Desde 2012, a Reserva Federal dos EUA (Fed) publica um gráfico conhecido como ‘dot
plot’ que mapeia as expetativas dos 18 membros do banco central dos EUA quanto
à evolução futura das taxas de juro. Cada ponto corresponde a um membro e é
anónimo. O gráfico de pontos é mais um guia para os mercados financeiros e procura
mitigar surpresas sobre a evolução futura da política monetária da Fed. Quatro
vezes por ano (março, junho, setembro e dezembro), o Comité Federal de Mercado
Aberto (FOMC) publica um resumo de projeções económicas, como PIB, inflação e
desemprego, bem como um gráfico de pontos que mostra as expetativas de cada
membro quanto à evolução das taxas de juro nos próximos três anos e no longo
prazo. No ‘dot plot’, os pontos médios tendem a receber mais atenção, uma vez
que representam o caminho mais central possível para a evolução da política
monetária.
No rescaldo da crise financeira de 2008, a Fed reduziu as taxas de juros para
quase zero e comprou biliões de dólares em títulos do tesouro dos EUA e títulos
garantidos por hipotecas (MBS). A política monetária energicamente
expansionista espelhada na adoção sem precedentes de medidas não convencionais
(QE – ‘Quantitative Easing’) deixou os mercados sem saber quando a Fed voltaria
a aumentar as taxas de juros. Como ferramenta de auxílio e orientação para os
mercados na perceção dos próximos movimentos da Fed, o então presidente, Ben
Bernanke, introduziu o gráfico de pontos.
A publicação trimestral do diagrama de ‘dot plot’ é muito relevante nos
primeiros dias, como qualquer outro dado, mas perde gradualmente interesse até
à próxima divulgação. O jornal de hoje poderá ser o embrulho das castanhas
amanhã. Entretanto, os dados macroeconómicos que vão sendo divulgados fornecem
uma atualização ‘implícita’ do ‘dot plot’. No entanto, a evolução dos mercados
financeiros e das taxas de juro de curto e longo prazo são os principais
‘leading indicators’ para aferir o desenvolvimento do gráfico de pontos na mente
de cada membro da Fed. Uma das melhores maneiras para saber se há uma potencial
surpresa no próximo lançamento do gráfico de pontos é observar o mercado nas
duas semanas anteriores à reunião do FOMC e conhecer as perspetivas das
principais casas de investimento.
Nos prazos mais longos (10 e 30 anos), as taxas de juro de longo prazo
norte-americanas caem desde a reunião da Fed nos dias 16 e 17 de março e esta
diminuição da inclinação da curva de rendimentos nos EUA acentuou-se um pouco
mais após a reunião da Fed na semana passada, refletida na subida dos
rendimentos a 2 anos perante a antecipação do aumento de juros para 2023. Ou
seja, os mercados antecipam uma desaceleração dos atuais níveis de robusto
crescimento económico e esperam um abrandamento na subida da inflação que tem
sido excecionalmente impactada pelos efeitos de base. Todavia, se os
‘bottlenecks’ da oferta permanecerem a inflação poderá persistir elevada em
2022. Provavelmente, uma retirada mais cedo dos estímulos da Fed poderia adiar
a subida de taxas, mas redundar também numa desaceleração económica acentuada
(‘hard landing’). A Fed tem a difícil missão de manter o equilíbrio no fio da
navalha entre pleno emprego e estabilidade de preços.
Na semana passada, Powell minimizou as previsões de aumento das taxas de juro e
reiterou a postura acomodatícia, referindo que algumas das dinâmicas associadas
à reabertura da economia estão a aumentar a possibilidade de que a inflação
possa ser mais alta e mais persistente do que antecipada, mas reforçou a ideia
de que a subida dos pontos no ‘dot plot’ é uma boa, não uma má notícia. Powell assinalou
que é bom ver as expetativas de inflação de longo prazo regressarem para um
intervalo consistente com os objetivos da Fed, após os níveis deprimidos na
primavera do ano passado, aquando do confinamento global ditado pelo início da
pandemia. Powell espera que as leituras elevadas da inflação comecem a diminuir
e mencionou a cotação da madeira serrada que quadruplicou de preço entre maio
de 2020 e maio de 2021, mas no último mês e meio desvalorizou quase 50%.
Segundo Powell, os preços mais elevados são um incentivo para as empresas
aumentarem a oferta e para os consumidores procurarem bens e serviços
alternativos.
Paulo Monteiro Rosa, In Vida Económica, 25 de junho 2021
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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sexta-feira, 25 de junho de 2021
Gráfico de pontos da Fed
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