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sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Bolsas com espírito natalício em 2019

As perspetivas para o ano, quase a terminar, eram cautelosas perante vários fatores que anteviam vários cenários, desde o "Brexit" aos acordos comerciais, passando pelas políticas monetárias dos bancos e pelos receios de um agudizar das quedas do último trimestre de 2018. Mas as bolsas acabaram por ter um comportamento exemplar, sempre em crescendo, parando apenas para tomar fôlego em maio, agosto e início de outubro, e irão terminar o ano, muito provavelmente, em máximos históricos, nomeadamente os principais índices.

O PSI-20, em boa verdade um PSI-18 porque é constituído há muito por 18 empresas, acaba o ano em alta, mas muito aquém do comportamento dos principais índices acionistas, e espelha bem o que tem sido a evolução da economia portuguesa nos últimos 20 anos, com crescimentos conjunturais e que passou por um resgaste financeiro em 2011. O PSI-20 representa hoje um terço do que era o seu valor no início do milénio. Pior que Portugal, apenas a Grécia, cujo seu principal índice se resume atualmente a uns 13% do seu máximo histórico em 1999, mas, no entanto, tem um excelente desempenho este ano com uma valorização de 43%.

A Jerónimo Martins lidera os ganhos, com uma subida de quase 50%, premiada pelos resultados da sua estratégia de internacionalização, em que na Colômbia mantém interessantes ritmos de crescimento e na Polónia tem ultrapassado os diversos desafios. A Corticeira Amorim e a EDP registam valorizações de 25% e a Sonae e os CTT à volta de 15% (no negócio bancário parece ganhar tração com o crédito/financiamento pela aquisição da Crédito321 e no transporte de encomendas aparente estar a conseguir capitalizar com o aumento do comércio online). Pela negativa o BCP, com uma perda a rondar os 10%, refletindo a dificuldade em realizar dinheiro com as taxas de juro negativas do BCE e os contínuos prejuízos do Novo Banco. A Pharol lidera as perdas, registando uma queda de 35%.

Apesar das incertezas quanto ao desenrolar das negociações comerciais, sempre penalizadoras de economias exportadoras como a germânica, o DAX30 de Frankfurt encontra-se muito perto dos máximos históricos. No entanto, é de salientar que a economia alemã escapou por muito pouco de uma recessão, contraindo 0,1% no segundo trimestre e uma expansão ligeira de 0,1% no terceiro trimestre, quando era esperada uma contração de 0,1%. O CAC40 tem um desempenho semelhante ao alemão, muito perto dos máximos de 2007, mas aquém dos valores históricos nos 6944 em setembro do ano 2000.

O DAX30 é um "Total Return", acumulando os ganhos de capital e os dividendos pagos, enquanto que o CAC40 como desconta os dividendos pagos, cota aquém dos máximos. As bolsas americanas espelham o "El Dorado" dos mercados acionistas e continuam a fazer bilionários todos os dias, com os máximos históricos consecutivos e as Ofertas Públicas de Vendas (OPV) a ocorrerem com elevada frequência. As descidas das taxas de juro por parte da Reserva Federal norte-americana e a maior procura dos REPO deram um novo fulgor ás praças do lado de lá do Atlântico, quando já alguns investidores perdiam a esperança no início do ano em reação à enérgica correção do último trimestre de 2018.

A descida das taxas de juro reduz os encargos financeiros de financiamento das empresas cotadas e é determinante na diminuição de alternativas dos tradicionais investimentos em depósitos a prazo. O dinheiro rende cada vez menos no banco, então há que canalizá-lo para os mercados de capitais, nomeadamente o acionista. 
PAULO ROSA

Economista/senior trader do Banco Carregosa 20 de dezembro de 2019









 

Escandinávia em contraciclo monetário

Praças norte-americanas renovam máximos históricos consecutivos.

PAULO ROSA  20 dezembro 2019, Jornal Económico

Economista e sénior trader do Banco Carregosa

As ações dos EUA renovaram máximos históricos, porém durante a semana os ganhos foram modestos, à medida que os investidores digeriam uma quantidade significativa de notícias: desde empresariais, passando pelo "impeachment" e o recuo das preocupações. Os títulos do tesouro caíram e a libra esterlina enfraqueceu, depois dos fortes ganhos após as eleições. As ações tecnológicas continuam a liderar os ganhos dos índices.

O governador da Reserva Federal Lael Brainard alertou sobre os perigos que uma moeda digital, proposta pela gigante Facebook, a "libra", que poderá representar para os consumidores e para a estabilidade financeira, oferecendo uma ferramenta potencialmente valiosa para criminosos.

O banco central da Suécia elevou, ontem, a taxa de juro de referência de -0,25% para 0%, a primeira alta desde dezembro de 2018. A decisão já tinha sido antecipada pelos analistas. De fevereiro de 2016 até ao final de dezembro de 2018, a taxa fixou-se em mínimos históricos nos -0,50%.

O RiksBank é dos primeiros a ter uma política monetária contracionista há mais de um ano, em contraciclo com as principais economias mundiais que estão a acentuar as suas políticas expansionistas, nomeadamente o Banco Central Europeu e a Reserva Federal norte-americana.

O Banco Central da Noruega manteve em mínimos históricos as taxas de juro diretoras nos 0% entre 2016 e 2018, e desde essa data já subiu por quatro vezes a taxa de juro, quedando-se atualmente nos 1,5%. O mercado imobiliário na península escandinava já se ressente da subida das taxas de juro e os preços tem estado em queda.

A confiança empresarial alemã, medida pelo IFO, melhorou em dezembro pelo terceiro mês consecutivo, um sinal de que os fabricantes germânicos estão a começar a ver uma saída para o abrandamento económico, depois de um ano que deixou a maior economia da Europa muito perto da recessão no terceiro trimestre.

As acções alemãs registaram máximos de quase dois anos, muito perto dos valores históricos, no início da semana, mas nas sessões seguintes pautaram-se pela tomada de mais valias, com os fabricantes de automóveis a liderar o declínio do mercado e os investidores a ponderarem sobre a evolução das negociações comerciais entre os EUA e a China e as notícias empresariais.

BOLSA

AÇÕES NACIONAIS

A empresa chinesa China Communications Construction (CCC) estuda a aquisição de 30% do grupo português Mota-Engil. Assina contrato de 220 milhões de euros com a Guiné-Conacri e ganha contratos de 450 milhões nas Honduras, Angola e México. A cadeia de supermercados Biedronka, da Jerónimo Martins, pretende aumentar os salários em 350 zlotys mensais em 2020. Francisco Simão renúncia aos cargos na administração dos CTT. A EDP Renováveis ganha contrato de 33MW em leilão eólico na Grécia.

EMPRESAS

AÇÕES INTERNACIONAIS

A Nordea entrou em acordo com a Societe Generale para adquirir todas as ações da SG Finans, por 575 milhões de dólares, e pretende combinar os negócios com a empresa financeira pan-nórdica da Nordea, Nordea Finance. A empresa química suíça Clariant acordou em vender a unidade de ' negócios Masterbatches à norte-americana dos polímeros PolyOne por 1,56 mil milhões de dólares e irá distribuir mil milhões de euros pelos accionistas, três francos suíços por acção, um "dividend yield" de 14%.

PALÁDIO

Novos máximos históricos para o ' paládio. Esta semana subiu acima dos dois mil dólares/onça pela primeira vez, estendendo o avanço anual alimentado por uma economia global deficitária nesta matéria- -prima e com o sucessivo aumento da procura.

O paládio valoriza cerca de 60% este ano, com os analistas do mercado realçando que será difícil preencher o défice desta matéria-prima.

Nem tudo o que reluz é ouro e o paládio é atualmente também uma reserva de valor. 






sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Um novo QE versão 4.0 nos EUA?

O principal objetivo do mercado monetário é manter a estabilidade dos preços (índice de Preços no Consumidor - IPC), facilitando o acesso a liquidez das instituições financeiras deficitárias em dinheiro, mas com títulos em carteira nomeadamente do tesouro, através de empréstimos providos pelas instituições financeiras com excesso de liquidez, limitando ao máximo o recurso aos Bancos Centrais e a injeção desnecessária de liquidez no mercado, quando o banco ao nosso lado tem esse dinheiro.

O mercado monetário, caracterizado por maturidades inferiores a um ano, tenta corrigir os desequilíbrios entre quem detém liquidez em excesso e quem tem escassez, a uma determinada taxa de juro em torno da taxa de referência do Banco Central, tentando evitar uma indesejada subida da inflação bastante acima dos objetivos das autoridades monetárias, atualmente nos 2%.

Desde o final de 2007, início de 2008, os bancos com excesso de dinheiro, à medida que se agudizavam os receios de uma insolvência, foram paulatinamente reduzindo a cedência de liquidez às instituições que dela precisavam, mesmo apesar de os empréstimos terem como garantia títulos do tesouro americano, culminando na falência do Lehman Brothers a 14 de setembro de 2008.

A partir dessa data, a FED passou a ter um papel ativo no mercado monetário, passando a ceder liquidez sempre que necessário através da recompra de títulos da dívida pública e títulos de hipotecas, dando início ao Quantitative Easing (QE). O objetivo de satisfazer os mercados de dinheiro foi cumprido, aliviando a liquidez dos mercados monetários e reduzindo drasticamente os encargos financeiros de financiamento, das empresas e das famílias, devido à descida da taxa de juro da Reserva Federal norteamericana para perto de 0%. E os mercados acionistas estão com um dos melhores desempenhos de sempre.

O QE1 teve início a 1 janeiro de 2009 e terminou a 31 março de 2010, o QE2 foi de 3 novembro de 2010 a 30 junho de 2011, e o QE3 de 1 de outubro de 2012 a 29 de outubro de 2014. Durante este período o balanço da FED quadruplicou as taxas de juro de referência da FED (Fed Funds Rate) para um nível histórico de 0% a 0,25%.

O grupo dos "big four", acrónimo utilizado para identificar os quatro maiores bancos de cada país, nos EUA detém atualmente mais de metade dos depósitos, e é formado pelo JP Morgan, Bank of America, Wells Fargo e Citigroup. No passado dia de 17 de setembro a taxa de juro no mercado de REPO (acordos de recompra), a "overnight", atingiu os 10%, quando a taxa normal estava em torno dos 2,25%, espelhando uma escassez impressionante de liquidez face à significativa procura pelas empresas para honrar os seus compromissos fiscais de final de trimestre e perante uma significativa emissão do tesouro americano, justificações dadas mais tarde pelo BIS (Bank for International Settlements - Banco internacional de Pagamentos, genérica e informalmente um Banco Central Mundial), forçando a FED a intervir com uma injeção de emergência pela primeira vez desde a crise financeira global, há mais de uma década.

Desde essa altura, há três meses, a FED tem corrigido a falta de liquidez no mercado de Repo's. Apesar dos excelentes números do emprego norteamericano, com a taxa de desemprego nos 3,5%, temos que recuar 50 anos para vermos valores semelhantes, no entanto o sentimento empresarial tem sido mais fraco e abaixo dos 50 pontos, indiciando contração económica.

O mercado monetário, nomeadamente o "overnight", é, "grosso modo", o lubrificante dos mercados financeiros, e a sua escassez fará mossas nas engrenagens de todo o sistema financeiro, que em pouco tempo deixariam de funcionar sem a intervenção das autoridades monetárias. Sempre que seja necessário, a FED irá substituir-se ao mercado, e lubrificar artificialmente os mercados financeiros, através de um novo QE4... implicitamente já existe um Quantitative Easing desde o mês de setembro espelhado no aumento do balanço da FED. Mas poderá o balanço dos bancos centrais aumentar infinitamente? 
Paulo Rosa, Economista/sénior trader do Banco Carregosa, 13 de dezembro 2019





 



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.