Portugal foi aos mercados, na
passada quarta-feira, financiar-se em mil milhões de euros às taxas mais baixas
de sempre, nas maturidades de dez anos e 15 anos, respetivamente 0,264% de
yield e 0,676%. A procura foi significativa, a superar a oferta em mais de duas
vezes. Relativamente ao último leilão comparável nestas maturidades as taxas de
rentabilidades anteriores tinham sido de 0,51% (dez anos) e 1,052% (15 anos).
Em meados de agosto, no mercado secundário, a rentabilidade das obrigações do tesouro a dez anos chegou a negociar muito perto do zero, nos 0,08%, quando por toda a Zona Euro as yields da dívida pública atingiam mínimos históricos e valores perto dos valores negativos de -1% no cado da dívida soberana alemã a dez anos.
A economia germânica contraiu no segundo trimestre, mas para entrar em recessão técnica terão de existir dois trimestres seguidos de contração, e os dados macroeconómicos na Zona Euro continuam a enfraquecer. Na quartafeira, e no que concerne à economia portuguesa, foram conhecidos os números da inflação relativamente ao mês de agosto, e o índice de Preços no Consumidor (IPC) caiu 0,1% relativamente ao mês anterior.
Não existe pressão inflacionista em Portugal, nem na Zona Euro, o que potência a existência de uma política monetária mais facilitadora por parte do Banco Central Europeu (BCE).
A política monetária expansionista, quer por parte do BCE, quer pela Reserva Federal têm contribuído para a escalada dos mercados obrigacionistas, apesar do início de setembro ter sido de correção. Os mercados acionistas, nomeadamente nos EUA, continuam junto aos máximos históricos e o mercado imobiliário nos países desenvolvidos permanece com valorizações significativas, junto a máximos históricos.
Mas conseguirá o retomar dos TLTRO (Target Long Term Refinancing Operations - Financiamentos de longo prazo por parte do BCE com um objetivo definido, o de crescimento económico) colocar a economia da Zona Euro a crescer novamente? A "japonização" da economia europeia é uma realidade, o declínio demográfico, as baixas taxas de inflação, as taxas de juro negativas, que tudo parece indicar que se poderão manter durante vários anos.
Os TLTRO poderão colocar pressão sobre o aforro dos agentes económicos e sobre a banca. Os fundos de pensões têm bastante dificuldade para conseguirem taxas de rentabilidade atrativas, sem terem que entrar em ativos financeiros mais arriscados.
O mercado imobiliário continua a concentrar parte da atenção do crescimento económico, com rentabilidade ainda elevadas quando olhamos para o rácio "renda do imóvel'' ''preço do imóvel". As rendas em Portugal não têm parado de subir, em parte devido à dinâmica do turismo não só em Lisboa e Porto, mas também um pouco por todo o país, e pelas taxas de juro cada vez mais baixas. Os "spreads" do crédito à habitação voltam a estar competitivos entre os bancos que operam em Portugal e começam a quebrar a barreira psicológica dos 1%. Ainda esta semana houve mais instituições financeiras a descerem a sua principal taxa de spread do crédito à habitação.
Mas os bancos, com estas taxas tão baixas, e mesmo negativas, têm dificuldade em termos de margem financeira, que se vai estreitando e pondo em causa os resultados do setor bancário.
Todos desconhecem o futuro das políticas monetárias e do sistema financeiro nos próximos tempos. As incógnitas são muitas, e as autoridades monetárias, segundo o BCE, estão preparadas para utilizar todo o tipo de instrumentos financeiros, mais exóticos, mais excêntricos e "não convencionais", que estiverem ao seu alcance. O mercado e os agentes económicos terão ou não capacidade para absorver este maravilhoso novo mundo que se vai entreabrindo a cada instante que passa nos mercados financeiros.
Em suma, os aforradores, aqueles que adiam o consumo, terão cada vez menos alternativas com taxas atrativas e baixo risco, tendo que optar por maior risco caso queiram rentabilidades mais apetecíveis. Os que antecipam o consumo, aqueles que tomam dinheiro emprestado, terão que pagar cada vez menos pela utilização do crédito.
Paulo Rosa, In Vida Económica, 13/9/2019
Em meados de agosto, no mercado secundário, a rentabilidade das obrigações do tesouro a dez anos chegou a negociar muito perto do zero, nos 0,08%, quando por toda a Zona Euro as yields da dívida pública atingiam mínimos históricos e valores perto dos valores negativos de -1% no cado da dívida soberana alemã a dez anos.
A economia germânica contraiu no segundo trimestre, mas para entrar em recessão técnica terão de existir dois trimestres seguidos de contração, e os dados macroeconómicos na Zona Euro continuam a enfraquecer. Na quartafeira, e no que concerne à economia portuguesa, foram conhecidos os números da inflação relativamente ao mês de agosto, e o índice de Preços no Consumidor (IPC) caiu 0,1% relativamente ao mês anterior.
Não existe pressão inflacionista em Portugal, nem na Zona Euro, o que potência a existência de uma política monetária mais facilitadora por parte do Banco Central Europeu (BCE).
A política monetária expansionista, quer por parte do BCE, quer pela Reserva Federal têm contribuído para a escalada dos mercados obrigacionistas, apesar do início de setembro ter sido de correção. Os mercados acionistas, nomeadamente nos EUA, continuam junto aos máximos históricos e o mercado imobiliário nos países desenvolvidos permanece com valorizações significativas, junto a máximos históricos.
Mas conseguirá o retomar dos TLTRO (Target Long Term Refinancing Operations - Financiamentos de longo prazo por parte do BCE com um objetivo definido, o de crescimento económico) colocar a economia da Zona Euro a crescer novamente? A "japonização" da economia europeia é uma realidade, o declínio demográfico, as baixas taxas de inflação, as taxas de juro negativas, que tudo parece indicar que se poderão manter durante vários anos.
Os TLTRO poderão colocar pressão sobre o aforro dos agentes económicos e sobre a banca. Os fundos de pensões têm bastante dificuldade para conseguirem taxas de rentabilidade atrativas, sem terem que entrar em ativos financeiros mais arriscados.
O mercado imobiliário continua a concentrar parte da atenção do crescimento económico, com rentabilidade ainda elevadas quando olhamos para o rácio "renda do imóvel'' ''preço do imóvel". As rendas em Portugal não têm parado de subir, em parte devido à dinâmica do turismo não só em Lisboa e Porto, mas também um pouco por todo o país, e pelas taxas de juro cada vez mais baixas. Os "spreads" do crédito à habitação voltam a estar competitivos entre os bancos que operam em Portugal e começam a quebrar a barreira psicológica dos 1%. Ainda esta semana houve mais instituições financeiras a descerem a sua principal taxa de spread do crédito à habitação.
Mas os bancos, com estas taxas tão baixas, e mesmo negativas, têm dificuldade em termos de margem financeira, que se vai estreitando e pondo em causa os resultados do setor bancário.
Todos desconhecem o futuro das políticas monetárias e do sistema financeiro nos próximos tempos. As incógnitas são muitas, e as autoridades monetárias, segundo o BCE, estão preparadas para utilizar todo o tipo de instrumentos financeiros, mais exóticos, mais excêntricos e "não convencionais", que estiverem ao seu alcance. O mercado e os agentes económicos terão ou não capacidade para absorver este maravilhoso novo mundo que se vai entreabrindo a cada instante que passa nos mercados financeiros.
Em suma, os aforradores, aqueles que adiam o consumo, terão cada vez menos alternativas com taxas atrativas e baixo risco, tendo que optar por maior risco caso queiram rentabilidades mais apetecíveis. Os que antecipam o consumo, aqueles que tomam dinheiro emprestado, terão que pagar cada vez menos pela utilização do crédito.
Paulo Rosa, In Vida Económica, 13/9/2019
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