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terça-feira, 30 de março de 2021

A Bitcoin, os EUA e a China

Esta semana, na cimeira do BIS, Powell referiu que as criptomoedas continuam a ser uma reserva de valor instável, não são suportadas por nada e, essencialmente, são um substituto para o ouro, não para o dólar. Nos últimos anos, a Reserva Federal dos EUA (FED) tem trabalhado no seu próprio sistema de pagamentos que facilite a transferência mais rápida de dinheiro, trabalho que poderá ser divulgado nos próximos dois anos, no entanto, a FED não tem pressa em apresentar uma concorrente à bitcoin (BTC). Powell adiantou que o Congresso provavelmente teria que aprovar legislação adequada e precisaria da adesão do executivo Biden, antes que a FED pudesse prosseguir com a sua própria moeda digital. Mas há interesse em acelerar o processo quando Powell refere que a pandemia evidenciou a importância de desenvolver melhores sistemas de pagamentos para que o dinheiro chegue rapidamente aos mais necessitados.


O Banco Popular da China (PBoC) está a unir esforços num projeto de moeda digital transfronteiriça com os bancos centrais dos Emirados Árabes Unidos, Tailândia e Hong Kong através de uma tecnologia baseada num livro-razão partilhado, denominado de distributed ledger technology (DLT). O PBoC está mais à frente na corrida à CBDC, pelo menos na versão doméstica. Nos últimos meses, a China distribuiu montantes avultados de yuan digital através de lotarias em algumas cidades, como Shenzhen e Chengdu. Todavia, o objetivo estratégico de longo prazo chinês é a internacionalização do renminbi.

Powell dá a entender que a BTC é uma ameaça apenas para o ouro, mas, para os mais atentos, os EUA têm uma crescente concorrência do e-renminbi ao nível das CBDC. Antes da pandemia, em 2019, a maioria das projeções apontavam 2035 como o ano em que a economia chinesa superaria a norte-americana, mas, atualmente, grande parte dos estudos indicam que é já nesta década que a China alcançará a hegemonia global, e muitos estudos referem 2028, não só economicamente, mas também militarmente. Uma economia chinesa mais forte e mais influente a nível global serão os alicerces para uma nova moeda mundial: o e-renminbi, a grande ameaça para o e-dólar.

No entanto, e de acordo com o comportamento dos bancos centrais, a verdadeira ameaça às autoridades monetárias são as criptomoedas, caso contrário não se justificaria uma corrida às moedas digitais mercadoria suportadas pelos bancos centrais que tanto penalizam as convencionais moedas fiduciárias e o atual sistema de cedência de liquidez aos mercados.

Em boa verdade, moeda digital já existe há alguns anos e algumas pessoas utilizam quase exclusivamente no seu dia a dia o homebanking, NFC e pagamentos online, mas com suporte das moedas fiduciárias e em última instância do balanço do seu banco comercial, e uma salvaguarda dos depósitos à ordem até 100.000 euros. As CBDC serão suportadas pelos balanços dos bancos centrais e a Bitcoin é garantida pela fidúcia nos seus algoritmos.

O Fórum Económico Mundial refere que 32% dos nigerianos possuem BTC para pagamentos ponto a ponto. Na Rússia, e Bielorrússia, a utilização da BTC é crescente.
A Universidade de Cambridge estima que o consumo anual de eletricidade da rede BTC é de 130 TW/H, quase o triplo de Portugal, e revelou que 39% da energia consumida pelas criptomoedas vem de fontes renováveis, em 2019 eram 28%. A pegada ambiental e o consumo de energia do ouro é superior à BTC. Todavia, a segurança da BTC depende dos “nós completos”  e está cada vez mais centralizada. Os mineradores são “nós completos” que adicionam blocos à rede, os validam e são remunerados, e se não existir incentivo aos mineradores não há validação de transações e a BTC nada vale. Os restantes “nós completos” que validam e verificam todas as transações não são remunerados. Também futuros computadores quânticos podem facilmente entrar na segurança do algoritmo criptográfico, o ECDSA, utilizado pela BTC. Os desenvolvedores têm alguma influência na comunidade BTC e capacidade de modificar o protocolo… Atualmente, Powell tem razão, a BTC é um ativo altamente especulativo.

Paulo Monteiro Rosa, 26 de março de 2021, In Vida Económica



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.