Muito
provavelmente, a inflação homóloga em Portugal deverá atingir o seu valor mais
elevado no atual quarto trimestre de 2022, prevendo-se que os efeitos base
diminuíam gradualmente a partir do primeiro trimestre de 2023 e mais
consideravelmente a partir da primavera, permitindo por esta via a queda da
inflação. Entretanto, a variação mensal da inflação já desacelerou em novembro e
os preços subiram apenas 0,3% depois da alta de 1,2% em outubro. A inflação em
Portugal, tal como na Europa, é maioritariamente do lado da oferta e tem sido
impulsionada pelo preço da energia e da alimentação, sobretudo após o início da
guerra Ucrânia. À medida que os preços da energia diminuem, as cadeias de
abastecimento se regularizam e as tensões geopolíticas no leste europeu
abrandam, o aumento dos preços no consumidor tendem a aliviar em Portugal. Também
o significativo aumento das taxas de juro, associado à elevada inflação,
deteriora cada vez mais o rendimento disponível, penalizando a já frágil
procura portuguesa, aumentando a probabilidade de recessão e contribuindo para
uma tendência sustentada de desaceleração dos preços no consumidor em Portugal,
sendo de esperar uma substancial descida da inflação na segunda metade de 2023.
Os preços no produtor já estão a cair na Europa, nomeadamente na Alemanha os
números relativos a novembro caíram 3,9%. Essa foi a segunda vez consecutiva
que os preços no produtor germânicos caíram significativamente em comparação
com o mês anterior (-4,2% outubro de 2022). Em comparação com o mês anterior,
outubro de 2022, os preços da energia caíram 9,6%, devido principalmente à
diminuição dos preços do gás natural, seguidos dos preços da eletricidade.
Embora os números da inflação no consumidor continuem junto aos máximos em
vários países da UE, a tendência de queda dos preços no produtor generaliza-se por
toda a Europa. A pressão de custos tem diminuído principalmente devido à queda
dos preços da energia e à redução das dificuldades nas cadeias de suprimentos.
O preço do petróleo já está abaixo dos níveis do início da guerra na Ucrânia.
Desde o início de outubro, a valorização do euro face ao dólar à volta de 12%
tem contribuído para uma desaceleração da inflação importada, embaratecendo
também o barril de petróleo em euros. Cerca de três quartos das importações
portuguesas são provenientes da UE e parte desses produtos importados,
nomeadamente combustíveis fósseis, metais industriais e produtos agrícolas, têm
origem fora da Europa e são cotados sobretudo em dólares, sendo os principais
responsáveis pelo avanço da inflação europeia nos primeiros noves meses. As
importações portuguesas pesam cerca de 40% no PIB nacional, podendo ter um
caráter inflacionista ou deflacionista para a evolução da inflação portuguesa,
dependendo se os seus preços estão a aumentar ou a diminuir. Entretanto, a
inflação na Alemanha deverá fixar-se em 7,5% em 2023, segundo o gabinete de
economia e finanças da UE nas perspetivas de outono. Deverá ser de 7% na UE e
6,1% na área do euro. O mesmo gabinete da UE antecipa para Portugal uma taxa de
inflação de 5,8% em 2023, abaixo das expectativas para Europa. O OE 2023 do
executivo português aponta para 4% e o FMI referiu em outubro que a Inflação
desaceleraria para 4,7% no próximo ano. As projeções para a inflação portuguesa
em 2023 são das mais baixas a nível europeu, mostrando que esta não está tão
enraizada e generalizada como na Europa, beneficiando da menor dependência do
gás natural russo. Qualquer melhoria da inflação na UE e uma abrandamento dos
preços das “commodities”, conduziria a inflação portuguesa no final de
2023 para valores abaixo dos 4%, sendo que uma recessão aceleraria ainda mais
essa queda da inflação.
O que poderemos esperar do BCE e da Fed no próximo ano? Um abrandamento no
aumento das taxas de juro de curto prazo e uma aceleração dos “quantitative
tightening”, podendo esta diminuição dos balanços limitar a queda das taxas
de juro de longo prazo, mas uma recessão e consequente queda da inflação acima
do previsto poderia acelerar a queda dos rendimentos do tesouro. Os bancos
centrais tentam mitigar ou mesmo reverter a atual inclinação negativa das
curvas de rendimento que além de indiciarem uma tendência económica recessiva,
têm penalizado sobretudo os tomadores de empréstimos indexados a taxas de juro
de curto prazo. Atualmente o mercado antecipa uma taxa de juro terminal de 3,45%
na Zona Euro em meados do próximo verão (era 2,83% antes da reunião de 15 de
dezembro do BCE) e de 5% nos EUA. Atualmente as taxas de juro da Fed estão no
intervalo de [4,25% a 4,50%] e de acordo com o mercado tudo indica que a Fed
proceda a dois aumentos de 25 pontos base em cada uma das suas primeiras duas
reuniões do próximo ano, a 1 de fevereiro e a 22 de março, fixando a taxa de
juro terminal no intervalo [4,75% a 5%]. Sendo de esperar, atualmente e de
acordo com o mercado, que reverta esses mesmos dois aumentos no segundo
semestre de 2023.
PMR In VE 30 dezembro 2022
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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sexta-feira, 20 de janeiro de 2023
Inflação e bancos centrais em 2023
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