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sexta-feira, 25 de junho de 2021

A inflação chegou…

Nos EUA, a inflação de preços no consumidor medida pelo IPC subiu 4,2% em abril, relativamente ao mês homólogo do ano passado, o valor mais elevado desde setembro de 2008 (4,9%). Os efeitos de base, a vacinação da população e a reabertura da economia justificam grande parte desta subida.


Atualmente, as quatro forças que influenciam a evolução dos preços estão todas alinhadas no sentido inflacionista. Há mais oferta de moeda, menos procura de moeda, mais procura de bens e serviços e menos oferta de bens e serviços.
A oferta monetária da Reserva Federal dos EUA (FED) cresce desde setembro de 2019, mais acentuadamente a partir de março do ano passado para mitigar a crise ditada pela pandemia e consequente confinamento. A procura de moeda tem diminuído gradualmente justificada pela menor preferência por liquidez e pela maior confiança dos agentes económicos na forte retoma económica. A procura de bens e serviços intensifica-se a cada dia que passa impulsionada pelos consideráveis estímulos orçamentais do governo norte-americano e pelo aumento e acumulação de poupança nos últimos 12 meses. A oferta de bens e serviços tem sido penalizada pelos ‘bottlenecks’ habituais no início de um novo ciclo económico, espelhados no aumento dos preços das matérias-primas, dos metais industriais e dos produtos agrícolas e perante a escassez de mão de obra qualificada e dificuldades acrescidas na contratação de trabalhadores devido aos subsídios de desemprego estabelecidos pelo governo. Os aumentos dos preços dos ‘inputs’ podem redundar em potenciais subidas da inflação de preços no consumidor se as empresas conseguirem facilmente repercutir esses aumentos nos seus produtos finais.  

A inflação chegou na primavera, tal como era esperada. A pergunta é se é apenas temporária ou mais persistente e se redundará em inflação indesejável…

Na passada sexta-feira, e de acordo com o relatório de emprego de abril, os postos de trabalho criados na economia norte-americana, excetuando os agrícolas, foram apenas um quarto do que se esperava e a taxa de desemprego subiu pela primeira vez após 11 meses consecutivos de queda. Estes números foram vistos inicialmente como um abrandamento económico, mas podem ser também interpretados como dificuldades das empresas em recrutarem trabalhadores. Esta segunda hipótese ganhou maior evidência com a subida das vagas de empregos das empresas para níveis históricos, acima de 8 milhões em março, de acordo com o JOLTS (Job Openings and Labor Turnover). Também a Federação Nacional das Empresas Independentes (NFIB) destacou a rigidez estrutural do mercado de trabalho que pode durar vários meses. A NFIB elabora um levantamento do setor de pequenas empresas, responsável por metade dos empregos nos EUA. Muitos empregadores referiram que alguns entrevistados recusaram o emprego porque usufruíam de um subsídio de desemprego de 300 dólares semanais até setembro ou precisavam de cuidar dos filhos até à reabertura das creches no mesmo mês. Alguns potenciais colaboradores não detinham as qualificações pretendidas e outros passaram a investidores profissionais alicerçados na forte subida dos mercados financeiros. Há empresas que aumentaram o salário hora em 20% ou 30% e alguns empregadores pretendem ir mais além nos aumentos salariais para colmatarem a escassez de mão de obra e, quiçá, repercutir esses custos nos seus preços finais impulsionando a inflação.
No período que medeia uma recessão económica e a recuperação, a NAIRU, a taxa de desemprego que não acelera a inflação, tende a subir, em parte pelos motivos acima mencionados, e atualmente os 6,1% podem estar perto da aceleração da inflação. Uma descida da NAIRU, ou taxa de desemprego natural, para níveis entre os 5% e os 6% podem acelerar a inflação. Aquando de uma crise económica os estabilizadores automáticos são ativados, mesmo na flexível economia norte-americana, e todas as garantias de emprego e subsídios podem impulsionar a NAIRU, ser um entrave à contratação de trabalhadores e impulsionar a inflação. Estará de volta a ‘Old School’ da curva de Phillips? Deveria a FED repensar a política monetária energicamente expansionista e iniciar o ‘tapering’ da compras de ativos mais cedo do que o previsto?

Paulo Monteiro Rosa,  In Vida Económica, 14 de maio 2021



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