Since December 25th, 2010

Translate

sexta-feira, 26 de junho de 2020

A NECESSIDADE AGUÇA O ENGENHO

Poderá ter sido o "bear market" mais rápido de sempre, cerca de duas semanas no mês de março, e o início do "bull market" mais odiado de sempre, com muitos investidores a ficarem de fora do "rally". Mas o fator TINA ("There Is No Alternative") alimenta a FOMO ("Fear Of Missing Out").

As taxas de juro próximas de zero, devido às reforçadas políticas monetárias expansionistas dos principais bancos centrais do mundo, deixam poucas alternativas aos investidores que procuram rentabilidade. O mercado perdeu cerca de 40%, mas muitas bolsas já recuperaram parte dessas perdas e algumas já estão em máximos históricos novamente.

Não será fácil voltarmos a ver mínimos no mercado por causa da Covid-19. Perante uma segunda vaga, haverá muita resistência a um novo confinamento global, e, eventualmente, poderemos ter confinamentos localizados à medida que os novos casos aumentem significativamente. População e autoridades estão atentas, conscientes e zelam pela saúde com meios de higiene e uso de máscara.

No inverno de 1918/19, na fase mais mortífera da gripe espanhola, o Dow Jones perdeu cerca de 11 % em três meses, desde o seu ponto mais alto em outubro de 1918 ao ponto mais baixo em fevereiro de 1919, e S&P500 à volta de 15%. Na gripe asiática de 1957/58, o S&P 500 perdeu quase 21%, em três meses, do máximo de julho ao mínimo de outubro 1957, sendo novembro desse ano e março de 1958 os picos do número de mortes. Nestas duas pandemias não houve confinamento global.

A necessidade de novas formas de trabalho para contornar, e debelar, a pandemia de Covid-19 abriram um mundo novo de oportunidades, competências, aptidões e capacidades.

Parte destas mudanças e alterações vieram para ficar, e a pandemia veio acelerar a quarta revolução industrial.

Poderemos estar no arranque de um novo ciclo económico, mais digital, automatizado e robotizado, com o teletrabalho como principal pilar desta nova economia digital.

Nas últimas semanas, o aumento de novos casos de Covid-19 foi, em parte, negligenciado pelo mercado.

Mas perante a contração do balanço da Reserva Federal norte-americana, na semana passada, pela primeira vez desde janeiro, os receios dos investidores podem regressar, diante de uma segunda vaga, e colocar em causa o atual formato de recuperação em "V" descontado pelo mercado.

A evolução do valor dos ativos financeiros deverá continuar a ser influenciada pela atuação dos bancos centrais. Quando o otimismo é demasiado, os bancos centrais tendem a refrear os estímulos monetários, e reforçá-los perante um agravamento do pessimismo. Os bancos centrais que, grosso modo, já controlam a "yield curve", também influenciam as cotações das ações.

Os investidores e os bancos centrais estarão atentos aos indicadores económicos para aferirem se a recuperação económica é mais ou menos forte, e se as cotações correspondem ao real valor das empresas e se são necessários ajustes nas políticas monetárias e orçamentais.

A não ser que existam outros fatores atualmente desconhecidos, o próximo mercado em alta estará em construção, apesar de muitos acharem que não faz sentido. A negatividade e o medo reinam sempre no início de um ciclo de alta devido ao cansaço mental. Foi assim em outubro de 2002, e no início de 2009, quando poucos acreditavam nos pacotes de estímulos das autoridades europeias, norte-americanas, e pelo incentivo chinês de 500 biliões de dólares. O atual ciclo de baixa começou com mais força do que nunca, antecipando quase imediatamente a recessão que seria desencadeada como resultado das medidas de confinamento e distanciamento social. Quando as expectativas são baixas, praticamente qualquer cenário estimula as ações.

A maioria geralmente despreza a recuperação, considerando-a uma armadilha para os incautos. Presta-se mais atenção às más notícias, negam-se os possíveis fatores positivos, e surge o pessimismo da desconfiança...

Paulo Monteiro Rosa, In Vida Económica, 26 de junho de 2020

 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Arquivo do blogue

Seguidores

Economista

A minha foto
Naturalidade Angolana
Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.