Recentemente, a inflação regressou à mente dos investidores e alguns questionam-se como devem posicionar as suas carteiras para enfrentarem este potencial fenómeno de subida dos preços, ainda que temporariamente, como é atualmente esperado. Neste momento, há uma série de pressões inflacionistas que os investidores devem monitorizar.
O Presidente da
Reserva Federal dos EUA (FED), Jerome Powell, tem minimizado as preocupações
relativas à inflação, e refere mesmo que “os preços permanecem particularmente
baixos”, mesmo para os setores que foram mais fortemente atingidos pela
pandemia. Powell está correto. Quando medimos a inflação pelo indicador mais
utilizado pelo Governo norte-americano, o índice de preços no consumidor (IPC),
os preços subiram apenas 1,4% em janeiro, em termos anualizados, bem abaixo do
objetivo da FED para a estabilidade de preços de 2%. Nos últimos 10 anos, a
leitura mensal do IPC foi em média de 1,7%. Mesmo o indicador privilegiado pela
FED para aferição da inflação, o PCE (despesas de consumo pessoal),
nomeadamente o core, foi de 1,5%, ano a ano, em janeiro.
No entanto, há muitos
preços que estão a aumentar a nível mundial, designadamente as commodities
agrícolas, os metais industriais e o petróleo. De acordo com o índice de Preços
de Alimentos da FAO, das Nações Unidas, o cabaz das commodities alimentares
subiu pelo oitavo mês consecutivo em janeiro e registou a maior média mensal
desde julho de 2014.
O aumento dos preços
dos alimentos é, em grande parte, justificado pela considerável subida dos
custos dos transportes internacionais. As sucessivas e crescentes interrupções
nas cadeias de abastecimentos, quer pela falta de contentores quer pelo
crescente congestionamento portuário, aumentaram o custo de envio de um
contentor de 12 metros para mais de 4000 dólares, em comparação com os 1500
dólares há um ano. As taxas de frete do Extremo Oriente (China, Indochina e
Japão) para a Europa foram as que mais subiram, em alguns casos cerca de 10 a
15 vezes. Todavia, estas pressões inflacionistas são estritamente riscos de
curto prazo e muito pouco prováveis de persistirem durante um longo período de
tempo. O mercado tende a reequilibrar-se, e a manutenção destes fretes nos
atuais níveis incentiva as empresas a aumentarem o número de contentores ou a
entrada de novas empresas no mercado.
Porém, o pacote de
estímulos governamentais norte-americano de 1,9 biliões de dólares, de Joe
Biden, é o segundo significativo incentivo nos últimos 12 meses, e não inclui
os 900 mil milhões de dólares do final de dezembro de 2020. Estes estímulos
podem empurrar o crescimento do PIB nos EUA, este ano, para níveis de há 40
anos, cerca de 7,5%, de acordo com os economistas Libby Cantrill e Tiffany
Wilding da PIMCO. O GDPNow da Reserva Federal de Atlanta estima atualmente uma
subida de 10% do PIB no primeiro trimestre. Poderemos ver inflação idêntica à da
década de 1970? Dificilmente, em parte devido ao menor peso dos salários no
PIB, ao excesso de capacidade, à crescente globalização e à entrada da China no
comércio global. Todavia, provavelmente, a meta dos 2% da FED pode ser
facilmente ultrapassada, mas a autoridade monetária norte-americana já o
referiu, em agosto do ano passado, que pretende alcançar níveis de emprego mais
elevados, nem que a inflação exceda temporariamente os 2%. Este ano, a nova
secretária do tesouro, Janet Yellen, divulgou a intenção de alcançar o pleno
emprego em 2022 e a FED está consciente, há mais de um mês, de uma subida dos
preços na primavera.
Por fim, há a pretensão da subida do salário mínimo para 15 dólares/hora. Num estudo de 2017 realizado por economistas da FED de Boston, a um aumento de 10% no salário mínimo está associada uma taxa de inflação geral de 8 pontos base mais alta. Analogamente, baseados nas métricas do estudo da FED de Boston, a atual intenção de duplicar o salário mínimo aumentaria em 0,8 pontos percentuais a inflação.
PAULO ROSA Economista Sénior do Banco Carregosa 5 de março de 2021 Vida Económica
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