O Nasdaq registou máximo histórico impulsionado pelo otimismo em torno de uma rápida recuperação económica, apesar do discurso pouco favorável da Reserva Federal dos EUA
Cada vez mais confiante na recuperação da economia dos EUA, a Fed reviu em alta
o crescimento económico para 7%, antecipou a subida de juros para 2023, de
acordo com o diagrama ‘dot plot’, e iniciou o debate para a redução do
‘Quantitative Easing’. Analistas, tais como o ING, já esperavam uma antecipação
para 2023 do início da primeira subida de taxas. O último diagrama ‘dot plot’
da Fed em março espelhava uma subida apenas em 2024. Todavia, era quase unânime
nos mercados um início da discursão sobre a redução das compras mensais de
ativos de 120 mil milhões de dólares apenas no final de agosto aquando do Jackson
Hole da Fed.
A maioria dos membros da Fed espera que até o final de 2023 pelo menos dois
cortes de um quarto de ponto e oito dos 18 mesmo veem pelo menos três aumentos
nas taxas até então. Após a crise financeira e a ‘Grande Recessão’ de
2007-2009, passaram-se dois anos completos desde o anúncio formal, em dezembro
de 2013, da redução da compra de títulos até o primeiro aumento de taxa de
juros. A redução ocorreu em 10 meses e deixou uma economia ainda instável durante
mais de um ano a ‘digerir’ os custos de empréstimos mais altos. Foi mais um ano
completo entre a primeira e a segunda subida das taxas. Desta vez, é mais
provável que a Fed inicie a redução em janeiro, de acordo com uma pesquisa da
Reuters, e os aumentos nas taxas também devem surgir mais rapidamente.
Contudo, a alteração mais cedo ou mais tarde da política monetária da Fed dependerá
sempre da evolução da inflação. Os efeitos de base têm pressionado os preços
nos últimos meses, mas em breve acabarão. A procura de bens e serviços mantém-se
estável, a oferta de moeda estará controlada com o início do ‘tapering’ e a
procura de moeda mantém-se elevada, mas estável. A pressão neste momento parece
ser maior do lado da oferta de bens e serviços, apesar da existência de excesso
de capacidade instalada, há neste momento aumento de preços dos ‘inputs’, desde as matérias-primas aos
salários, e escassez de alguns componentes, chips e mão de obra. Todavia, o
final dos apoios do governo ao desemprego pandémico e a reabertura das creches
em setembro deverão impulsionar o regresso ao trabalho de muitos americanos,
nessa altura já menos receosos devido aos progressos da vacinações, e
normalizar os salários nos EUA. Atualmente, as vagas de emprego ultrapassam o
número de pessoas desempregadas. No entanto, a escassez de componentes e
matérias-primas, os preços mais elevados e paragens na produção podem gerar
constrangimentos na cadeia de abastecimento e influenciar a evolução da
inflação no segundo semestre de 2021 e em 2022.
A postura mais ‘hawkish’ da Fed poderá impulsionar o dólar, os rendimentos do
tesouro dos EUA e aumentar a volatilidade dos mercados acionistas. Penalizar o
ouro e as obrigações mais suscetíveis ao risco de taxa de juro. No entanto, o
crescimento económico poderá suportar as ações cíclicas e as obrigações de
maior risco, o High Yield, porque neste momento o risco de crédito está
em mínimos dos últimos 10 anos. A banca poderá ser beneficiada pela subida das
margens. Os investidores esperariam que as tecnológicas fossem penalizadas pela
subida de taxas, mas o Nasdaq seguia impulsionado em máximos históricos pela Nvidia,
após revisão em alta de recomendação pela Jefferies, e pelas ‘big tech’.
Petróleo
Os investidores estão confiantes num aumento da procura por petróleo, à medida
que as restrições ditadas pela pandemia começam a diminuir consideravelmente em
todo o mundo e os programas de vacinação contra o coronavírus continuam
acelerados. Há uma crescente expetativa de rápida recuperação da procura no
segundo semestre de 2021 e do seu regresso aos níveis anteriores à pandemia no
segundo semestre de 2022, caso a OPEP + mantenha a disciplina de abastecimento,
mesmo com a entrada do crude iraniano, de acordo com o CEO da Vitol, Russell
Hardy. O petróleo americano (WTI) cotou esta semana perto dos 73 dólares por
barril e atingiu o valor mais elevado desde outubro de 2018. O Brent cotou esta
semana no valor mais alto desde abril de 2019 e muito dos 75 dólares por barril
que seria um valor de outubro de 2018.
EUR/USD
O diagrama de ‘dot plot’ da Fed mostrou que uma maioria de 11 dos 18 membros da
Fed antecipa pelo menos dois aumentos de taxas de juro de um quarto de ponto
percentual em 2023, o anterior diagrama era de março e antecipava subida de
taxas de juro apenas em 2024. A Fed aumentou a perspetiva de crescimento
económico para 7% e referiu também que deu início ao debate sobre quando e como
pode ser apropriado começar a reduzir o programa mensal de compra de títulos do
banco central dos EUA no valor de 120 mil milhões de dólares (80 mil milhões de
dívida soberana e 40 mil milhões de títulos garantidos por hipotecas). Estes fatores
impulsionaram as taxas de juro de longo prazo e o dólar valorizou quase 2% face
ao euro.
Empresas EUA
A procura de serviço em nuvem ajuda a Oracle a superar as expetativas de lucro
e receita. A plataforma em nuvem da Oracle, que concorre com a Microsoft Azure
e Amazon Web Services, beneficiou das empresas que optaram por modelos de
trabalho híbrido. A Oracle configura mais data centers para auxiliar as
empresas à medida que expandem as operações, ajudando a fortalecer as ofertas
de nuvem e agregar clientes.
A construtora Lennar registou lucro trimestral melhor do que o esperado
impulsionado pelos preços das casas mais elevados. A oferta de novas casas
continua escassa e impulsiona os preços. A pandemia alimentou a procura de
casas espaçosas e mais caras, mas a escassez de mão de obra e matérias primas penaliza
a capacidade das construtoras de aumentar a construção de novas moradias.
Paulo Monteiro Rosa, 18 de junho de 2021, In Jornal Económico
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