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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Empresas zombies ameaçam economia

As empresas "zombies" ganham apenas o dinheiro suficiente para continuarem a laborar e pagar juros, mas são incapazes de pagar as suas dívidas. Uma vez que apenas pagam despesas gerais (salários, rendas, juros), tendem a ser incapazes de investir para estimular o crescimento. Não há I&D, não há renovação do tecido empresarial, são barreiras à entrada de muitas "startup". Foram mencionadas, pela primeira vez, no Japão durante a "Década Perdida", em 1990. O suporte de vida das "zombies" para preservar empregos é um cabal causador de ineficiências económicas.

Uma subida significativa da inflação, apesar de não se vislumbrar nos próximos tempos mesmo com uma escalada moderada do preço do petróleo, será a principal razão, e talvez a única, que quebrará este ciclo vicioso da existência de "zombies", porque obrigaria os bancos centrais a subirem as suas taxas de juro de referência. Mesmo uma contração da economia dificilmente afastaria as empresas "zombies" do mercado, porque, apesar de estas não gerarem "cash flow" suficiente para honrar as suas dívidas, as baixas taxas de juro e a confiança que existe no financiamento das empresas "zombies", perante a salvaguarda última dos Bancos Centrais, suporta a continuação desta ineficiência. Uma quebra da fidúcia no mercado de crédito, quer no mercado monetário quer nas obrigações, levantaria problemas às empresas que necessitam de liquidez para refinanciar a sua dívida quando atinge a maturidade. Mas mesmo neste particular, os bancos centrais parecem estar bastante centrados na "subsidiação" destes negócios, como espelha a intervenção da FED em setembro do ano passado, quando se substituiu aos grandes bancos para financiar o mercado monetário, e fê-lo ativa e continuadamente até hoje, através do reinicio de um quarto "quantitative easing", não oficial, refletido no aumento do balanço da FED em 10%, sinalizando que estará sempre no mercado sempre que haja algum problema de liquidez e necessidades de financiamento. Em 2008, aquando da crise imobiliária, a FED só passou a intervir ativamente no mercado monetário depois da falência do Lehman Brothers, no dia 14 de setembro de 2008.

Atualmente, o mercado continua a comprar "high yield" de baixa qualidade e, consequentemente, a financiar estas empresas, denominadas de "zombies", com classificação de crédito bastante deteriorada, ao nível do "B" e abaixo, na casa dos "C", porque se sente respaldado pelas intervenções dos Bancos Centrais, apesar de estes apenas comprarem dívida de melhor qualidade, reduzindo o stock de dívida disponível para os investidores, que acabam por subir na escala de risco.

Existe uma divergência desta qualidade, com os bancos centrais a "financiarem indiretamente" empresas que não teriam qualquer viabilidade económica em outros contextos que não os atuais. O custo dos empréstimos permanece nos níveis mais baixos de sempre, mas a dívida aumenta a cada dia que passa. Na crise imobiliária de 2008 o financiamento à habitação fora concedido a pessoas que não o podiam pagar quando os preços das casas parassem de aumentar e as taxas de juros começassem a subir, e ascendia a 1,5 triliões de dólares. Atualmente, o montante das dívidas das empresas "zombies" já atingiu os cinco triliões de dólares.

Até agora, o dia do acerto de contas foi suspenso pela disposição dos Bancos Centrais de reduzirem os custos dos empréstimos para quase nada e de se envolverem num QE perpétuo. Mas essa estratégia não funciona "ad aetemum"... O que os bancos centrais vão fazer para impedir a próxima recessão? Atirar dinheiro de helicópteros, com a monetização direta da dívida, retirando toda a credibilidade das principais moedas mundiais, como o dólar e o euro?

Todavia, atualmente, não são apenas as "zombies" que preocupam, mas uma panóplia de ativos financeiros de qualidade duvidosa que se vão adensando, fruto desta política monetária energicamente expansionista dos bancos centrais dos países desenvolvidos, exceto Suécia e Noruega que subiram taxas, e que se debatem com a "japonização" das suas economias e tudo fazem para criarem inflação... 


PAULO ROSA, In Vida Económica, 14 de fevereiro 2020

Economista Sénior do Banco Carregosa 








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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.