O ano de 2022 ficou marcado pela desaceleração económica
global à medida que a inflação se tornou mais persistente e generalizada,
nomeadamente nas economias avançadas, depois de um robusto crescimento da
atividade em 2021, ditado pela gradual reabertura da economia. Após a fase mais
grave da pandemia na primavera de 2020 e com a descoberta de uma vacina no
final desse ano, foi possível reabrir gradualmente a economia em 2021 à medida
que a vacinação avançava a nível global. No entanto, as dificuldades nas cadeias
de abastecimento e o aumento significativo dos preços da energia culminaram
numa subida do índice de preços do consumidor no final de 2021, agravada e
acelerada pela guerra na Ucrânia no início de 2022. Sendo assim, no ano
passado, os principias bancos centrais, na tentativa de travarem a mais elevada
inflação das últimas décadas, adotaram uma enérgica postura monetária
restritiva, subindo consideravelmente as suas taxas de juro, fragilizando ainda
mais o rendimento disponível das famílias já penalizado pela elevada subida dos
preços. Portanto, uma provável diminuição da procura deverá aliviar a inflação,
mas pode levar à generalização de uma recessão em 2023 além do que é atualmente
esperado. Em 2022, a Reserva Federal dos EUA (Fed) subiu a sua taxa de
referência em 425 pontos base e o Banco Central Europeu (BCE) aumentou-a em 250
pontos. Entretanto, a economia chinesa tem permanecido num rumo distinto, sem
inflação devido à sua política “zero Covid”, permitindo ao Banco Popular da
China (PBoC) assumir uma política monetária expansionista. Além disso, a
reabertura da segunda maior economia global no início deste ano poderá
impulsionar o crescimento económico, mas é também uma ameaça ao atual recuo da
inflação, sobretudo nas economias avançadas.
A atividade económica global vive
uma desaceleração generalizada e mais acentuada do que o esperado. A Fed em
dezembro reviu em baixa o crescimento económico para 0,5% em 2023 de 1,2% em
setembro e em alta a inflação, medida pelo PCE core, de 3,1% para 3,5%,
aumentando também a taxa de desemprego esperada para 2023 de 4,4% para 4,6%.
Apesar de a taxa de desemprego ter sido de 3,5% em dezembro, corroborando um
mercado de trabalho robusto, a desaceleração do aumento dos salários afasta
gradualmente uma espiral inflacionista via salarial. O banco central dos EUA
também antecipa um crescimento anémico em 2024 e 2025 de 1,6% e 1,8%,
respetivamente. A crise do custo de vida, o aperto das condições financeiras na
maioria das geografias, a invasão da Ucrânia pela Rússia e a relativa
persistência da pandemia de covid-19, sobretudo na China, penalizam
substancialmente as perspetivas. O FMI estima um crescimento de apenas 0,5% na
Zona Euro e recessão económica na Alemanha e em Itália em 2023 de 0,3% e 0,2%,
respetivamente. A OCDE estima também um crescimento para a Zona Euro de apenas
0,5% em 2023 e de 1,4% em 2024, confirmando também as convicções de um
crescimento fraco na Europa nos próximos anos.
O FMI antecipa que o crescimento
global desacelere de 6% em 2021 para 3,2% em 2022 e 2,7% em 2023. Excetuando a
Grande Recessão de 2008-09 e a fase mais grave da pandemia de covid-19 na
primavera de 2020, este é o crescimento mais fraco desde 2001. Depois do
aumento da inflação global de 4,7% em 2021 para 8,8% em 2022, o FMI espera que
os preços no consumidor desçam para 6,5% em 2023 e para 4,1% em 2024. Na última
leitura económica em 11 de outubro do ano passado, o FMI referiu que a política
monetária deveria continuar norteada pela estabilidade de preços, tendo a
política orçamental de ser capaz de aliviar as pressões do custo de vida,
todavia mantendo uma postura suficientemente rígida e alinhada com a política
monetária, aproveitando a elevada inflação para diminuir o elevado rácio da
dívida relativamente ao PIB nominal, sobretudo nas economias avançadas com
contas públicas frágeis.
Em suma, 2023 será eventualmente
o ano do recuo do fenómeno inflacionista mais elevado das últimas décadas, mas
ameaça também ser o ano da recessão. Há meses que o declive negativo das curvas
de rendimentos dos EUA e da Europa antecipa uma recessão económica.
PMR in VE 13 janeiro 2023
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