Alguns economistas defendem um regresso a uma moeda-mercadoria, uma moeda
finita e deflacionista como o padrão ouro ou adoção de criptomoedas como o
bitcoin. Outros economistas são apologistas da moeda fiduciária. Esta última
proporciona políticas monetárias energicamente expansionistas que poderão
desencadear fenómenos inflacionistas graves em países sem estruturas
económicas, sem aparelhos produtivos robustos e suportados pelos avanços
tecnológicos, marcados pelas agendas eleitorais e alternâncias políticas
contínuas, onde por vezes persistem moedas fracas, défices gémeos, ao nível
orçamental e comercial, que redundam num aumento significativo do ‘imposto
inflacionário’ e, consequentemente, numa queda considerável do nível de vida.
Mesmo nas economias mais avançadas como a norte-americana, europeia, japonesa
ou chinesa um nível de inflação indesejável ativaria o ‘imposto inflacionário’
através de um aumento das taxas de juro, recessão económica e queda geral do
bem estar. Todavia, numa situação de crise económica a maior parte dos
aforradores e bancos com maior liquidez têm receio em emprestar, e,
consequentemente, o mercado monetário deixa de funcionar, as empresas ficam sem
liquidez para pagar salários e fornecedores, e a atividade económica colapsa.
Num sistema de moeda-mercadoria os bancos centrais não podem criar moeda, mas
podem fazê-lo com moeda fiduciária através da criação e impressão de nova moeda
para financiar as empresas e as famílias e permitir que a economia regresse ao
crescimento. Espera-se que o provável aparecimento do ‘imposto inflacionário’
seja compensado pelo regresso da atividade, evitando falências e entropia
financeira. Alguns dirão, muitas vezes com razão, que a crise foi espoletada
por uma política monetária expansionista iniciada anos antes pelo próprio
sistema de moeda fiduciária.
Mas se a inflação é negativa para os aforradores, poderá ser bem vista pelos
devedores desde que os seus investimentos consigam suportar os acréscimos de
juros. Um endividamento responsável poderá desempenhar um papel relevante na
atividade económica. Uma dívida obriga a mais trabalho para a honrar e saldar o
compromisso. Mais trabalho, nomeadamente com acréscimo de produtividade, é
sinónimo de crescimento económico e mais bem estar. Aforro sem empréstimo pode
ser um entrave ao financiamento de um bom projeto.
Keynes defendia os empréstimos, a criação de moeda e os gastos públicos para
solucionar uma crise financeira e repudiava a lei de Say e os aforradores,
principalmente os renitentes em emprestar. Keynes é um homem do curto prazo. No
longo prazo nada podemos comprar sem primeiro termos algo para trocar, desde
trabalho a um bem produzido, tal como refere Say.
Há também um debate secular entre defensores e opositores de um salário mínimo.
Os apologistas referem que o salário mínimo aumenta o padrão de vida dos
trabalhadores, reduz a pobreza e a desigualdade, aumenta a eficiência salarial,
incentiva os trabalhadores e aumenta o bem estar económico. Todavia, os seus
adversários fundamentam que qualquer salário mínimo desencoraja as empresas a
contratar mais trabalhadores, aumenta o desemprego, reduz o crescimento
económico e a riqueza, aumenta os preços e diminuiu o bem estar económico. A
grande maioria dos países tem salário mínimo. No entanto, os países escandinavos,
a Áustria e a Suíça não têm um salário mínimo imposto pelo governo, mas têm
níveis salariais elevados, índices de Gini baixos e pleno emprego na Suíça e na
Noruega. A Suécia tem um nível de desemprego médio de 8% há 30 anos e o
desemprego na Dinamarca e na Áustria ronda os 5%. Mas estes países contam com
filiações sindicais extremamente robustas que negoceiam diferentes salários
mínimos por indústria e por setor, além de serem países com enérgicos estados
sociais e maturidades cívicas.
Países com salários mínimos baixos atraem capitais para indústrias de
mão-de-obra intensiva, indiferenciada e pouco qualificada, gerando
provavelmente círculos viciosos e entraves à renovação do tecido industrial. Normalmente,
países com salário mínimo elevado são intensivos em capital. Um nível salarial mais
elevado poderá estimular a renovação do tecido empresarial. Ou seja, elevados
níveis de qualificação, conhecimento e escolaridade da população, aliados a um
significativo grau de liberdade económica, ditam sempre um nível mais elevado
de bem estar económico, independentemente de existir ou não salário mínimo.
Paulo Monteiro Rosa, 11 de junho 2021, Vida Económica
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
Since December 25th, 2010
Translate
sexta-feira, 11 de junho de 2021
“Paralaxe” da Economia!?
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Páginas do Blog "Omnia Economicus"
Arquivo do blogue
Seguidores
Economista
- Paulo Monteiro Rosa
- Naturalidade Angolana
- Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
Sem comentários:
Enviar um comentário