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sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Inflação e bancos centrais em 2023

 

Muito provavelmente, a inflação homóloga em Portugal deverá atingir o seu valor mais elevado no atual quarto trimestre de 2022, prevendo-se que os efeitos base diminuíam gradualmente a partir do primeiro trimestre de 2023 e mais consideravelmente a partir da primavera, permitindo por esta via a queda da inflação. Entretanto, a variação mensal da inflação já desacelerou em novembro e os preços subiram apenas 0,3% depois da alta de 1,2% em outubro. A inflação em Portugal, tal como na Europa, é maioritariamente do lado da oferta e tem sido impulsionada pelo preço da energia e da alimentação, sobretudo após o início da guerra Ucrânia. À medida que os preços da energia diminuem, as cadeias de abastecimento se regularizam e as tensões geopolíticas no leste europeu abrandam, o aumento dos preços no consumidor tendem a aliviar em Portugal. Também o significativo aumento das taxas de juro, associado à elevada inflação, deteriora cada vez mais o rendimento disponível, penalizando a já frágil procura portuguesa, aumentando a probabilidade de recessão e contribuindo para uma tendência sustentada de desaceleração dos preços no consumidor em Portugal, sendo de esperar uma substancial descida da inflação na segunda metade de 2023. Os preços no produtor já estão a cair na Europa, nomeadamente na Alemanha os números relativos a novembro caíram 3,9%. Essa foi a segunda vez consecutiva que os preços no produtor germânicos caíram significativamente em comparação com o mês anterior (-4,2% outubro de 2022). Em comparação com o mês anterior, outubro de 2022, os preços da energia caíram 9,6%, devido principalmente à diminuição dos preços do gás natural, seguidos dos preços da eletricidade. Embora os números da inflação no consumidor continuem junto aos máximos em vários países da UE, a tendência de queda dos preços no produtor generaliza-se por toda a Europa. A pressão de custos tem diminuído principalmente devido à queda dos preços da energia e à redução das dificuldades nas cadeias de suprimentos. O preço do petróleo já está abaixo dos níveis do início da guerra na Ucrânia. Desde o início de outubro, a valorização do euro face ao dólar à volta de 12% tem contribuído para uma desaceleração da inflação importada, embaratecendo também o barril de petróleo em euros. Cerca de três quartos das importações portuguesas são provenientes da UE e parte desses produtos importados, nomeadamente combustíveis fósseis, metais industriais e produtos agrícolas, têm origem fora da Europa e são cotados sobretudo em dólares, sendo os principais responsáveis pelo avanço da inflação europeia nos primeiros noves meses. As importações portuguesas pesam cerca de 40% no PIB nacional, podendo ter um caráter inflacionista ou deflacionista para a evolução da inflação portuguesa, dependendo se os seus preços estão a aumentar ou a diminuir. Entretanto, a inflação na Alemanha deverá fixar-se em 7,5% em 2023, segundo o gabinete de economia e finanças da UE nas perspetivas de outono. Deverá ser de 7% na UE e 6,1% na área do euro. O mesmo gabinete da UE antecipa para Portugal uma taxa de inflação de 5,8% em 2023, abaixo das expectativas para Europa. O OE 2023 do executivo português aponta para 4% e o FMI referiu em outubro que a Inflação desaceleraria para 4,7% no próximo ano. As projeções para a inflação portuguesa em 2023 são das mais baixas a nível europeu, mostrando que esta não está tão enraizada e generalizada como na Europa, beneficiando da menor dependência do gás natural russo. Qualquer melhoria da inflação na UE e uma abrandamento dos preços das “commodities”, conduziria a inflação portuguesa no final de 2023 para valores abaixo dos 4%, sendo que uma recessão aceleraria ainda mais essa queda da inflação.

O que poderemos esperar do BCE e da Fed no próximo ano? Um abrandamento no aumento das taxas de juro de curto prazo e uma aceleração dos “quantitative tightening”, podendo esta diminuição dos balanços limitar a queda das taxas de juro de longo prazo, mas uma recessão e consequente queda da inflação acima do previsto poderia acelerar a queda dos rendimentos do tesouro. Os bancos centrais tentam mitigar ou mesmo reverter a atual inclinação negativa das curvas de rendimento que além de indiciarem uma tendência económica recessiva, têm penalizado sobretudo os tomadores de empréstimos indexados a taxas de juro de curto prazo. Atualmente o mercado antecipa uma taxa de juro terminal de 3,45% na Zona Euro em meados do próximo verão (era 2,83% antes da reunião de 15 de dezembro do BCE) e de 5% nos EUA. Atualmente as taxas de juro da Fed estão no intervalo de [4,25% a 4,50%] e de acordo com o mercado tudo indica que a Fed proceda a dois aumentos de 25 pontos base em cada uma das suas primeiras duas reuniões do próximo ano, a 1 de fevereiro e a 22 de março, fixando a taxa de juro terminal no intervalo [4,75% a 5%]. Sendo de esperar, atualmente e de acordo com o mercado, que reverta esses mesmos dois aumentos no segundo semestre de 2023.

PMR In VE 30 dezembro 2022 



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.