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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Rotação de "crescimento"para "valor"?

Em 1999, muitos investidores e analistas referiam que a estratégia de investimento de Warren Buffett estava ultrapassada e que o investimento em "valor" não era mais um método viável na nova era digital da economia "dotcom", onde "crescimento" era tudo o que importava. Menos de um ano depois, os investidores desejaram ter adotado a estratégia de Warren Buffett de comprar "valor", pois o sonho das "dotcom" tinha redundado num pesadelo para os investidores mais incautos.

O binómio entre as estratégias "crescimento" e "valor" não se confina apenas às ações. Em 2007, os investidores aproveitavam o excelente momento do mercado imobiliário, um setor de forte crescimento e lucros rápidos, principalmente quando estimulado pela descida das taxas de juro, e estavam dispostos a pagar qualquer preço, numa ótica de venda mais cara em poucos meses. Como Warren Buffett refere "preço é o que se paga, e valor é o que se recebe", frase que ao longo da história do mercado foi muitas vezes abandonada pelos investidores durante períodos em que as valorizações do mercado desafiaram a lógica. Alguns investidores pagaram um prémio demasiadamente superior ao seu valor fundamental, e, em boa verdade, "pagar em excesso por valor" culmina, às vezes, em maus resultados financeiros.

No longo prazo, o desempenho das ações de "valor" supera o das ações de "crescimento". O investimento em "valor" pode proporcionar rentabilidades menores, mas com menor oscilação de preços e reduzida variabilidade dos resultados, enquanto o investimento em "crescimento" se traduz em arrojados retornos, mas suscetíveis a um risco maior, colocando em causa o montante investido na estratégia mais agressiva, em detrimento da estratégia mais conservadora. O perfil de risco do investidor é determinante, e tendencialmente a aversão ao risco aumenta com a idade, sendo maior a propensão a uma estratégia de investimento em valor, através de empresas de setores mais defensivos e cíclicos, como as "utilities", financeiras e energéticas.

Quando se opta por investir em valor, procura-se assegurar uma margem de segurança entre os 30% e os 40%, pelo menos, margem que consiste na diferença entre o preço que se paga e o valor intrínseco de uma ação. Quanto mais alta, menor é o risco.

Existem vários riscos identificados, do surto do coronavírus, o mais grave atualmente, ao hipotético ressurgimento das tensões geopolíticas entre os EUA e o Irão, passando pelo acordo do pós- "Brexit" entre o Reino e a União Europeia e pelas incertezas políticas em Itália, apesar de ser um ano de eleições nos EUA que tradicionalmente costuma ser calmo. Os bancos centrais estão no terreno para exponenciarem, caso seja necessário, as suas políticas monetárias expansionistas. E nunca é de mais referir que o mercado acionista valoriza há 11 anos consecutivos, a maior tendência altista de sempre.

No que concerne à economia chinesa, alguns analistas prevêem que o seu Governo, em março, possa reduzir a meta de crescimento, para o limite inferior do atual intervalo previsto [6% a 6,5%), ou seja, para 6%, o menor crescimento desde 1992.

Em duas sessões, a China injetou liquidez nos mercados financeiros e na economia real o equivalente a dezenas de biliões de euros, para impedir um abrandamento económico, e tomará medidas de estímulo através do aumento dos gastos públicos e da emissão de títulos do Governo para amortecer um pressuposto abrandamento.

Antes do surto do coronavírus, o crescimento do crédito na China já havia desacelerado para o ritmo mais lento desde 2017, penalizado pelo crescente colapso nos bancos paralelos e pelo enfraquecimento da procura de crédito por parte das empresas. Caso o impacto do coronavírus na economia seja significativo, alguns economistas prevêem um abrandamento brusco do crescimento para 4,5% no primeiro trimestre de 2020.

Todavia, na vertente "crescimento", a Tesla, acima de tudo uma empresa tecnológica, e no grupo das "big tech", a Apple e a Amazon, continuam a apresentar resultados surpreendentes.

Ativos de renda fixa podem ser também uma cabal alternativa de investimento se as taxas de juro descerem e os balanços dos bancos centrais continuarem a expandir-se...
 
PAULO ROSA, In "Vida Económica", 7 de fevereiro 2020


 

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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.