de 17 de setembro a taxa de juro no mercado de REPO (acordos de recompra), a "overnight", atingiu os 10%, quando a taxa normal estava em torno dos 2,25%, espelhando uma escassez impressionante de liquidez face à significativa procura pelas empresas para honrar os seus compromissos fiscais de final de trimestre e perante uma significativa emissão do tesouro americano, justificações dadas mais tarde pelo BIS (Bank for International Settlements - Banco internacional de Pagamentos, genérica e informalmente um Banco Central Mundial), forçando a FED a intervir com uma injeção de emergência pela primeira vez desde a crise financeira global, há mais de uma década.

Desde essa altura, há três meses, a FED tem corrigido a falta de liquidez no mercado de Repo's. Apesar dos excelentes números do emprego norteamericano, com a taxa de desemprego nos 3,5%, temos que recuar 50 anos para vermos valores semelhantes, no entanto o sentimento empresarial tem sido mais fraco e abaixo dos 50 pontos, indiciando contração económica.

O mercado monetário, nomeadamente o "overnight", é, "grosso modo", o lubrificante dos mercados financeiros, e a sua escassez fará mossas nas engrenagens de todo o sistema financeiro, que em pouco tempo deixariam de funcionar sem a intervenção das autoridades monetárias. Sempre que seja necessário, a FED irá substituir-se ao mercado, e lubrificar artificialmente os mercados financeiros, através de um novo QE4... implicitamente já existe um Quantitative Easing desde o mês de setembro espelhado no aumento do balanço da FED. Mas poderá o balanço dos bancos centrais aumentar infinitamente? 
Paulo Rosa, Economista/sénior trader do Banco Carregosa, 13 de dezembro 2019





 



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.