Historicamente,
dezembro é o mês com melhor desempenho do índice acionista norte-americano
S&P 500 no período de 1950 a 2017 e setembro é o pior mês do ano. Março,
abril, novembro e dezembro apresentam uma ‘performance’ acima de 1% e, apesar
do conhecido ‘efeito janeiro’, o primeiro mês do ano tem um comportamento
mediano. O mês de junho tradicionalmente é negativo, mas muito ligeiramente, e
marca o início do período do ano com pior desempenho em termos históricos. O
velho adágio bolsista “Sell in May and go away” (“Vender em maio e ir de
férias” até ao final do verão) é corroborado pela história estatística dos
desempenhos mensais e o próprio mês de maio em média tem um retorno apenas de
0,22% a indiciar um abrandamento dos ganhos acionistas e entrada no período
mais fraco do ano. Neste período de quatro meses, apenas julho é
estatisticamente positivo, provavelmente a beneficiar da divulgação dos
resultados empresariais referentes ao segundo trimestre.
Após os ganhos
verificados nos primeiros cinco meses do ano, historicamente o mercado tende a
consolidar durante o verão para retomar as subidas no último trimestre do ano.
A menor liquidez no verão poderá justificar a ‘performance’ negativa neste
período. De realçar que em agosto muitos ‘traders’ institucionais vão de férias
e o volume de negociação neste mês é o mais baixo do ano, seguido pelo pior mês
do ano, setembro. São várias as teorias explicativas para o desempenho
tendencialmente negativo de setembro, desde as despesas escolares adicionais
com o regresso às aulas, as alterações nas carteiras no final do verão e o
facto de muito fundos mútuos terem exercícios fiscais que terminam em setembro,
e normalmente os gestores vendem posições perdedoras antes do final do ano
fiscal, neste caso o terceiro trimestre.
Este ano, junho, e o período de verão, têm talvez pela frente uma tarefa árdua
e muito desafiadora depois dos sucessivos máximos históricos alcançados pelas
praças norte-americanas e europeias desde o início do ano, e revalidados em
maio, e diante de quatro meses consecutivos de ganhos nos principais mercados
acionistas. Não é fácil fazer melhor. Os dados referentes à inflação de preços
irão marcar a agenda do Banco Central Europeu na reunião do dia 10 de junho e
da Reserva Federal dos EUA (FED) nos dias 15 e 16 de junho. Apesar destes
bancos centrais afirmarem que a inflação é temporária, os investidores temem o
início das conversações para uma gradual redução das compras de ativos,
nomeadamente pela FED, que impulsionem as taxas de juro de longo prazo e
penalizem a evolução dos mercados acionistas.
Os efeitos de base vão continuar
a pressionar os números da inflação medidos pelo IPP, IPC e PCE e a inflação de
custos, mais ao nível da alta dos preços das matérias-primas e não tanto ao
nível salarial, bem como a inflação da procura devido aos ‘bottlenecks’ da
oferta, irão continuar a ser terreno fértil para a subida dos preços. O ano
passado, o aumento da oferta monetária foi compensado pela forte subida da
procura de moeda, mas este ano a pouca procura de moeda, os constrangimentos na
oferta e uma maior procura de bens e serviços pelas famílias e empresas
pressionam a inflação. Todavia, este período provavelmente só será negativo se
os rendimentos do tesouro norte-americano a 10 anos aumentarem
significativamente e ultrapassarem os máximos anteriores do início do ano de
1,77%.
Paulo Rosa, VE 4 de junho de 2021
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