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sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Mercados têm “Annus horribilis” em 2022



O ano de 2022 ficará marcado como um “annus horribilis” tanto para os mercados acionista, como também para os mercados de dívida. As bolsas europeias registaram o pior ano desde 2018 e as praças norte-americanas tiveram a maior queda desde 2008. O índice pan-europeu Stoxx 600 caiu 12,9%. Um ano difícil marcado por tensões geopolíticas e receios de uma recessão à medida que os bancos centrais aumentaram os juros para travarem a inflação mais elevada das últimas quatro décadas. Wall Street registou a maior queda percentual anual desde 2008 e a primeira desvalorização anual desde 2018, penalizada pelo ritmo mais rápido de aumento de juros da Reserva Federal dos EUA (Fed) desde a década de 1980.

A última semana de 2022 ficou marcada quer pela falta de liquidez, quer pelo agudizar dos receios quanto a um agravamento dos casos de covid-19 na China. O setor imobiliário continuou a apresentar uma crescente deterioração, designadamente nos EUA. Os contratos promessa caíram muito mais do que o esperado em novembro, descendo pelo sexto mês consecutivo, na mais recente indicação do forte impacto que os aumentos das taxas de juro da Fed estão a impor ao mercado imobiliário. O declínio geral nos contratos assinados corroborou a queda das vendas de casas usadas pelo décimo mês consecutivo em novembro, indiciando também uma desvalorização nos próximos meses. No entanto, apesar de o índice pan-europeu Stoxx 600 ter caído 12,9% no ano, o seu pior desempenho desde 2018, as ações de Londres superaram, valorizando quase 1% no ano, devido à forte exposição a “commodities”. Também o PSI ganhou em 2022, valorizando 2,8% no ano. A Galp Energia foi a estrela do ano com uma alta de 48%. Wall Street registou a maior queda percentual anual desde 2008, penalizada pelo ritmo mais rápido de aumento dos juros da Fed desde a década de 1980, cujos Juros subiram em 2022 do intervalo de [0% a 0,25%] no início do ano até [4,25% a 4,50%] na última reunião do banco central dos EUA em 14 de dezembro. O S&P 500 caiu quase 20% no ano passado, marcando uma queda de aproximadamente 8 biliões de dólares de valor de mercado, aproximadamente um terço da riqueza produzida num ano nos EUA. O Nasdaq desceu 33,1%, tendo a primeira queda de quatro trimestres consecutivos desde o “crash” das “dotcom”, enquanto o Dow Jones perdeu 8,9%. O índice de crescimento (“growth”) do S&P 500 caiu cerca de 30,1% este ano, enquanto o índice de valor (“value”) perdeu 7,4%, com os investidores a preferirem setores de elevados dividendos, tais como o da energia. Este setor da energia registou ganhos anuais de 58% nos EUA com o aumento dos preços do petróleo a impulsionarem o setor. Energia, petróleo e bancos são os vencedores de 2022. Setores sensíveis às taxas de juro foram os mais penalizados, tais como tecnológicas e Imobiliário.

Também o mês de dezembro foi negativo depois da recuperação de outubro e novembro. Em 2022, não houve lugar ao habitual rali de Natal. A Europa encerrou o mês de dezembro com uma queda de 4% e os EUA com 6%, Stoxx 600 e S&P 500 respetivamente. Os indicadores económicos e os declives negativos das curvas de rendimentos apontam para recessão, tensões geopolíticas, incluindo a guerra na Ucrânia, e o aumento de casos de COVID na China e incertezas sobre Taiwan, agravam o sentimento. Em dezembro, a produção industrial na China caiu ao ritmo mais elevado dos últimos 3 anos. Contudo, o PMI de Chicago em dezembro terminou o ano mais forte que o esperado. Os preços do gás natural na Europa voltaram aos níveis pré-guerra da Ucrânia. E o preço da eletricidade na Península Ibérica voltou a recuar nas últimas semanas, atingindo o mínimo de quase dois anos. A taxa de inflação anual em Espanha caiu para 5,8% em dezembro de 2022, de 6,8% no mês anterior, a menor desde novembro de 2021. No 2º semestre de 2022, Espanha teve mesmo deflação e os preços caíram 0,2%. Por outro lado, a taxa de inflação subjacente (“core”), que exclui itens voláteis como alimentos não processados e energia, subiu de 6,3% para 6,9%. Mensalmente, em Espanha, os preços ao consumidor subiram 0,3%, após uma queda de 0,1% em novembro. O relatório de emprego nos EUA nesta sexta-feira, nomeadamente o ritmo salarial, a taxa de desemprego, a taxa de participação e os postos de trabalho criados em dezembro, excluindo empregos agrícolas, serão fundamentais para a perceber a condução da política monetária da Fed. Sendo também de crucial importância os números da inflação norte-americana a serem publicados na quinta-feira da próxima semana, dia 12 de janeiro, antecipando-se uma queda da inflação homóloga para 6,7% em dezembro (o que seria o número mais baixo desde outubro de 2021), do número anterior de 7,1% em novembro.

PMR in VE 6 janeiro 2023



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.