O Indicador Macro Composto da União Europeia (CMI), medido pelo Bank of
America, manteve-se pela primeira vez depois de 12 meses a cair. Embora
a tendência do ciclo permaneça descendente, mas muito perto do suporte
dos 20 pontos, prováveis melhorias no próximo mês de abril poderão dar
lugar a uma rotação em termos de risco, que passaria pelo aumento do
apetite pelo risco, nas ações da União Europeia (UE) a partir de maio.
Segundo o CMI, a economia está melhor neste mês de março, provavelmente a
beneficiar das expetativas dos investidores em virtude da atuação e dos
discursos dos bancos centrais mundiais nos últimos tempos, que fizeram
uma pausa na política monetária contracionista. O Banco Central Europeu
(BCE), na passada quinta-feira, dia 7 de março, referiu que irá
regressar às medidas monetárias "não convencionais".
No final
de 2011, o BCE tinha recorrido pela primeira vez a estes instrumentos
com o intuito de solucionar a crise das dívidas soberanas na Zona Euro,
provocada pela crise financeira de 2008, que havia desequilibrado os
"spreads" das taxas de rentabilidades ("yields") das obrigações dos
vários países da Zona Euro, designadamente entre os países setentrionais
que viram as suas taxas de juro de longo prazo descerem e os países
mediterrânicos onde as taxas subiram vertiginosamente, devido aos
elevados défices orçamentais, e que culminaram nos resgates financeiros
de Portugal, Grécia e Irlanda. Até 2008, e desde a criação da moeda
única, o "euro", as "yields" tinham-se mantido relativamente
semelhantes.
O BCE, a partir de setembro, recomeçará com os
"Targeted Long Term Refinancing Operations" (TLTROs), que se constituem
como financiamentos dos bancos através de empréstimos de longo prazo com
o objetivo bem definido de os bancos comerciais (OIM – Outras
Instituições Monetárias, que não o BCE), colocarem dinheiro junto dos
agentes económicos famílias e empresas, sob pena de serem penalizados
(nas taxas, …). Os primeiros LTRO, como não tinham o objetivo bem
definido, na prática foram impulsionadores das cotações dos mercados
acionistas e obrigacionistas, e por isso foram criados mais tarde os
TLTRO, anunciados pela primeira vez a 5 de junho de 2014. O objetivo do
BCE foi sempre bem claro, defender a sobrevivência do euro, cimento
agregador da União Europeia, através do reequilíbrio das taxas de
rentabilidades das obrigações do tesouro dos países da Zona Euro e do
estreitamento dos spreads entre as várias "yields". Hoje, em abono da
verdade, poderemos dizer que Mario Draghi salvou o a moeda única! E o
amanhã? Esperemos que no futuro sejam feitos progressos, quer num
orçamento único quer no reequilíbrio das contas e dívidas públicas, para
consolidar uma Europa próspera, onde a paz possa continuar a perdurar,
como acontece desde a 2ª Grande Guerra.
Porém, estamos a
protelar as reformas e a empurrar os problemas para as gerações futuras –
vejamos elevadas e crescentes dívidas públicas dos países desenvolvidos
e o agudizar do aumento das dívidas privadas, estimuladas pelo crédito
cada vez mais barato. Muito deste novo dinheiro deverá continuar a
incentivar a "bolha" imobiliária, na correspondente redução nos
"spreads" de crédito que poderão quebrar a importante fasquia de 1% e
cair para valores à volta de 0.8%. Também deverão estimular o mercado
acionista e obrigacionista (as cotações das obrigações, para muitos
analistas, encontram-se em valores exageradamente elevados).
Provavelmente, pouco dinheiro chegará à economia real, excetuando a
construção e o imobiliário (o que beneficiaria mais os setores de
"construção & obras públicas" e de "materiais & equipamento"), e
poderá incrementar ainda mais as cotações das ações e obrigações por
via da perceção de maior riqueza, mais rendimento disponível, refúgio.
A "yield" da obrigação do tesouro português a 10 anos está em mínimos
históricos nos 1,25% e a alemã nos 0,1%, perto do mínimo de sempre,
alcançado em 2016, no valor negativo de - 0,19%. É a lógica da economia
Japonesa há mais de 25 anos.
É de salientar o estreitar do
"spread" entre a dívida pública lusa e a germânica, de apenas 1,1%. Está
aqui espelhado o trabalho de Mario Draghi na defesa de euro. Agora os
governos que façam o seu…
Paulo Rosa, Semanário "Vida Económica", 22 março
O índice do "fluxo do smart money", ou índice de "fluxo de
dinheiro inteligente", é um indicador de análise técnica que tem como
objetivo revelar o sentimento dos investidores. O índice foi inventado e
popularizado pelo gestor financeiro Don Hays. Este indicador é construído com
base em padrões de preços que são formados em diferentes momentos do dia.
O índice do "fluxo de smart money" é calculado com base em dois
períodos do índice acionista norteamericano Dow Jones: os primeiros 30 minutos
de negociação e a fase do fecho do mercado.
Este índice está a cair significativamente desde o início do ano e encontra-se
aos níveis mais baixos desde as crises financeiras de 2008 e de 2002, depois do
rebentar da bolha das "dotcoms" em 2000.
A ideia principal é que a maioria dos investidores, emocionais e vulneráveis às
notícias, reagem exageradamente no início da negociação, logo pela manhã, por
causa das notícias, sejam elas boas ou más.
Já os investidores "inteligentes e experientes" começam a negociar
mais perto do final da sessão, tendo a oportunidade de avaliar o desempenho do
mercado. Portanto, a estratégia básica é apostar contra a tendência dos preços
matinais e acompanhar a tendência dos preços no final da sessão. Este tipo de
índice pode ser calculado para qualquer mercado ou índice acionista.
Muito tem sido dito e estudado acerca da forte queda do Índice do "smart
money". No passado, grandes quedas no índice, como a que se observa
atualmente, provaram ser o início de significativas quedas nas cotações das
ações. Muitos investidores e académicos procuram agora explicações sobre a
dinâmica que está por detrás do declínio do índice, que não está a ser
acompanhada pela queda do Dow Jones, que, apesar das fortes descidas de
outubro, se encontra perto dos máximos históricos.
Porém, o índice representa simplesmente a diferença entre os primeiros 30
minutos de negociação e a última hora. A ideia que pode estar aqui subjacente é
a de que os investidores mais novos, que se iniciam nos mercados acionistas,
negoceiam mais nos primeiros 30 minutos e os investidores mais experientes na
fase final do mercado.
A diferença reflete a negociação líquida desses investidores "mais
inteligentes", mais experientes.
Todavia, a verdade é que, com o aumento significativo da popularidade dos ETF,
os mercados mudaram muito na última década. A grande maioria do volume de
negociação não é realizada por investidores individuais, mas por algoritmos.
Além disso, a grande maioria do volume de negócios em bolsa também ocorre
atualmente durante a última meia hora de negociação, já que os "algoritmos
investidores" realizam os seus balanços diários necessários para
corresponder aos seus "benchmark", para seguirem os índices
acionistas de referência.
Ou será que estas explicações não estão certas e o "smart money" está
mesmo a antecipar uma queda duradoura nas bolsas?
PAULO ROSA, Economista/senior trader do Banco
Carregosa, 16 novembro
Na ultima reunião do Banco Central Europeu (BCE), a 13 de dezembro, Mário
Draghi confirmou o fim do programa de compras no final do ano, apesar de ter
baixado as previsões para a taxa de inflação do próximo ano, em mais de um
ponto percentual, de 1,7% para 1,6%. A estabilidade de preços - ou seja, uma
inflação em torno dos 2% - é o objetivo primordial do BCE.
Aparentemente, esta revisão em baixa da inflação, que tem sido penalizada pela
baixa do preço do petróleo, não veio alterar os planos. Aliás, mesmo que em
2019 se confirme um abrandamento económico na Europa, o BCE parece estar firme
na intenção de inverter a política monetária expansionista para contracionista,
já a partir do final do próximo verão, com uma subida de taxas de juro.
Mas Draghi deixa uma porta entreaberta: a subida de taxas e regularização do
balanço do BCE podem ficar para mais tarde se as bolsas norte-americanas e, por
arrasto, as bolsas mundiais continuarem a perder terreno, culminando numa
estagnação da economia dos EUA.
O mandato do BCE tem um objetivo primordial: a estabilidade de preços. E o
crescimento económico e o emprego? Na Europa, subentende-se que esses são
assegurados pelo Estado social. Nos EUA, um país que não é conhecido por ser um
Estado social, a Reserva Federal tem como principais objetivos também o emprego
e o crescimento.
As políticas monetárias têm mais sucesso nos EUA devido à flexibilidade do
mercado labora, e ao crescimento e rejuvenescimento populacional. O cenário na
Europa é precisamente o oposto. A população está envelhecida, além de existir
resistência à entrada no mercado de trabalho devido à rigidez do mercado. Há
décadas que a taxa de desemprego é significativamente mais elevada na Europa
que nos EUA.
O dinheiro não cria riqueza, apenas o trabalho é produtivo. O dinheiro poderá
estimular o trabalho, mas se existe uma pirâmide demográfica invertida, o
dinheiro de nada vai adiantar sem uma política de natalidade ou de imigração.
Um sinal muito importante para avalizarmos o comportamento futuro de uma
economia é o declive da curva de rendimentos. A "Yield Curve"
norte-americana tem diminuído nos últimos tempos e está quase horizontal,
continuando o movimento de alisamento. A rentabilidade da obrigação do tesouro
dos EUA a 2 anos é já superior à rentabilidade da obrigação do tesouro a 5
anos. Este facto é um indício de abrandamento ou mesmo estagnação ou contração
económica. Temos taxas de juro de curto prazo altas que pressionam o crédito
concedido e o honrar dos compromissos e observamos taxas de juro de longo prazo
aos mesmos níveis, relativamente baixas, que indiciam baixa inflação no futuro,
o que é um sinal de abrandamento económico, porque, como o rendimento
disponível será menor, os agentes económicos irão comprar menos, não havendo pressão
sobre os preços.
As bolsas têm mostrado algum nervosismo e muita volatilidade. Existe uma grande
incerteza sobre uma correção nos mercados. Desde o início de 2018 que a Reserva
Federal norte-americana começou a reduzir e estabilizai' o seu balanço, e o
efeito na queda das bolsas e na diminuição da liquidez foi imediato,
nomeadamente nos mercados emergentes. No último trimestre de 2018, as quedas
chegaram às bolsas ocidentais e às praças norteamericanas. Por isso, muitos
analistas adiantam que a Reserva Federal em 2019 deverá ser mais contida na
subida de taxas de juro.
O abrandamento económico na Europa não dá tréguas. O setor automóvel na Europa,
que, tal como o do imobiliário, é usado para aferir o crescimento económico,
cai pelo terceiro mês consecutivo, penalizando as grandes construtoras
francesas, alemãs e a italiana Fiat. O setor automóvel do índice Stoxx 600
perde cerca de 25% desde o início do ano.
Paulo Rosa, Vida Económica, 21 dezembro 2018
O Banco Central da China anunciou, no final da semana passada, que irá diminuir
as suas taxas mínimas de reserva legal em 100 pontos base. As autoridades
monetárias chinesas procuram com esta medida diminuir o risco de uma
desaceleração mais acentuada da segunda maior economia do mundo. O Banco
Popular da China utiliza com frequência este instrumento monetário, a par das
mexidas na sua taxa de juro diretora, porque tem margem para isso, com taxas
acima dos 10%, algo que não acontece nos EUA ou na Zona Euro. Esta é uma medida
monetária expansionista, e surge em sentido contrário das medidas monetárias
contradonistas da Reserva Federal norteamericana e do final do
"quantitative easing" do Banco Central Europeu, que se prepara para
subir taxas depois do verão deste ano, mas só saberemos se iiá realmente
acontecer essa subida em função da evolução da economia e das bolsas nos
próximos tempos.
Esta medida de diminuição da reserva mínima legal irá fornecer ao mercado mais
1,5 triliões de yuan. Se por cada depósito à ordem que recebam os bancos são
obrigados a depositar junto do Banco Popular da China menos dinheiro, neste
caso menos um ponto percentual do que anteriormente, então vão ficar com mais
capital para emprestai" e ceder ao mercado. Alimenta os mercados
financeiros...
O corte nos coeficientes de reservas compulsórias é o primeiro em 2019 e o
quinto em um ano pelo Banco Central chinês, já que a economia enfrenta o seu
crescimento mais fraco desde a crise financeira de 2008 e a crescente pressão
das tarifas norte-americanas, fruto da guerra comercial entre os EUA e a China,
que tem penalizado a sua economia. Mas este país asiático tem as suas armas e
ainda na semana passada a gigante tecnológica dos "smartphones", a
Apple, emitiu um "profit warning" onde reviu em baixa as suas
estimativas para as vendas, nomeadamente no mercado chinês. A
"BigTech" norte-americana, uma das empresas pertencentes às FAANG,
perdeu 10% em apenas uma sessão depois de emitir este aviso de redução das
vendas...
A redução da reserva mínima legal será realizada em duas fases, até 15 de
janeiro e 25 de janeiro, com montantes iguais em cada etapa de 0.50% cada. Os
rácios de exigência de reservas são atualmente de 14,5% para os grandes bancos,
que passarão para 13-5% até 25 de janeiro, e 12,5% para os bancos de menores
dimensões, que verão a taxa ser 11,5% daqui a algumas semanas.
Os cortes da reserva mínima legal foram amplamente esperados, o ano passado,
especialmente após uma série de dados fracos nos últimos meses que mostraram
que a economia chinesa continuava a perder força. A dimensão deste movimento
ficou no limite superior das expectativas do mercado, o que mostra que a medida
das autoridades monetárias chinesas foi bastante arrojada. Caso a economia
continue a deteriorar-se nos próximos tempos, é de esperar novos cortes desta
taxa, com o intuito de fornecer mais liquidez ao mercado e continuar com a
política monetária expansionista...
Segundo o atual sistema monetário baseado em reservas fracionárias, grosso
modo, podemos falar na existência de dois tipos de moeda: a crédito e a
central. Quando os bancos centrais produzem notas e moedas e as colocam junto
dos bancos comerciais e recebem em troca títulos de dívida, nomeadamente do
tesouro, estão a criar moeda central. Os bancos centrais não podem colocar
dinheiro diretamente junto do público e utilizam os bancos comerciais para essa
função, pois só estes podem ceder dinheiro ao público por uma questão de
independência dos Estados, para não se criar moeda em excesso para financiar
projetos do Estado menos rentáveis, gerando inflação e desvalorização da sua
moeda.
Na Zona Euro existe cerca de 1 trilião de euros em notas e moedas.
A moeda crédito surge quando um depósito à ordem é emprestado. Na Zona Euro os
depósitos à ordem andam à volta dos 4 triliões de euros, quatro vezes mais que
as notas e moedas.
Em teoria a moeda tem o seu valor assegurado pelo Estado. Mas, em boa verdade,
o seu valor é assegurado pela fidúcia na sua aceitação. Mas a "moeda
crédito" põe em causa este débil equilíbrio, e por isso existem "bank
runs" e garantias de depósitos de 100.000 euros, porque, quando se
empresta dinheiro que está à ordem, quebra-se a principal regra de ouro da
banca, que deve ser uma certa paridade entre os prazos e os montantes dos
créditos e débitos de um banco.
PAULO ROSA
Economista/sénior do Banco
Carregosa, 11 de janeiro de 2019
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