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sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Mercados continuam resilientes


O ataque à maior produtora de petróleo do mundo, a Saudi Aramco, é mais um problema a adicionar à panóplia de variáveis que assombra a estabilidade dos mercados financeiros: o Brexit, as tensões comerciais, o abrandamento económico, a inversão da curva de rendimentos no que concerne à evolução das taxas de juro.

No passado domingo, um ataque com drones destruiu parte das instalações da maior companhia petrolífera estatal da Arábia Saudita e a maior companhia do ramo do mundo em termos de reservas de "crude" e de produção. O valor da Saudi Aramco foi estimado em cerca de 2 biliões de dólares pelo Financial Times, mais do dobro do valor da Google ou da Amazon, as maiores capitalizações bolsistas do mundo. E quase nove vezes a riqueza produzida anualmente em Portugal (PIB português).

Depois do atentado, a Oferta Pública de Venda (OPV) da Saudi Aramco, há algum tempo a ser preparada pelo Reino Saudita, poderá ser cancelada.

A Saudi Aramco é responsável pela produção de quase 10 milhões de barris de petróleo diários, 12% da produção mundial, e os danos causados pelo ataque tiraram do mercado 5,7 milhões de barris, mais de metade da produção da empresa de petróleos da Arábia Saudita.

Porém, os preços do petróleo, que haviam subido mais de 10% na abertura dos mercados na segundafeira, começaram a aliviar depois de a Saudi Aramco ter anunciado que a produção voltará ao normal num espaço de duas a três semanas.

Este atentado, independentemente da sua origem ter sido no Iémen, no Iraque, no Irão..., coloca em causa a já difícil estabilidade geopolítica do Médio Oriente, e é mais um problema, a adicionar a muitos mais, para o crescimento económico mundial.

No entanto, os mercados, quer acionistas quer obrigacionistas, mantiveram-se bastante calmos e tranquilos, com perdas pouco significativas, o que mostra a força e resiliência que continuam a caracterizar este mercado de alta, nomeadamente das praças norteameri canas.

Se fosse noutra altura, de maior fragilidade do sentimento das bolsas, estas teriam perdido bastante mais, não sendo de admirar quedas de 4% ou 5%.

A probabilidade de mais descidas nas taxas de juro de referência da Reserva Federal norte-americana tem esmorecido, nomeadamente depois da forte subida dos preços do petróleo. Com preços de energia mais elevados, temos mais inflação e, por conseguinte, os bancos centrais tendem a ter uma política monetária menos expansionista, tendo que subir taxas de juro, se necessário, para refrear a subida da inflação.

Uma cotação do petróleo muito "cara" redundará numa estagflação, tal como a verificada em 1970 e de que muitas pessoas já não se lembram. Com preços a subir de forma generalizada, a par de uma atividade económica estagnada, uma política monetária mais contracionista, com subidas de taxas de juro para controlar os preços, terá um impacto negativo no crescimento económico.

Apesar de os mercados financeiros não terem reagido tão negativamente, como seria de esperar, face à forte subida do preço do petróleo, isso não belisca minimamente a importância que o petróleo continua a ter como principal motor energético da economia mundial.

Em suma, poderemos concluir, em virtude das quedas residuais das bolsas aquando da forte subida do petróleo, que os mercados acionistas continuam resilientes às quedas... e anestesiados pela excessiva liquidez decorrente da enorme oferta de moeda e de crédito. 

Paulo Rosa, 20 de setembro 2019, Vida Económica




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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.