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terça-feira, 23 de junho de 2020

Os estímulos monetários e as bolsas


Na semana passada, o balanço da Reserva Federal norte-americana não se expandiu, algo que não acontecia desde meados de janeiro. Em simultâneo, assistimos a um "sell-off" nos mercados e as ações tocaram em mínimos das últimas três semanas. Desde o início do confinamento, o balanço do Banco Central dos EUA cresceu cerca de 75%, quase 3 mil milhões de dólares ou 15% do PIB norte-americano. Esta expansão equivale a um ritmo médio superior a 100 mil milhões de dólares semanais e, neste período, ainda não se havia expandido menos de 60 mil milhões de dólares em termos semanais (saliente-se que os dados são divulgados a cada quinta-feira, referentes à semana de quarta-feira a quarta-feira).

Há 10 dias, a 5 de junho, as ações subiram em resultado de uma lei de estímulo orçamental de um bilião de dólares que estaria a ser ponderada pela Administração de Donald Trump.

Neste início de semana, as bolsas abriram em baixa pressionadas pelos receios de uma segunda vaga, com o agudizar de novos casos do surto virai no sul dos EUA, em Pequim e no Brasil, mas encerraram a sessão a aliviar e, recuperar dos mínimos.

Na terça-feira, abriram em forte alta, impulsionadas pelos estímulos em infraestruturas de um bilião de dólares apresentados pelo governo de Trump. Um pacote para reconstruir estradas e pontes degradadas, investir em indústrias futuras e tecnologia 5G.

Em simultâneo, este pacote, "grosso modo", parece ter afastado os receios, pelos menos temporariamente, de uma segunda vaga global da Covid-19.

A Reserva Federal dos EUA referiu também que em breve começará a comprar dívida empresarial individual, estendendo um programa que antes estava limitado à compra de fundos negociados em bolsa de valores.

Na terça-feira, o Banco Central do Japão seguiu a FED e ampliou o seu pacote de empréstimos empresariais à volta de 700 mil milhões de dólares para cerca de um bilião de dólares. Esperam-se ainda mais desenvolvimentos por parte de Jerome Powell, presidente da Reserva Federal norte-americana, e do Banco da Inglaterra, particularmente depois dos dececionantes dados do desemprego que espelham dificuldades económicas acrescidas no Reino Unido.

Além disso, o italiano Fábio Panetta, membro do conselho do Banco Central Europeu, instou a União Europeia a decidir urgentemente sobre um pacote de medidas orçamentais para amenizar a crise económica provocada pela pandemia de Covid-19. Após as notícias dos estímulos, o petróleo voltou aos ganhos, o VTX desceu para quase 30 pontos, depois de ter tocado nos 41 pontos, e o Dollar índex permaneceu abaixo dos 97 pontos, refletindo alguma tranquilidade do mercado, menos incerteza e volatilidade. Os investidores voltaram a assumir uma postura de "risk-on". Os mercados de dívida pública norte-americano e germânico, refúgios a semana passada perante o "sell-off" acionista, voltaram às quedas e os juros subiram.

O tamanho e o ritmo da expansão do balanço da Reserva Federal, dos restantes principais bancos centrais do mundo (BCE, BoJ, BoE e BNS) e os estímulos governamentais "monetizados" irão ditar o desempenho dos mercados de ações globais?

Paulo Rosa, 12 junho 2020, Vida Económica








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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.