Em 1999, muitos investidores e analistas referiam que a estratégia de
investimento de Warren Buffett estava ultrapassada e que o investimento em
"valor" não era mais um método viável na nova era digital da economia
"dotcom", onde "crescimento" era tudo o que importava.
Menos de um ano depois, os investidores desejaram ter adotado a estratégia de
Warren Buffett de comprar "valor", pois o sonho das
"dotcom" tinha redundado num pesadelo para os investidores mais
incautos.
O binómio entre as estratégias "crescimento" e "valor" não
se confina apenas às ações. Em 2007, os investidores aproveitavam o excelente
momento do mercado imobiliário, um setor de forte crescimento e lucros rápidos,
principalmente quando estimulado pela descida das taxas de juro, e estavam
dispostos a pagar qualquer preço, numa ótica de venda mais cara em poucos
meses. Como Warren Buffett refere "preço é o que se paga, e valor é o que
se recebe", frase que ao longo da história do mercado foi muitas vezes
abandonada pelos investidores durante períodos em que as valorizações do
mercado desafiaram a lógica. Alguns investidores pagaram um prémio
demasiadamente superior ao seu valor fundamental, e, em boa verdade,
"pagar em excesso por valor" culmina, às vezes, em maus resultados
financeiros.
No longo prazo, o desempenho das ações de "valor" supera o das ações
de "crescimento". O investimento em "valor" pode
proporcionar rentabilidades menores, mas com menor oscilação de preços e
reduzida variabilidade dos resultados, enquanto o investimento em
"crescimento" se traduz em arrojados retornos, mas suscetíveis a um
risco maior, colocando em causa o montante investido na estratégia mais
agressiva, em detrimento da estratégia mais conservadora. O perfil de risco do
investidor é determinante, e tendencialmente a aversão ao risco aumenta com a
idade, sendo maior a propensão a uma estratégia de investimento em valor,
através de empresas de setores mais defensivos e cíclicos, como as
"utilities", financeiras e energéticas.
Quando se opta por investir em valor, procura-se assegurar uma margem de
segurança entre os 30% e os 40%, pelo menos, margem que consiste na diferença
entre o preço que se paga e o valor intrínseco de uma ação. Quanto mais alta,
menor é o risco.
Existem vários riscos identificados, do surto do coronavírus, o mais grave
atualmente, ao hipotético ressurgimento das tensões geopolíticas entre os EUA e
o Irão, passando pelo acordo do pós- "Brexit" entre o Reino e a União
Europeia e pelas incertezas políticas em Itália, apesar de ser um ano de
eleições nos EUA que tradicionalmente costuma ser calmo. Os bancos centrais
estão no terreno para exponenciarem, caso seja necessário, as suas políticas
monetárias expansionistas. E nunca é de mais referir que o mercado acionista
valoriza há 11 anos consecutivos, a maior tendência altista de sempre.
No que concerne à economia chinesa, alguns analistas prevêem que o seu Governo,
em março, possa reduzir a meta de crescimento, para o limite inferior do atual
intervalo previsto [6% a 6,5%), ou seja, para 6%, o menor crescimento desde
1992.
Em duas sessões, a China injetou liquidez nos mercados financeiros e na
economia real o equivalente a dezenas de biliões de euros, para impedir um
abrandamento económico, e tomará medidas de estímulo através do aumento dos
gastos públicos e da emissão de títulos do Governo para amortecer um
pressuposto abrandamento.
Antes do surto do coronavírus, o crescimento do crédito na China já havia
desacelerado para o ritmo mais lento desde 2017, penalizado pelo crescente
colapso nos bancos paralelos e pelo enfraquecimento da procura de crédito por
parte das empresas. Caso o impacto do coronavírus na economia seja significativo,
alguns economistas prevêem um abrandamento brusco do crescimento para 4,5% no
primeiro trimestre de 2020.
Todavia, na vertente "crescimento", a Tesla, acima de tudo uma
empresa tecnológica, e no grupo das "big tech", a Apple e a Amazon,
continuam a apresentar resultados surpreendentes.
Ativos de renda fixa podem ser também uma cabal alternativa de investimento se as
taxas de juro descerem e os balanços dos bancos centrais continuarem a
expandir-se...
PAULO ROSA, In "Vida Económica", 7 de fevereiro 2020
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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