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sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Pagar para emprestar!


A Europa e a Ásia estão inundadas em cerca de 17 biliões de dólares de títulos soberanos (emitidos pelos Estados) e corporativos (emitidos por empresas) com rendimento negativo, mais de quatro vezes a riqueza produzida anualmente pela Alemanha e à volta de 90% do PIB norte-americano. Alan Greenspan, presidente da Reserva Federal dos EUA de 1987 a 2006, prevê que as taxas de juros negativas em breve chegarão também aos EUA. Donald Trump, apesar de continuar a corroborar a robustez da economia americana, a par do atual presidente da FED, Jerome Powell, revindica há meses taxas de juro baixas, mesmo de zero. A FED está dividida quanto à descida de taxas, bem espelhada na sua última reunião de 18 de setembro, em que 3 membros votaram contra a descida de taxas. No entanto, Trump gostaria de ver naquela Instituição pessoas como Judy Shelton, apologista do regresso ao padrão ouro, mas defensora de taxas de juro de 0% num espaço de um ou dois anos caso assumisse o cargo de responsável máximo.


As taxas de juros negativas são apenas a frente mais recente na era pós-2008 da política monetária "Não convencional" em que vivemos e nunca observada. Os bancos centrais tentam estimular mais empréstimos e mais dívidas, embora exista globalmente muito mais dívida do que em 2007. O estímulo da economia pelo lado da procura é a ideia de que uma economia prospera através do consumo e empréstimos, esquecendo o lado da oferta, a produção e a poupança.


As taxas de juros negativas subvertem o racional da economia, e só existem devido à atuação dos bancos centrais, ou seja, surge como uma distorção ou enviesamento ao que é o normal decorrer da atividade económica. Na Alemanha todas as taxas de juro são negativas, de curto e longo prazo, até maturidades a 30 anos.  

Os agentes económicos não emprestam dinheiro para perderem capital. À priori [eles] têm perceções nominais sobre a economia. Mesmo em períodos deflacionistas dos preços dos bens e serviços, a situação de juros reais positivos com taxas de juros nominais negativas é pontual. E a deflação muitas vezes tem na sua génese a inflação proveniente das nefastas bolhas financeiras e imobiliárias que nascem frequentemente devido às políticas monetárias expansionistas dos bancos centrais. Emprestar 50.000 euros durante 10 anos ao Estado alemão e reembolsar 49.750 euros não é racional. Não deveria existir racional de "mercado" para taxas negativas.


O futuro é incerto e sempre há risco da contraparte a quem se empresta dinheiro de não honrar os seus compromissos. O devedor pode fugir, morrer ou declarar falência. As condições do mercado podem mudar durante a vida do empréstimo. A inflação pode subir mais rapidamente do que a taxa de juro nominal acordada. As taxas de juros positivas compensam os credores por todo esse risco e incerteza. O juro, tal como toda a economia, é explicado pela natureza e ação humanas.


Os juros representam uma compensação para quem adia o consumo, não uma penalização. Ninguém “vende” o seu dinheiro e ainda fica obrigado a pagar juros ao “comprador”. Simplesmente guardariam o dinheiro e evitariam o risco de emprestar.


As taxas de juro que mais fidedignamente representam a vontade de toda a população, num mercado livre e normal, definem-se de acordo com as preferências temporais das pessoas. Confrontando a disposição do credor, aquele que poupa, de renunciar ao consumo atual e a vontade de um investidor ou consumidor de pagar um prémio pelo consumo atual. As taxas de juros negativas não podem explicar como ou porque alguém adiaria o consumo sem um pagamento, e muito mais inexplicável é com taxas de juro negativas, ou seja, adiar o consumo e ainda pagar por isso!


Paulo Monteiro Rosa,



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.