O alastrar da epidemia coronavírus, nomeadamente a Itália, anulou os ganhos do
ano dos mercados acionistas, corrigindo quase 10%, com a volatilidade a
aumentar significativamente. O VIX e o VDAX, que cotavam à volta dos 15 pontos,
estão agora nos 26 pontos.
As obrigações têm servido de refúgio, principalmente a Bund alemã, cuja
rentabilidade caiu para os -0,53%, indiciando que o mercado não inverteu
tendência, apenas existe uma correção espelhada no "flight to
quality".
Agudiza-se o diferencial negativo, já observado desde o dia 20 de fevereiro,
das rentabilidades da dívida soberana norte-americana a dez anos, cuja yield é
de 1,34%, e da yield da T-Bill a 3 meses, que cota nos 1,48%, antecipando
recessão económica, um indicador bastante utilizado pela FED para aferir a
saúde da economia. Medidas pelos futuros negociados na Bolsa de Chicago, as
probabilidades de descida de taxa de juro aumentaram. Para a próxima reunião da
FED é agora de 32% a descida e manutenção é de 68%, mas para a seguinte FOMC, dia
29 de abril, a probabilidade de descida é de 64%, contra 36% de manter. O ouro
está em máximos desde janeiro de 2013 e o petróleo em mínimos de há um ano.
Porém, uma aldeia povoada por irredutíveis investidores da Tesla ainda resiste
ao invasor coronavírus. A Tesla perdeu apenas 35% dos ganhos acumulados desde o
início do ano, e valoriza ainda cerca de 85%.
A Tesla superou a Volkswagen em capitalização bolsista e é já a segunda
fabricante automóvel mais valiosa, atrás da Toyota, e, mais que uma fabricante
tradicional de automóveis, é uma empresa tecnológica. A capitalização bolsista
não é suportada pelos seus fundamentais convencionais, mas pelo que o futuro
lhe possa reservar. O carro tornar-se-á o "dispositivo móvel" mais
importante no futuro, a par do smartphone, com incremento do número dos carros
elétricos devido às preocupações com as alterações climáticas.
Uma empregadora de topo, a Tesla é uma empresa ideal para os funcionários
devido à sua diversidade e cultura de incentivo à inovação. Ê a empresa
automóvel líder no seu segmento em 2019. A Tesla é percebida como tendo os
melhores carros elétricos por gama/classe e deixou para trás todas as outras
marcas na corrida dos melhores carros elétricos, e a autonomia provou ser
superior para cobrir grandes distâncias. A Tesla domina as vendas de veículos
elétricos dos EUA e o modelo 3 é o mais vendido em 2019, quase 190 mil
unidades. O cross-selling compreende parcerias com seguros como a Liberty, e
diversificação das ofertas. Mas o sistema de fabrico bastante complexo é um
ponto negativo. Quanto maior o padrão de inovação, maiores serão também as
complexidades mecânicas, e quando assim é, há um crescente risco na produção. A
Tesla é incapaz de satisfazer todas as encomendas e esse ponto pode afetar o
valor da marca. A empresa está subdimensionada para o aumento exponencial das
encomendas (também poderá ser visto com um ponto positivo, em caso de crise
económica, não ter uma capacidade instalada sobredimensionada).
É pioneira em carros de economia de energia, mas não o consegue fazer com
linhas de produção massificadas. Há escassez de baterias, e os caprichos de
Elon Musk podem ser prejudiciais.
Curioso é comparar o desempenho muito idêntico da Tesla e da Virgin Galactic,
dois títulos muito procurados pelas "mães e pais" norte-americanos,
ambas com estelares valorizações numa reduzida janela de tempo. Mas terão já
testado a resiliência dos seus modelos de negócio a cenários extremos de
incerteza como quebra das cadeias de logística e a redução do apetite pelo
risco?
Paulo Rosa, In Vida Económica, 28 de fevereiro 2020
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
Since December 25th, 2010
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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020
Coronavírus propaga-se, impactos económicos agudizam-se e 'profit warnings' multiplicam-se
O impacto do coronavírus no crescimento económico é agora uma realidade, devido
às restrições na circulação de pessoas.
Menor consumo e redução da produção. A medida que o coronavírus se alastra, propagam-se as revisões em baixa das perspectivas das empresas e a consequente penalização dos mercados acionistas. A FDA norte-americana referiu que o mundo está "à beira" de uma pandemia e uma vacina pode levar tempo a chegar.
Donald Trump colocou Mike Pence no comando dos esforços dos EUA para combater o vírus e garantiu aos americanos que o governo está preparado. Algumas das maiores empresas de petróleo do mundo cancelaram os seus eventos no encontro anual da indústria de petróleo em Londres, devido a preocupações com a disseminação do coronavírus, mas a conferência de três dias e o jantar formal do Instituto de Energia tiveram lugar.
O elo mais fraco da zona euro ficou ainda mais fragilizado. A disseminação do coronavírus pode levar o fraco crescimento da Itália a uma estagnação este ano e mesmo penalizar a economia transalpina com uma recessão técnica. A onda de casos confirmados do vírus em Itália criou um dilema clássico para a União Europeia: como proteger a sua unidade perante as diversidades culturais e fronteiras abertas.
A semana começou com o pior dia para as ações europeias desde o referendo do Brexit, a 23 de junho de 2016. As quedas da semana anularam os ganhos do ano dos mercados acionistas, corrigindo quase 10%, com a volatilidade a aumentar significativamente.
As ações dos EUA caíram para níveis de novembro e as yields desceram com a crescente preocupação de que o coronavírus altere as cadeias de fornecimentos globais. O VIX e o VDAX que cotavam à volta dos 15 pontos, estão agora nos 31 pontos.
As obrigações têm servido de refúgio, principalmente a Bund alemã cuja rentabilidade caiu para -0.54%, num puro movimento de correção acionista e "flight to quality". Agrava-se o diferencial negativo, já observado desde o dia 20 de fevereiro, das rentabilidades da yield a 10 anos do tesouro dos EUA, nos 1.27%, e da rentabilidade da T-Bill a 3 meses nos 1.40%, indiciando recessão económica, um indicador bastante monitorizado pela Reserva Federal para aferir a saúde da economia e decidir sobre a sua política monetária.
Atualmente, e de acordo com os futuros negociados na Bolsa de Chicago sobre as probabilidades de alterações de taxas de juro o mercado estima que a Reserva Federal proceda a três cortes de juros de 25 pontos base em 2020. Um pode mesmo acontecer já na FOMC de 18 de março, com uma probabilidade de 72%, um segundo corte na reunião de 29 de abril, e probabilidade de 56%, e um terceiro corte lá mais para o final do ano. Seria uma descida dos atuais 1.75% para 1%.
Mas qualquer evolução da epidemia coronavírus poderá alterar significativamente a política monetária da Fed. Caso seja apenas um choque do lado da oferta, este não se resolve com estímulos monetários, e podem redundar apenas em inflação acrescida...
O ouro está em máximos desde janeiro de 2013, a servir de activo de refúgio, e o petróleo em mínimos de há um ano perante as perspectivas de abrandamento devido à propagação do coronavírus e consequente redução de circulação de pessoas.
Paulo Monteiro Rosa, Jornal Económico, 28 de fevereiro 2020
Menor consumo e redução da produção. A medida que o coronavírus se alastra, propagam-se as revisões em baixa das perspectivas das empresas e a consequente penalização dos mercados acionistas. A FDA norte-americana referiu que o mundo está "à beira" de uma pandemia e uma vacina pode levar tempo a chegar.
Donald Trump colocou Mike Pence no comando dos esforços dos EUA para combater o vírus e garantiu aos americanos que o governo está preparado. Algumas das maiores empresas de petróleo do mundo cancelaram os seus eventos no encontro anual da indústria de petróleo em Londres, devido a preocupações com a disseminação do coronavírus, mas a conferência de três dias e o jantar formal do Instituto de Energia tiveram lugar.
O elo mais fraco da zona euro ficou ainda mais fragilizado. A disseminação do coronavírus pode levar o fraco crescimento da Itália a uma estagnação este ano e mesmo penalizar a economia transalpina com uma recessão técnica. A onda de casos confirmados do vírus em Itália criou um dilema clássico para a União Europeia: como proteger a sua unidade perante as diversidades culturais e fronteiras abertas.
A semana começou com o pior dia para as ações europeias desde o referendo do Brexit, a 23 de junho de 2016. As quedas da semana anularam os ganhos do ano dos mercados acionistas, corrigindo quase 10%, com a volatilidade a aumentar significativamente.
As ações dos EUA caíram para níveis de novembro e as yields desceram com a crescente preocupação de que o coronavírus altere as cadeias de fornecimentos globais. O VIX e o VDAX que cotavam à volta dos 15 pontos, estão agora nos 31 pontos.
As obrigações têm servido de refúgio, principalmente a Bund alemã cuja rentabilidade caiu para -0.54%, num puro movimento de correção acionista e "flight to quality". Agrava-se o diferencial negativo, já observado desde o dia 20 de fevereiro, das rentabilidades da yield a 10 anos do tesouro dos EUA, nos 1.27%, e da rentabilidade da T-Bill a 3 meses nos 1.40%, indiciando recessão económica, um indicador bastante monitorizado pela Reserva Federal para aferir a saúde da economia e decidir sobre a sua política monetária.
Atualmente, e de acordo com os futuros negociados na Bolsa de Chicago sobre as probabilidades de alterações de taxas de juro o mercado estima que a Reserva Federal proceda a três cortes de juros de 25 pontos base em 2020. Um pode mesmo acontecer já na FOMC de 18 de março, com uma probabilidade de 72%, um segundo corte na reunião de 29 de abril, e probabilidade de 56%, e um terceiro corte lá mais para o final do ano. Seria uma descida dos atuais 1.75% para 1%.
Mas qualquer evolução da epidemia coronavírus poderá alterar significativamente a política monetária da Fed. Caso seja apenas um choque do lado da oferta, este não se resolve com estímulos monetários, e podem redundar apenas em inflação acrescida...
O ouro está em máximos desde janeiro de 2013, a servir de activo de refúgio, e o petróleo em mínimos de há um ano perante as perspectivas de abrandamento devido à propagação do coronavírus e consequente redução de circulação de pessoas.
Paulo Monteiro Rosa, Jornal Económico, 28 de fevereiro 2020
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020
APPLE, VÍTIMA DO CORONAVÍRUS, SOBREVIVERÁ!
A Apple, em apenas 19 dias, desde a apresentação de resultados no
passado dia 28 de janeiro, cortou as suas previsões de lucro para o 1º
trimestre, devido ao efeito do coronavírus. Este é um dos primeiros
alertas de que a epidemia está a impactar as empresas a nível global.
Já no ano passado, a Apple tinha ajustado em baixa os seus resultados, devido à redução da procura do iPhone na China, em parte uma consequência da guerra comercial entre os EUA e a China. A Apple reviu em baixa as suas perspetivas de vendas na China, o país que tem sido um dos principais motores do crescimento e do sucesso da empresa. Uma guerra comercial com os EUA e agora o surto do coronavírus coloca em causa o papel da China como parceiro confiável do mercado e da cadeia de produção e de fornecimentos para um dos maiores fabricantes de smartphones do mundo.
Surgem os primeiros impactos do coronavírus na economia. A Apple prevê repercussões ao nível da oferta e da procura. A gigante tecnológica referiu que as fábricas estão a retomar o trabalho mais lentamente do que seria esperado. A maioria das suas 42 lojas na China estão praticamente paradas, refletindo o relevante impacto do coronavírus na economia. É provável que a queda das vendas na China seja mais pronunciada no presente trimestre, enquanto que as interrupções na produção podem penalizar a receita global do iPhone, atualmente o produto com mais expressão na sua estratégia de vendas, nos meses seguintes.
Tim Cook, ao ingressar na empresa no final dos anos 90, transformou a cadeia de oferta da Apple num eficiente “buldózer” que tem sido, há muito tempo, a inveja da indústria de smartphones, “tablets” e computadores portáteis. Parte destes produtos são fabricados na China com mão-de-obra barata, mas qualificada e que já resolveu desafios de engenharia colocados pelos colegas dos EUA, e expedida para todo o mundo numa questão de dias. Contando com a Foxconn Technology de Taiwan para executar operações no terreno e o significativo investimento da China em transporte para garantir a logística, a Apple tornou-se numa empresa que vale mais de um trilião de dólares em bolsa. Responsável por milhões de empregos no país, obteve boa vontade do governo chinês para ter acesso ao seu mercado.
As gigantes de tecnologia norte-americanas, nomeadamente o Facebook e a Google, têm bastante dificuldade em entrar no hermético mercado chinês, em parte justificado por modelos de negócios diferentes, enquanto que a Apple consegue vender uma grande parte dos seus produtos no mercado chinês, e arrecada uma receita anual à volta dos 40 mil milhões de dólares por ano na China, 15% do total de vendas da empresa, só ultrapassado pelos EUA e pela Europa. Todavia, essa força é atualmente também uma fonte de vulnerabilidade para a Apple. Ainda existe stock suficiente de iPhone’s nas empresas de retalho, mas à medida que a produção vai diminuindo, seguir-se-á uma escassez em todo o mundo.
Porém, as pessoas que não comprarem agora, devido às restrições na circulação de pessoas na China, que impactam negativamente a procura e a oferta, no 2º semestre irão efetuar as suas aquisições.
Também se pressupõe que não haja um recrudescimento do surto do coronavírus, e, por isso, as previsões da Apple foram revistas em alta para a segunda metade do ano. A Apple, muito provavelmente, fará parte dos recuperados “infetados” pelo coronavírus…
Pelo caminho, prepara-se para lançar um novo iPhone de baixo custo em março, e, ainda no 1º semestre de 2020, modelos atualizados do iPad Pro, com um novo sistema de câmaras. Porém, o coronavírus ainda pode impor atrasos ou restrições nesses planos…
Paulo Rosa, In Vida Económica, 21 de fevereiro
Já no ano passado, a Apple tinha ajustado em baixa os seus resultados, devido à redução da procura do iPhone na China, em parte uma consequência da guerra comercial entre os EUA e a China. A Apple reviu em baixa as suas perspetivas de vendas na China, o país que tem sido um dos principais motores do crescimento e do sucesso da empresa. Uma guerra comercial com os EUA e agora o surto do coronavírus coloca em causa o papel da China como parceiro confiável do mercado e da cadeia de produção e de fornecimentos para um dos maiores fabricantes de smartphones do mundo.
Surgem os primeiros impactos do coronavírus na economia. A Apple prevê repercussões ao nível da oferta e da procura. A gigante tecnológica referiu que as fábricas estão a retomar o trabalho mais lentamente do que seria esperado. A maioria das suas 42 lojas na China estão praticamente paradas, refletindo o relevante impacto do coronavírus na economia. É provável que a queda das vendas na China seja mais pronunciada no presente trimestre, enquanto que as interrupções na produção podem penalizar a receita global do iPhone, atualmente o produto com mais expressão na sua estratégia de vendas, nos meses seguintes.
Tim Cook, ao ingressar na empresa no final dos anos 90, transformou a cadeia de oferta da Apple num eficiente “buldózer” que tem sido, há muito tempo, a inveja da indústria de smartphones, “tablets” e computadores portáteis. Parte destes produtos são fabricados na China com mão-de-obra barata, mas qualificada e que já resolveu desafios de engenharia colocados pelos colegas dos EUA, e expedida para todo o mundo numa questão de dias. Contando com a Foxconn Technology de Taiwan para executar operações no terreno e o significativo investimento da China em transporte para garantir a logística, a Apple tornou-se numa empresa que vale mais de um trilião de dólares em bolsa. Responsável por milhões de empregos no país, obteve boa vontade do governo chinês para ter acesso ao seu mercado.
As gigantes de tecnologia norte-americanas, nomeadamente o Facebook e a Google, têm bastante dificuldade em entrar no hermético mercado chinês, em parte justificado por modelos de negócios diferentes, enquanto que a Apple consegue vender uma grande parte dos seus produtos no mercado chinês, e arrecada uma receita anual à volta dos 40 mil milhões de dólares por ano na China, 15% do total de vendas da empresa, só ultrapassado pelos EUA e pela Europa. Todavia, essa força é atualmente também uma fonte de vulnerabilidade para a Apple. Ainda existe stock suficiente de iPhone’s nas empresas de retalho, mas à medida que a produção vai diminuindo, seguir-se-á uma escassez em todo o mundo.
Porém, as pessoas que não comprarem agora, devido às restrições na circulação de pessoas na China, que impactam negativamente a procura e a oferta, no 2º semestre irão efetuar as suas aquisições.
Também se pressupõe que não haja um recrudescimento do surto do coronavírus, e, por isso, as previsões da Apple foram revistas em alta para a segunda metade do ano. A Apple, muito provavelmente, fará parte dos recuperados “infetados” pelo coronavírus…
Pelo caminho, prepara-se para lançar um novo iPhone de baixo custo em março, e, ainda no 1º semestre de 2020, modelos atualizados do iPad Pro, com um novo sistema de câmaras. Porém, o coronavírus ainda pode impor atrasos ou restrições nesses planos…
Paulo Rosa, In Vida Económica, 21 de fevereiro
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020
Empresas zombies ameaçam economia
As empresas "zombies" ganham apenas o dinheiro suficiente para
continuarem a laborar e pagar juros, mas são incapazes de pagar as suas
dívidas. Uma vez que apenas pagam despesas gerais (salários, rendas, juros),
tendem a ser incapazes de investir para estimular o crescimento. Não há
I&D, não há renovação do tecido empresarial, são barreiras à entrada de
muitas "startup". Foram mencionadas, pela primeira vez, no Japão
durante a "Década Perdida", em 1990. O suporte de vida das
"zombies" para preservar empregos é um cabal causador de
ineficiências económicas.
Uma subida significativa da inflação, apesar de não se vislumbrar nos próximos tempos mesmo com uma escalada moderada do preço do petróleo, será a principal razão, e talvez a única, que quebrará este ciclo vicioso da existência de "zombies", porque obrigaria os bancos centrais a subirem as suas taxas de juro de referência. Mesmo uma contração da economia dificilmente afastaria as empresas "zombies" do mercado, porque, apesar de estas não gerarem "cash flow" suficiente para honrar as suas dívidas, as baixas taxas de juro e a confiança que existe no financiamento das empresas "zombies", perante a salvaguarda última dos Bancos Centrais, suporta a continuação desta ineficiência. Uma quebra da fidúcia no mercado de crédito, quer no mercado monetário quer nas obrigações, levantaria problemas às empresas que necessitam de liquidez para refinanciar a sua dívida quando atinge a maturidade. Mas mesmo neste particular, os bancos centrais parecem estar bastante centrados na "subsidiação" destes negócios, como espelha a intervenção da FED em setembro do ano passado, quando se substituiu aos grandes bancos para financiar o mercado monetário, e fê-lo ativa e continuadamente até hoje, através do reinicio de um quarto "quantitative easing", não oficial, refletido no aumento do balanço da FED em 10%, sinalizando que estará sempre no mercado sempre que haja algum problema de liquidez e necessidades de financiamento. Em 2008, aquando da crise imobiliária, a FED só passou a intervir ativamente no mercado monetário depois da falência do Lehman Brothers, no dia 14 de setembro de 2008.
Atualmente, o mercado continua a comprar "high yield" de baixa qualidade e, consequentemente, a financiar estas empresas, denominadas de "zombies", com classificação de crédito bastante deteriorada, ao nível do "B" e abaixo, na casa dos "C", porque se sente respaldado pelas intervenções dos Bancos Centrais, apesar de estes apenas comprarem dívida de melhor qualidade, reduzindo o stock de dívida disponível para os investidores, que acabam por subir na escala de risco.
Existe uma divergência desta qualidade, com os bancos centrais a "financiarem indiretamente" empresas que não teriam qualquer viabilidade económica em outros contextos que não os atuais. O custo dos empréstimos permanece nos níveis mais baixos de sempre, mas a dívida aumenta a cada dia que passa. Na crise imobiliária de 2008 o financiamento à habitação fora concedido a pessoas que não o podiam pagar quando os preços das casas parassem de aumentar e as taxas de juros começassem a subir, e ascendia a 1,5 triliões de dólares. Atualmente, o montante das dívidas das empresas "zombies" já atingiu os cinco triliões de dólares.
Até agora, o dia do acerto de contas foi suspenso pela disposição dos Bancos Centrais de reduzirem os custos dos empréstimos para quase nada e de se envolverem num QE perpétuo. Mas essa estratégia não funciona "ad aetemum"... O que os bancos centrais vão fazer para impedir a próxima recessão? Atirar dinheiro de helicópteros, com a monetização direta da dívida, retirando toda a credibilidade das principais moedas mundiais, como o dólar e o euro?
Todavia, atualmente, não são apenas as "zombies" que preocupam, mas uma panóplia de ativos financeiros de qualidade duvidosa que se vão adensando, fruto desta política monetária energicamente expansionista dos bancos centrais dos países desenvolvidos, exceto Suécia e Noruega que subiram taxas, e que se debatem com a "japonização" das suas economias e tudo fazem para criarem inflação...
PAULO ROSA, In Vida Económica, 14 de fevereiro 2020
Economista Sénior do Banco Carregosa
Uma subida significativa da inflação, apesar de não se vislumbrar nos próximos tempos mesmo com uma escalada moderada do preço do petróleo, será a principal razão, e talvez a única, que quebrará este ciclo vicioso da existência de "zombies", porque obrigaria os bancos centrais a subirem as suas taxas de juro de referência. Mesmo uma contração da economia dificilmente afastaria as empresas "zombies" do mercado, porque, apesar de estas não gerarem "cash flow" suficiente para honrar as suas dívidas, as baixas taxas de juro e a confiança que existe no financiamento das empresas "zombies", perante a salvaguarda última dos Bancos Centrais, suporta a continuação desta ineficiência. Uma quebra da fidúcia no mercado de crédito, quer no mercado monetário quer nas obrigações, levantaria problemas às empresas que necessitam de liquidez para refinanciar a sua dívida quando atinge a maturidade. Mas mesmo neste particular, os bancos centrais parecem estar bastante centrados na "subsidiação" destes negócios, como espelha a intervenção da FED em setembro do ano passado, quando se substituiu aos grandes bancos para financiar o mercado monetário, e fê-lo ativa e continuadamente até hoje, através do reinicio de um quarto "quantitative easing", não oficial, refletido no aumento do balanço da FED em 10%, sinalizando que estará sempre no mercado sempre que haja algum problema de liquidez e necessidades de financiamento. Em 2008, aquando da crise imobiliária, a FED só passou a intervir ativamente no mercado monetário depois da falência do Lehman Brothers, no dia 14 de setembro de 2008.
Atualmente, o mercado continua a comprar "high yield" de baixa qualidade e, consequentemente, a financiar estas empresas, denominadas de "zombies", com classificação de crédito bastante deteriorada, ao nível do "B" e abaixo, na casa dos "C", porque se sente respaldado pelas intervenções dos Bancos Centrais, apesar de estes apenas comprarem dívida de melhor qualidade, reduzindo o stock de dívida disponível para os investidores, que acabam por subir na escala de risco.
Existe uma divergência desta qualidade, com os bancos centrais a "financiarem indiretamente" empresas que não teriam qualquer viabilidade económica em outros contextos que não os atuais. O custo dos empréstimos permanece nos níveis mais baixos de sempre, mas a dívida aumenta a cada dia que passa. Na crise imobiliária de 2008 o financiamento à habitação fora concedido a pessoas que não o podiam pagar quando os preços das casas parassem de aumentar e as taxas de juros começassem a subir, e ascendia a 1,5 triliões de dólares. Atualmente, o montante das dívidas das empresas "zombies" já atingiu os cinco triliões de dólares.
Até agora, o dia do acerto de contas foi suspenso pela disposição dos Bancos Centrais de reduzirem os custos dos empréstimos para quase nada e de se envolverem num QE perpétuo. Mas essa estratégia não funciona "ad aetemum"... O que os bancos centrais vão fazer para impedir a próxima recessão? Atirar dinheiro de helicópteros, com a monetização direta da dívida, retirando toda a credibilidade das principais moedas mundiais, como o dólar e o euro?
Todavia, atualmente, não são apenas as "zombies" que preocupam, mas uma panóplia de ativos financeiros de qualidade duvidosa que se vão adensando, fruto desta política monetária energicamente expansionista dos bancos centrais dos países desenvolvidos, exceto Suécia e Noruega que subiram taxas, e que se debatem com a "japonização" das suas economias e tudo fazem para criarem inflação...
PAULO ROSA, In Vida Económica, 14 de fevereiro 2020
Economista Sénior do Banco Carregosa
Bolsas renovam máximos históricos
Em semana de resultados na Europa, o coronavírus permanece no radar.
PAULO ROSA, In Vida Económica, 14 de fevereiro 2020
Na Europa, nomeadamente o DAX30 e o Stoxx 600, e nos EUA, o S&P500 e o Nasdaq 100, renovaram máximos históricos ainda que ligeiramente à medida que aumentava o otimismo de que a economia global pode recuperar do impacto do coronavírus, perante a diminuição da propagação da doença, em que a província chinesa de Hubei registou o menor número de novos vírus. Num clássico movimento, o petróleo recuperou e o Tesouro Soberano caiu. Os Hedge Funds reforçaram compras, apostando no cenário de estabilização do vírus. No entanto, o congresso mundial da indústria de telemóveis de 2020, em Barcelona, foi cancelado devido a receios do surto do coronavíras.
As subidas crescem a ritmos crescentes, com ênfase para o último trimestre do ano passado e mais vincadamente em 2020, com os principais índices a espelharem subidas cada vez mais exponenciais. O Nasdaq 100 está 20% acima da média móvel de 200 dias, tendo sido a última vez no final de 1999, início de 2000. Perante uma hipotética correção mais acentuada do mercado, os investidores podem procurar refúgio na renda fixa e nos metais preciosos, como o ouro. Porém, como referem alguns investidores de que "adivinhar máximos é proibido", o mais provável é que o mercado continue comprador, com as devidas cautelas, e não se devem cortar ganhos em detrimento do corte de perdas, sempre conscientes que "mais vale perder um ganho do que ganhar uma perda".
A Airbus apresentou resultados operacionais de 2,81 mil milhões de euros, no quarto trimestre, acimas das estimativas. Prevê um EBIT ajustado para 2020 em tomo dos 7,5 mil milhões de euros e antevê encomendas à volta de 880, quando eram esperadas 900. O CEO Guillaume Faury referiu que tiveram um forte desempenho financeiro, impulsionado principalmente pelas encomendas de aeronaves comerciais. A nível militar, as perspetivas do A400M são cada vez mais desafiadoras para as exportações, em parte devido à proibição repetidamente estendida das exportações alemãs para a Arábia Saudita, e que redundou num encargo de 1,2 mil milhões de euros no quarto trimestre de 2019. Como base para a orientação em 2020, a empresa assume que a economia mundial e o tráfego aéreo crescerão de acordo com as previsões, não prevendo grandes interrupções, apesar do coronavírus. O tarifário atual permanecerá inalterado.
Por cá, a papeleira Navigator reportou uma queda de 18% no seu cashflow operacional e o lucro cedeu 25% em relação ao período homólogo. Em 2019, houve uma significativa queda nos preços da pasta de papel e uma redução da procura de pasta e de papel. Uma revisão da estrutura com impacto nos custos fixos e variáveis que serão implementados a partir do segundo semestre e em 2021, redundaram numa queda expressiva da cotação e a administração defende uma redução dos dividendos.
PORTUGAL A NOS informou o mercado sobre a confirmação da notação de rating de crédito de longo prazo de "BBB-". O Commerzbank subiu a recomendação para a EDP Renováveis de "manter" para "comprar" com um preço aivo de 15 euros, contribuindo para a subida de cerca de 4% da acção para novos máximos históricos. A Galp referiu que assinou um acordo com a Nigéria para garantir o fornecimento de um milhão de toneladas por ano de GNL A Mota-Engil disse que António Ferreira de Oliveira apresentou sua renúncia ao conselho em 31 de janeiro e foi substituído por Emídio Pinheiro.
INTERNACIONAL
A receita do Commerzbank AG aumentou mais do que o esperado no quarto trimestre, a beneficiar do crescimento do crédito. A Nestlé quer acelerar o crescimento de um dígito em média em 2021 e 2022, apesar de ter apresentado receitas aquém das estimativas dos analistas devido a uma desaceleração do crescimento. A, Pernod Ricard SA, fabricante de Whisky Jameson e Gin Beefeater, cortou a previsão dos lucros para 2020 para o ano inteiro devido a um "impacto severo" esperado do coronavírus durante o terceiro trimestre, no seu ano fiscal.
CAMBIAL
REAL BRASILEIRO
O real encontra-se em mínimos históricos relativamente ao dólar, à medida que os juros que remuneram a divisa brasileira mantêm a trajetória de baixa. Pela primeira vez desde 2014, há mais investidores domésticos que estrangeiros na Bolsa de São Paulo, nomeadamente no principal índice, o Bovespa, 52% contra 48%. As pressões inflacionistas de outrora são cada vez menores no Brasil, com a inflação a situar-se nos 4,31% em 2019 e projeções condicionais de 3,7% para 2020 e 2021, permitindo ao Banco Central do Brasil reduzir as taxas de juro
PAULO ROSA, In Vida Económica, 14 de fevereiro 2020
Na Europa, nomeadamente o DAX30 e o Stoxx 600, e nos EUA, o S&P500 e o Nasdaq 100, renovaram máximos históricos ainda que ligeiramente à medida que aumentava o otimismo de que a economia global pode recuperar do impacto do coronavírus, perante a diminuição da propagação da doença, em que a província chinesa de Hubei registou o menor número de novos vírus. Num clássico movimento, o petróleo recuperou e o Tesouro Soberano caiu. Os Hedge Funds reforçaram compras, apostando no cenário de estabilização do vírus. No entanto, o congresso mundial da indústria de telemóveis de 2020, em Barcelona, foi cancelado devido a receios do surto do coronavíras.
As subidas crescem a ritmos crescentes, com ênfase para o último trimestre do ano passado e mais vincadamente em 2020, com os principais índices a espelharem subidas cada vez mais exponenciais. O Nasdaq 100 está 20% acima da média móvel de 200 dias, tendo sido a última vez no final de 1999, início de 2000. Perante uma hipotética correção mais acentuada do mercado, os investidores podem procurar refúgio na renda fixa e nos metais preciosos, como o ouro. Porém, como referem alguns investidores de que "adivinhar máximos é proibido", o mais provável é que o mercado continue comprador, com as devidas cautelas, e não se devem cortar ganhos em detrimento do corte de perdas, sempre conscientes que "mais vale perder um ganho do que ganhar uma perda".
A Airbus apresentou resultados operacionais de 2,81 mil milhões de euros, no quarto trimestre, acimas das estimativas. Prevê um EBIT ajustado para 2020 em tomo dos 7,5 mil milhões de euros e antevê encomendas à volta de 880, quando eram esperadas 900. O CEO Guillaume Faury referiu que tiveram um forte desempenho financeiro, impulsionado principalmente pelas encomendas de aeronaves comerciais. A nível militar, as perspetivas do A400M são cada vez mais desafiadoras para as exportações, em parte devido à proibição repetidamente estendida das exportações alemãs para a Arábia Saudita, e que redundou num encargo de 1,2 mil milhões de euros no quarto trimestre de 2019. Como base para a orientação em 2020, a empresa assume que a economia mundial e o tráfego aéreo crescerão de acordo com as previsões, não prevendo grandes interrupções, apesar do coronavírus. O tarifário atual permanecerá inalterado.
Por cá, a papeleira Navigator reportou uma queda de 18% no seu cashflow operacional e o lucro cedeu 25% em relação ao período homólogo. Em 2019, houve uma significativa queda nos preços da pasta de papel e uma redução da procura de pasta e de papel. Uma revisão da estrutura com impacto nos custos fixos e variáveis que serão implementados a partir do segundo semestre e em 2021, redundaram numa queda expressiva da cotação e a administração defende uma redução dos dividendos.
PORTUGAL A NOS informou o mercado sobre a confirmação da notação de rating de crédito de longo prazo de "BBB-". O Commerzbank subiu a recomendação para a EDP Renováveis de "manter" para "comprar" com um preço aivo de 15 euros, contribuindo para a subida de cerca de 4% da acção para novos máximos históricos. A Galp referiu que assinou um acordo com a Nigéria para garantir o fornecimento de um milhão de toneladas por ano de GNL A Mota-Engil disse que António Ferreira de Oliveira apresentou sua renúncia ao conselho em 31 de janeiro e foi substituído por Emídio Pinheiro.
INTERNACIONAL
A receita do Commerzbank AG aumentou mais do que o esperado no quarto trimestre, a beneficiar do crescimento do crédito. A Nestlé quer acelerar o crescimento de um dígito em média em 2021 e 2022, apesar de ter apresentado receitas aquém das estimativas dos analistas devido a uma desaceleração do crescimento. A, Pernod Ricard SA, fabricante de Whisky Jameson e Gin Beefeater, cortou a previsão dos lucros para 2020 para o ano inteiro devido a um "impacto severo" esperado do coronavírus durante o terceiro trimestre, no seu ano fiscal.
CAMBIAL
REAL BRASILEIRO
O real encontra-se em mínimos históricos relativamente ao dólar, à medida que os juros que remuneram a divisa brasileira mantêm a trajetória de baixa. Pela primeira vez desde 2014, há mais investidores domésticos que estrangeiros na Bolsa de São Paulo, nomeadamente no principal índice, o Bovespa, 52% contra 48%. As pressões inflacionistas de outrora são cada vez menores no Brasil, com a inflação a situar-se nos 4,31% em 2019 e projeções condicionais de 3,7% para 2020 e 2021, permitindo ao Banco Central do Brasil reduzir as taxas de juro
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- Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.