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sexta-feira, 18 de junho de 2021

Mais tecnologia, mais emprego

A falácia do “mercado de trabalho estático” é a suposição de que há uma quantidade fixa de trabalho na economia e que os empregos podem ser perdidos para a automação impulsionada pelos avanços tecnológicos ou tomados pela imigração. Na realidade, se a falácia fosse verdadeira, não haveria criação de empregos, apenas a sua redistribuição, e a humanidade estaria ainda na pré-história. Apesar dos habituais altos e baixos espelhados nas expansões e nas recessões económicas, estas mais curtas, a economia cresce gradualmente e o “bolo” económico não é fixo, mas crescente, e necessita de mais trabalhadores e cada vez mais qualificados. O rácio entre trabalho indiferenciado e trabalho qualificado é tendencialmente decrescente ao longo da História. Mesmo a perda de empregos num determinado setor pode sustentar o crescimento noutros setores e os empregos perdidos para a crescente automação da economia não diminuem necessariamente o número total de empregos. 

A mão de obra é um recurso económico valioso, e escasso, e numa economia dinâmica, a perda de empregos numa indústria em declínio liberta recursos de mão de obra para outras indústrias em crescimento. Há cem anos a agricultura empregava a maior parte dos trabalhadores, no entanto a mecanização deste setor não redundou em desemprego elevado, recessão económica ou diminuição do nível de vida, bem pelo contrário, as últimas décadas foram de uma significativa melhoria do nível de vida, bem-estar económico e aumento considerável da longevidade.

A automação pode ser um substituto para o trabalhador humano, mas também pode ser um complemento - usado em conjunto - com o trabalho. Um substituto nos setores de mão de obra intensiva e um complemento nas empresas tecnológicas de forte crescimento e de capital intensivo. As máquinas substituem o homem nas tarefas mais básicas (as calculadoras poupam mão de obra nos cálculos de uma mercearia), nas tarefas mais árduas (as máquinas substituem o homem na construção de barragens), mas são atualmente um complemento na realização de projetos de arquitetura e engenharia, na segurança, no ensino e no conhecimento, na medicina e na saúde, e na conquista espacial.

Os desejos humanos são infinitos e muitas vezes impulsionados pela curiosidade e pelo empreendedorismo. Na verdade, muitos dos bens em que gastamos atualmente o nosso dinheiro não existiam há um século ou mesmo há algumas décadas. E muitas das indústrias em que muitas pessoas trabalham hoje não existiam há um século. A necessidade e a curiosidade impulsionam a inovação tecnológica e a atual quarta revolução industrial que presenciamos, acelerada pela pandemia, destruirá muitos dos atuais empregos, mas criará muitos mais postos de trabalho, a maior parte atualmente desconhecidos, e trará mais lazer e bem estar.

As economias crescem à medida que os recursos produtivos (trabalho e capital) são adicionados. As economias crescem quando a produtividade aumenta. Imaginemos uma fábrica de sapatos que emprega 10 pessoas e cada uma produz 10 pares de sapatos. Se a empresa contratar mais um trabalhador, mas mantiver o mesmo capital, o novo funcionário provavelmente produzirá menos de 10 sapatos. Mantendo constante o capital, a produtividade marginal do trabalho é decrescente e poderá implicar uma redução dos salários reais. Todavia, se a empresa aumentar o número de máquinas ou a sua automação, o fator capital aumentará e o fator trabalho, agora mais escasso, será mais valorizado e os salários reais sobem. Em suma, mais tecnologia é sinónimo de mais emprego e melhor remunerado.

A entrada no mercado laboral dos jovens e a imigração também substituem ou complementam, tal como a tecnologia, e não retiram alguma coisa ao “bolo” económico, porque este não é estático, mas crescente e tanto mais crescente quanto mais tecnologia e mais imigração incorporar, dentro do contexto sociocultural de cada país, e são ambas variáveis deflacionistas que contribuem para a descida dos preços dos bens e serviços. Como a imigração aumenta o número de trabalhadores, isso implica aumento do investimento e do fator capital por parte das empresas, sob pena de gerar descida dos salários reais.
  

Paulo Monteiro Rosa, In Vida Económica, 18 de junho de 2021



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.