Since December 25th, 2010

Translate

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Perspetivas económicas para 2023

 

O ano de 2022 ficou marcado pela desaceleração económica global à medida que a inflação se tornou mais persistente e generalizada, nomeadamente nas economias avançadas, depois de um robusto crescimento da atividade em 2021, ditado pela gradual reabertura da economia. Após a fase mais grave da pandemia na primavera de 2020 e com a descoberta de uma vacina no final desse ano, foi possível reabrir gradualmente a economia em 2021 à medida que a vacinação avançava a nível global. No entanto, as dificuldades nas cadeias de abastecimento e o aumento significativo dos preços da energia culminaram numa subida do índice de preços do consumidor no final de 2021, agravada e acelerada pela guerra na Ucrânia no início de 2022. Sendo assim, no ano passado, os principias bancos centrais, na tentativa de travarem a mais elevada inflação das últimas décadas, adotaram uma enérgica postura monetária restritiva, subindo consideravelmente as suas taxas de juro, fragilizando ainda mais o rendimento disponível das famílias já penalizado pela elevada subida dos preços. Portanto, uma provável diminuição da procura deverá aliviar a inflação, mas pode levar à generalização de uma recessão em 2023 além do que é atualmente esperado. Em 2022, a Reserva Federal dos EUA (Fed) subiu a sua taxa de referência em 425 pontos base e o Banco Central Europeu (BCE) aumentou-a em 250 pontos. Entretanto, a economia chinesa tem permanecido num rumo distinto, sem inflação devido à sua política “zero Covid”, permitindo ao Banco Popular da China (PBoC) assumir uma política monetária expansionista. Além disso, a reabertura da segunda maior economia global no início deste ano poderá impulsionar o crescimento económico, mas é também uma ameaça ao atual recuo da inflação, sobretudo nas economias avançadas.

A atividade económica global vive uma desaceleração generalizada e mais acentuada do que o esperado. A Fed em dezembro reviu em baixa o crescimento económico para 0,5% em 2023 de 1,2% em setembro e em alta a inflação, medida pelo PCE core, de 3,1% para 3,5%, aumentando também a taxa de desemprego esperada para 2023 de 4,4% para 4,6%. Apesar de a taxa de desemprego ter sido de 3,5% em dezembro, corroborando um mercado de trabalho robusto, a desaceleração do aumento dos salários afasta gradualmente uma espiral inflacionista via salarial. O banco central dos EUA também antecipa um crescimento anémico em 2024 e 2025 de 1,6% e 1,8%, respetivamente. A crise do custo de vida, o aperto das condições financeiras na maioria das geografias, a invasão da Ucrânia pela Rússia e a relativa persistência da pandemia de covid-19, sobretudo na China, penalizam substancialmente as perspetivas. O FMI estima um crescimento de apenas 0,5% na Zona Euro e recessão económica na Alemanha e em Itália em 2023 de 0,3% e 0,2%, respetivamente. A OCDE estima também um crescimento para a Zona Euro de apenas 0,5% em 2023 e de 1,4% em 2024, confirmando também as convicções de um crescimento fraco na Europa nos próximos anos.

O FMI antecipa que o crescimento global desacelere de 6% em 2021 para 3,2% em 2022 e 2,7% em 2023. Excetuando a Grande Recessão de 2008-09 e a fase mais grave da pandemia de covid-19 na primavera de 2020, este é o crescimento mais fraco desde 2001. Depois do aumento da inflação global de 4,7% em 2021 para 8,8% em 2022, o FMI espera que os preços no consumidor desçam para 6,5% em 2023 e para 4,1% em 2024. Na última leitura económica em 11 de outubro do ano passado, o FMI referiu que a política monetária deveria continuar norteada pela estabilidade de preços, tendo a política orçamental de ser capaz de aliviar as pressões do custo de vida, todavia mantendo uma postura suficientemente rígida e alinhada com a política monetária, aproveitando a elevada inflação para diminuir o elevado rácio da dívida relativamente ao PIB nominal, sobretudo nas economias avançadas com contas públicas frágeis.

Em suma, 2023 será eventualmente o ano do recuo do fenómeno inflacionista mais elevado das últimas décadas, mas ameaça também ser o ano da recessão. Há meses que o declive negativo das curvas de rendimentos dos EUA e da Europa antecipa uma recessão económica.

PMR in VE 13 janeiro 2023




Sem comentários:

Enviar um comentário

Arquivo do blogue

Seguidores

Economista

A minha foto
Naturalidade Angolana
Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.